Segunda-feira, 25 de maio de 2009 - 17h32
Livro de Montezuma Cruz resgata história do Pontal do Paranapanema
Só mesmo quem sentiu o pó daqueles estradões de terra batida, ouviu o berro da vaca à procura do bezerro ou aspirou fumaça da quase eterna chama da lamparina pode escrever um livro assim. Monte viveu tudo isso com seus olhos de leitor (da natureza).
O jornalista e escritor Jota Oliveira disse no prefácio: ler Aconteceu no Pontal é abrir os arquivos da memória, onde estão depositados fatos e pessoas que repercutiram em nossas vidas. É uma gostosa viagem pelo tempo
Segundo o autor, Aconteceu no Pontal não teve a pretensão de ser a palavra final a respeito da região, mas corrige alguns equívocos históricos, especialmente na luta pela posse da terra. Montezuma está revendo textos anteriormente publicados na Agência Amazônia de Notícias para escrever o próximo livro. “Se eu tiver o privilégio de viver mais um tempo e o dinheiro não fizer falta no leite dos netinhos, vou presentear Rondônia com registros da disputa pela terra, 30 anos atrás, no velho Território Federal, depois no Estado e, obviamente, na Amazônia”, disse. Rápida entrevista com o Monte:
Montezuma – Sim, e apenas naquela cidade, embora tenha enviado alguns exemplares solicitados pela internet. O livro foi um resgate, um reencontro com as pessoas. Lá estavam, no Plenário da Câmara de Vereadores, amigos, professores, jogadores de futebol dos anos 1960, o prefeito José Ademir Infante Gutierrez, vereadores, secretários, ex-prefeitos e parentes meus. Algumas pessoas eu não via há 10, 20, 30 e até 40 anos! Tiveram que ter paciência, porque, cada autógrafo me exigiu um pedacinho a mais de história. Emocionei-me e me senti no direito e no dever de distinguir a cada um que foi me prestigiar. Manifestei àquela gente um pouco do sentimento e da alegria que me tomavam. Rapidamente, aquele momento me reconduziu à infância, quando carregava latas d’água em carrinho de madeira, engraxava sapatos, distribuía jornais, falava no alto-falante, auxiliava meu pai no Escritório Exatidão e começava a escrever para jornais de Presidente Prudente.
Aconteceu no Pontal tem129 páginas e foi feito artesanalmente, às minhas custas, numa pequena editora do P Sul, no Distrito Federal. Nele, mostro a vida numa cidade dos tempos da lamparina a querosene, sem água encanada, quase inóspita. Falo dos primeiros animais de carga, dos charreteiros, dos carroceiros, dos engraxates, dos pintores, das costureiras, dos alfaiates, dos ceramistas, das prostitutas...
Não, erroneamente saiu isso na apresentação, mas o meu querido Jota Oliveira reconheceu a falha. O berço é Cascavel (PR) e o oeste paranaense. Também podemos dizer que o Rio Grande do Sul principiou o MST, devidamente organizado. Só que no livro, digo com todas as letras que a luta pela posse da terra no Pontal do Paranapanema começou três décadas antes do Zé Rainha aparecer por lá. É uma verdade que precisa ser dita, porque a grife do MST tomou conta da região, produzindo até mesmo uma linda motorista de Fórmula Truck, a Débora Rodrigues. Até há pouco tempo, e não sei se já corrigiu, o site da Universidade Estadual Paulista ignorava a presença do Partido Comunista Brasileiro no Pontal. Reúno alguns causos, crônicas e um pouco da história do lugar. Dediquei o livro aos pioneiros – a maioria falecida – e também às crianças e aos jovens interessados em saber aonde vivem e em qual contexto se situava a região na História Brasileira, após o golpe militar de 1964.
Você fala no PCB?
Sim, guerrilheiros da Aliança Libertadora Nacional (ALN) andaram na região. Conversei a respeito disso, dia desses, com o ministro da Secom, jornalista Franklin Martins, que foi guerrilheiro, seqüestrou o embaixador americano no Brasil, Charles Burk Elbrik e até hoje é proibido de entrar nos Estados Unidos. Os guerrilheiros atuaram mais em Presidente Epitácio, a mando do líder Carlos Marighella, que mandou o professor e jornalista Edmur Péricles, o Gauchão, matar o fazendeiro Zé Dico, numa noite calorenta de 1967. Meninos e meninas precisam saber disso, do contrário vão concluir que o MST inventou a roda, a pólvora, o gol de bicicleta...
Bote pesado nisso. O governo mandava matar guerrilheiros e estudantes. Disso já falaram muitos escritores, em diferentes obras – as que retratam a guerrilha do Araguaia, por exemplo. Quando menino, dizer que os “terroristas e subversivos” assaltavam bancos, seqüestravam e mataram pais de família. A polícia, o DOPS, os empresários, mandavam imprimir cartazes e colocavam nos lugares públicos, alertando a população para a situação. Um enorme cartaz na estação ferroviária de Teodoro nos deixava curiosos: quem são esses perigosos ladrões de banco que matam famílias e invadem terras? Mas a censura impedia que o outro lado da verdade aparecesse.
O Pontal do Paranapanema tem atualmente uma área de 11,83 mil Km², possui clima tropical úmido, solos arenosos e altitude de 300 a 550 metros. As pastagens compõem 75% da área rural. As culturas agrícolas ocupam 17% dessa a área. Onze municípios se situam na região; oito têm sede, mas parte da área fora; cinco têm sede e parte da área incluída. Desde meados da década de 1940 os posseiros lutavam contra latifundiários amigos dos governadores paulistas. Esses latifundiários compravam e vendiam terras irregularmente. A questão fundiária no Pontal não é do século passado. Os “títulos de propriedade” de fazendeiros sobre glebas remontam ao Brasil Imperial.
Quero sim, aliás, estou começando. Se eu tiver o privilégio de viver mais um tempo e o dinheiro não fizer falta no leite dos netinhos, vou presentear Rondônia com registros da disputa pela terra, 30 anos atrás, no velho Território Federal, depois no Estado e, obviamente, na Amazônia. Escrevi na revista Sina, de Cuiabá, na Agência Amazônia, no Gente de Opinião e em outros sites, que a mais completa CPI da Terra do Congresso Nacional completou 30 anos em branco. Não houve uma breve comunicação, um discurso, uma lembrança que seja. O Congresso Nacional ficou desmemoriado e agora vem esse ministro “sabe-tudo” Mangabeira Unger dar palpites na reforma agrária, bombardear o Incra e desagregar o Ministério do Meio Ambiente. Quero ver ele fazer reforma agrária na Amazônia. Conta outra, ministro.
Este ano fui a Plácido de Castro, Senador Guiomard, Rio Branco, à Vila Evo, na Amazônia Boliviana, e viajo neste fim de semana para Brasiléia, Sena Madureira e, novamente, Rio Branco. Na semana passada estive na Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, e com os pesquisadores dessa instituição fui ao Baixo Tocantins e ao Nordeste do Pará. Quero voltar logo lá. Fiquei encantado com os programas agroextrativistas e com a roça sem fogo. Um dos meus sonhos é conhecer a Cabeça do Cachorro, no Amazonas, na fronteira brasileira com a Colômbia.
Mas o prazer da leitura não acaba nas crônicas. Músicas e versos do poeta João Pacífico, de Vicente Celestino e de outros artistas da velha guarda dão charme especial ao livro. Um exemplo é “Gostinho de saudade”, de Pacífico: “Guarda bem esta riqueza/Que meu velho pai deixou/Deixou pra mim aquela terra abençoada”, que ilustra o texto “Do cafezal do Pires ao café com floresta”.
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