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Montezuma Cruz

Madeira que apodrece em Joana D’Arc faz lembrar Balbina, Tucuruí e Samuel


  Madeira que apodrece em Joana D’Arc faz lembrar Balbina, Tucuruí e Samuel - Gente de Opinião

Ribeirinhos sugerem ao Ibama o aproveitamento dessa madeira na construção de casas,
o que já foi feito no Vale do Juruá (AC) /MAIQUE PINTO, 2013

MAÍQUE PINTO
Com adendos de Montezuma Cruz

 

Troncos de árvores apodrecem há mais de dois anos nas proximidades do Assentamento Joana d’Arc, depois de construída a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no município de Porto Velho, Capital do Estado de Rondônia. Sol e chuva expõem ainda mais o problema. Embora em volume menor, a situação faz lembrar perdas históricas decorrentes das construções das usinas de Balbina (AM), Tucuruí (PA) e Samuel  (RO), todas da Eletronorte. Ao mesmo tempo, os depósitos a céu aberto praticamente abandonados pela Polícia Rodoviária Federal em Vilhena (RO).
 

Moradores do assentamento são produtores rurais familiares reprimidos por fiscais ambientais que lhes impõem o rigor legal. Se retirar a madeira, o agricultor poderá responder por crime ambiental, após a derrubada de alguns troncos de árvores no respectivo assentamento. 
 

Em 2011 os troncos de árvores foram arrancados, decepados e detonados por dinamites do empreendimento hidrelétrico do rio Madeira. A comunidade do Joana D’Arc acredita que, tanto a iniciativa privada quanto a pública devem pagar pela degradação ambiental causada por impactos ambientais causados pela Usina de Santo Antônio.
 

Planos, programas e projetos só existem no papel. Moradores opinam a respeito, afirmando que os troncos de árvores que apodrecem “deveriam servir servindo ao povo”. Eles sugerem a construção de casas populares, algo feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no Vale do Juruá, no Estado do Acre. O Ibama entrega as casas prontas e pintadas.
 

Madeira que apodrece em Joana D’Arc faz lembrar Balbina, Tucuruí e Samuel - Gente de Opinião

No Lago de Samuel, outro prejuízo histórico: árvores submersas.
Sinal evidente da falta de planejamento na obra, nos anos 1980 /MONTEZUMA CRUZ, 2009

O apodrecimento destes troncos, mostra como é fraca na prática e na teoria, as políticas públicas de desenvolvimento sustentável para a Amazônia Brasileira. Amargurados, os assentados do Projeto Joana D’Arc queixam-se da falta de apoio político e governamental. O ribeirinho Ildefonso Rodrigues Borges, que há mais de dez anos mora no assentamento, defende o uso da madeira na construção de casas populares.
 

Enquanto isto, todos ficam observando o fim das centenas de milhares de troncos de árvores, recebendo sol forte, chuva e muita água do Rio Madeira
 

Muita madeira no fundo do lago e em áreas ribeirinhas. O filme se repete. Balbina, no Rio Uatamã, em Presidente Figueiredo (AM), teve a primeira etapa concluída em 1984. Sua segunda etapa foi concluída em meados de 2007, elevando a capacidade de geração para 8 mil megawatts. Inaugurada no final da década de 1980, a usina é citada como “erro histórico” por cientistas e gestores, “pela baixa geração em relação à área alagada e suas consequências”.
 

Por isso, Balbina é tida como investimento crítico, devido à emissão de gases de efeito estufa, considerados causadores do aquecimento global. “É a pior usina brasileira”, avalia o professor Luiz Pinguelli Rosa, especialista em energia.
 

 A liberação de dióxido de carbono e metano é superior à de uma usina térmica de mesmo potencial energético. De acordo com o relatório Emissões de Dióxido de Carbono e de Metano pelos Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros, do Ministério da Ciência e da Tecnologia, além de Balbina, as usinas de Samuel, no Rio Jamari, e de Três Marias (MG), têm emissões maiores que termelétricas de mesmo potencial.
 

Tucuruí, no Rio Tocantins (PA), com um lago de 2.360 km², produz 8,37 mil megawatts, fez encalhar toneladas de madeira não retirada no momento certo. Na época, ficou parecida com uma floresta subaquática.  Samuel, no Rio Jamari, gerou 216 megawatts. O rio recebeu em seu leito um dique de 45 quilômetros de extensão de cada margem para formar o lago. Iniciada em 1982, deveria ficar pronta em quatro anos, porém, faltou dinheiro. Só foi concluída 14 anos depois.
 

Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), essa usina “criou grandes bolsões de miséria na periferia de Porto Velho e ignorou direito, além de negar assistência a 650 famílias de atingidos”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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