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Montezuma Cruz

Mais que o comércio bilateral



Guajará-Mirim une povos da fronteira

ANA MARIA MEJIA
AGÊNCIA AMAZÔNIA


GUAJARÁ-MIRIM, RO – Cidades-irmãs. Não poderia haver definição melhor para as cidades de Guajará-Mirim e Guayaramerin, situadas na fronteira Brasil-Bolívia em Rondônia, a 362 quilômetros de Porto Velho. Economia, segurança, saúde, educação, cultura, tradição, costumes todos os assuntos se misturam e se encontram nesta fronteira que só neste Estado alcança 1,3 mil quilômetros separados pelo rio Mamoré, de águas rápidas e barrentas. No meio estão as ilhas Saldanha e Soares, pertencentes aos dois países. Ou a nenhum deles, conforme a interpretação do conceito de soberania de cada um. Desde que se tornou Área de Livre Comércio em 1994, a região viu o movimento aumentar e a economia se estreitou ainda mais. 

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Adelar, o delegado da Receita Federal /M.CRUZ


De acordo com o delegado da Receita Federal, o catarinense João Adelar Defaveri, 600 turistas atravessavam diariamente a fronteira até 2006. No ano passado a média alcançou para 1,4 mil turistas/dia. E houve dia que a delegacia registrou 3,2 mil pessoas, com longa fila de espera. A RF trabalha com 12 auditores fiscais, dos quais dois fiscais que se revezam no atendimento aos turistas, ou melhor 'compristas' e na fiscalização do embarque de gêneros alimentícios e manufaturados que abastecem o mercado boliviano.

Contrabando inevitável

Na Associação Comercial da cidade, onde 66 empresas estão registradas, a resposta é unânime: "O movimento daqui é da Bolívia. Se o porto fechar, Guajará pára". Vê-se isso na rotina à beira-rio. A Agência Amazônia presenciou o embarque de 500 sacos de arroz da marca "Londrina", de Santarém (PA). O produto viajou mais de 1,5 mil quilômetros para abastecer cidades e vilarejos do Departamento 
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Arroz sai do sul do Pará para abastecer a Bolívia /M.CRUZ
(Estado ou Província) do Beni. Há quatro anos trabalhando no município, Defaveri vê crescer anualmente o contrabando e o descaminho (mercadoria que entram sem pagar imposto).Não há como contê-lo. "Temos uma área extensa, poucos funcionários e equipamentos e os produtos são entregues de forma pulverizada, ao longo da fronteira", comenta. Num esforço para conter o crime, ele acredita na ação conjunta para atuar nessa região. Sem estrutura, é impossível conseguir essa meta. Guardadas as proporções, a fronteira guarnecida por Defaveri não é diferente da fronteira de Tabatinga (AM), nem da fronteira de Ponta Porã (MS) ou de Foz do Iguaçu (PR). 

O jeito de trabalhar, o vaivém de mercadorias e pessoas, a abordagem da fiscalização são bem parecidos. Guayaramerin só não possui tantos estabelecimentos quanto Ciudad del Este, capital do Alto Paraná, vizinha a Foz do Iguaçu. 
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Turistas encontram produtos importados da Ásia /A.M.MEJIA


Aqui se fala o portuñol

GUAYARAMERÍN, Bolívia – Basta olhar pelas ruas de Guayaramerin para entender que a cidade de 40 mil habitantes está em plena ebulição e que seus principais clientes são brasileiros. Todos falam português e espanhol, o conhecido 'portuñol' criando um idioma único, falado inclusive pelas crianças que pelas ruas oferecem refresco, refrigerante e salgados. O transporte é feito em motos – equipadas com uma espécie de carruagem com lugar para três passageiros, ou em motos simples. A corrida custa R$ 2, do porto para qualquer área da cidade, ou de acordo com a "cara" do freguês.

Ouro, prata e tecidos 

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Nesta loja, migrantes bolivianos concorrem com os turistas estrangeiros /A.M.M.
Segundo o proprietário da Casa de Artesania, Zenon Laines, que há 35 anos mantém seu comércio de artesanato – peças em cerâmica, estanho, ouro, prata, madeira e em tecidos, dos quais 80% da Bolívia Ocidental, depois da Área de Livre Comércio vieram muitos migrantes, do próprio país, em busca de melhores condições de vida. E ainda: asiáticos (taiuaneses e chineses), brasileiros que dominam as vendas de eletroeletrônicos, produtos de caça e pesca e informática. "Temos clima excelente, água potável, energia elétrica e gente pacífica. Isto atrai os migrantes", disse Zenon. Ele se orgulha da descendência e de sua fidelidade aos produtos tradicionais.

Contraditoriamente, essa mesma mercadoria que embarca como produto de exportação retorna nas sacolas dos brasileiros por causa da diferença de preço. Produtos de higiene e limpeza, óleo de soja, azeites, roupas muitos saem pela metade do valor comercializado no Brasil, além dos importados. 
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Com R$ 2 é possível visitar a cidade no mototáxi /M.CRUZ


Vai atravessar para Guayaramerin? Embarque numa catraia (embarcação) às margens do Rio Mamoré. A passagem custa R$ 3 e a viagem dura apenas 15 minutos dependendo do volume de água. Desfrute da exuberante paisagem do rio, das ilhas, das margens cheias de gente. Na cidade, use o mototáxi com cobertura de lona.

Os importados se dividem em produtos de primeira e segunda linha, e estes últimos representam a grande maioria dos produtos trazidos para o mercado brasileiro.Material esportivo, produtos de informática, eletrônicos, máquinas fotográficas – chegam, nas lojas da cidade, pela metade do preço e com lançamentos top de linha, como dizem os vendedores. "Ao longo das cidades os camelôs são os principais distribuidores'. Na verdade, o limite de compras está fixado em U$ 300 por pessoa e há limite para a internação de mercadorias. Mas todos ignoram. 

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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