Terça-feira, 5 de novembro de 2024 - 12h50
Pequenos agricultores de 15 famílias assentadas em Joana D’Arc e na linha H27, na gleba Rio das Garças, ambas no município de Porto Velho, ouviram o veterano pesquisador baiano Joselito da Silva Motta demonstrar como a raiz brasileira alimenta bem e sacia a fome de ricos e pobres. Olhares atentos, risos e muito interesse à boa conversa. Assim foi o clima no auditório da Regional do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) na tarde de quinta-feira (31). O multiuso da mandioca, também conhecida por “pão dos pobres” e “pão da terra”, vem ao longo dos anos fazendo a alegria de quem a valoriza.
A visita de Joselito teve muita importância para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que ali também comemorou o exitoso trabalho do pesquisador Rogério Costa (Embrapa-RO), descobridor da primeira cultivar de mandioca de mesa registrada em Rondônia: a BRS 1668.
Ela tem polpa amarela, é plantada no período chuvoso, rende 25 toneladas por hectare; possui 30,9% de matéria seca, 26,3% de teor de amigo; 2,7% (baixo) de raízes podres e pode ser colhida entre seis e 12 meses após o plantio.
Segundo Rogério, essa variedade foi testada durante três anos em campos produtores de Porto Velho, Ouro Preto do Oeste e Vilhena.
“A mandioca é o elixir da vida”, afirma Joselito na abertura da palestra.
“A saúde tem rota: menos trigo e mais mandioca”, proclama descrevendo o descuido diário das pessoas. “O zique-zague do ser humano inclui desde o período da manhã: pão, bolacha, bolo, coxinha, empada, macarrão e, à noite, pizza; com tapiocas coloridas podemos mudar também esses hábitos, inclusive à noite, porque temos há alguns anos a pizzaioca, pizza de mandioca”, explica.
Na medida em que mostra comidas feitas com mandioca, ele dá pinceladas históricas para a compreensão popular: “Jesus Cristo, quando falou do pão nosso de cada dia, o trigo tinha 1% de glúten. De lá para cá o ser humano veio de atormentando muito, veja o caso da enxaqueca…”
Já se constatou que o glúten, proteína encontrada em grãos de trigo, centeio e cevada, pode desencadear sintomas de enxaqueca em algumas pessoas. Varia conforme o organismo delas.
Aos 48 anos de Embrapa, lotado na Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical em Cruz das Almas (Recôncavo Baiano), e um dos signatários de uma ação com 80 assinaturas ao Supremo Tribunal Federal para reivindicar o direito ao trabalho após os 75 anos de vida, Joselito Motta é um dos personagens mais notáveis e queridos naquela empresa federal.
Durante quase cinco décadas, ele viajou centenas de vezes a diversas regiões brasileiras para difundir a cultura mandioqueira em todos os seus aspectos. E assim continua fazendo enquanto a saúde ajudar, contou no auditório do Sebrae quinta-feira desta semana.
Sena Madureira aprendeu
Catorze anos atrás, em Sena Madureira, no Purus, a 143 quilômetros de Rio Branco, Joselito foi visita a rádio, acompanhado do ex-deputado Fernando Melo da Costa. Encerrada a sua fala, ele foi à praça, onde um casal de ambulantes já faturava mais de R$ 60 vendendo beijus coloridos, uma novidade que também serviu àqueles micro comerciantes.
Naquele período, Melo foi reconhecido no Congresso Nacional como um dos parlamentares que mais apoiavam a mandiocultura.
A gerente regional do Sebrae, Viviane Kichileski Padilha, cativou os produtores: “Nossa parceria com as senhoras e os senhores visa à necessidade de lucro de cada um.”
Viviane lembrou a fertilidade do solo e a produtividade porto-velhense, onde a safra de 2023 totalizou 130 mil toneladas.
A analista da Embrapa-RO, Lucilene Dantas, enalteceu o trabalho do pesquisador Rogério Costa, informando que há 22 anos o Sebrae divulga a fécula e a cultura mandioqueira no estado.
A variedade descoberta é de cozimento rápido e sabor diferenciado
Desde os eventos: Parco Dora, em Turim (Itália), e Terra Madre Salone del Gusto, em 2006 e 2010, para onde levou agricultores da Bahia, o pesquisador chama a atenção do público onde quer que esteja: carrega na bagagem dois sacolões lotados com frigideiras, peneiras minifogão a gás de uma boca, tipiti, raladores diversos, farinhas e biscoitos originais.
De uma das sacolas Joselito retira sacos plásticos com biscoitos trazidos de Cruz das Almas e distribui aos participantes da oficina. Em clima alegre, a degustação acontece e ele continua falando.
Após a metade da palestra e o lanche os agricultores ficam ao redor da mesa para aprender como fazer os beijus coloridos.
Entre uma pergunta e outra, Joselito dá o tom detalhado de cada receita. Querem saber o tempo de fritura, o jeito de peneirar e qual a farinha ideal. E aí o pesquisador lembra ter vindo ao estado outras vezes, visitando campos de produção em Cacoal, Ji-Paraná, Ouro Preto do Oeste e Rolim de Moura.
“Eu trouxe este ralador indígena do interior do Suriname (ex-Guiana Holandesa), onde o avião russo Antonov 28 leva água mineral, arroz e outros produtos para atender um enorme garimpo de ouro” – diz mostrando o utensílio.
Levando a vida como verdadeiro missionário mandioqueiro, ele conta que recentemente esteve em um bar com aproximadamente 160 pessoas que bebiam cerveja sobre a mandioca. Ali ele demonstrou o tucupi preto, fabricado sem corante por indígenas. Apesar de nascer do mesmo caldo amarelo extraído da mandioca brava, esse tucupi pode ser temperado, ter a goma retirada, e o caldo puro ir direto para a panela em fogão a lenha.”
Cada 40 litros de tucupi rendem um litro de tucupi preto, especial para saladas e peixes.
Patrimônio alimentar
“Gente, a mandioca é um patrimônio alimentar extraordinário. A folha da mandioca é uma bomba de vitamina A. O mundo precisa saber que a FAO a classificou de alimento do século XX”.
“A farinha ova fermentada lá de Uaremi (AM), é a vedete das farinhas; em Manaus ela é vendida a R$ 28 o quilo, e aqui em Porto Velho também tem, no Mercado do Km 1. E as farinhas Bragança e Cruzeiro do Sul?” – indaga mostrando pacotes e potes com essas variedades.
A farinha ova também é conhecida farinha de bolinha, ova ou ovinha, uma vez que a sua aparência lembra as ovas dos peixes da região amazônica.
Joselito lembra a recente participação de africanos de diversos países daquele continente. “Ah! se o Brasil compartilhasse todo o seu conhecimento!” – exclama.
E vai conversando mais, desta vez sugerindo cuidados higiênicos. “O consumidor não pode se afastar do comércio por causa da falta de higiene”, alerta. Informa que técnicos do IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas) treinam as pessoas para fabricar derivados da mandioca, ensinando desde o combate à mosca, controle de temperatura e esterilização.
Qualidade do produto: “Quem faz o preço é você, não o intermediário ou o comprador. “Então vamos aprimorar nossos métodos, trabalhando com os jovens para constituir a base dessa higiene. Assim, por exemplo, que eles permitam entrar na casa de farinha somente só quem irá lidar com ela, e com as mãos limpas; entra e sai de gato e cachorro, nem pensar.”
O pesquisador fala da destinação dos produtos e toca no capítulo muito conhecido por todos: a produção de goma. “A alma da farinha é a fécula sem acidez, hoje temos pequenos extratores em comunidades, mas a goma que vem do Paraná não tem gosto para beijus” – adverte.
“A boa goma cura diarreia”, garante.
Cidadão em alguns municípios baianos onde reconheceram o seu amoroso trabalho, Joselito comemora o êxito de prefeituras que fabricam pães com fécula adicionada ao trigo. O ensino nesse sentido partiu de técnicas difundidas pela pequena padaria da Embrapa em Cruz das Almas.
Lembra que em Vitória da Conquista (BA) circulam mensalmente 2 mil bitrens carregados de fécula. “Ela já uma commoditie” – assinala.
Beiju pink na merenda escolar
Tradicionalmente brancos, os beijus ganham novas cores, cheiros, sabores e nutrientes quando a água é substituída pela polpa de frutas ou extratos de hortaliças. Os mais comuns são torrados na chapa quente dos fornos, crocantes, sem recheios ou recheados com coco e açúcar, chamados beijus de cambraia; ou de tirinhas e moles, dobrados, consumidos com recheios variados denominados de beijus moles ou tapioca recheada.
“Em Irará (a 130 Km de Salvador) eu bati a beterraba, coei e o beiju ficou pink, entrando na merenda escolar”, conta o pesquisador. “Voltei a Cruz das Almas e fiz até de seriguela.”
Em seguida, explica que essas criações podem ter apoio da classe política: “Chamem sempre os candidatos a vereador e a prefeito e exijam deles o comprometimento com as nossas causas. Com certeza, associações e cooperativas que representam vocês irão obter sucesso com as variedades de mesa: congelados e pré-cozidos.”
Ao mostrar eslaides com macarrão alternativo fabricado com a casca da mandioca; lasanhas, escondidinho, pães e sorvetes, a agricultora Silvanete de Jesus Ribeiro, nascida em Pinheiro (MA), contou ao repórter: “Lá na gleba (H27) eu experimentei fazer o sorvete e pode perguntar ao pessoal, ficou uma delícia.”
Silvanete fez um curso no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) a respeito do multiuso da mandioca.
No encerramento da palestra, o superintendente regional do Sebrae, José Roberto Anísio, garantiu o apoio do órgão aos mandioqueiros, exclamando: “Ai da agricultura, se não fosse a Embrapa!” Anísio reconheceu o papel da empresa, incentivou as famílias dos assentamentos a participar de cooperativas, e manifestou expectativa em relação a parcerias com as secretarias estadual e municipal de agricultura: “Para que todos possam subir os degraus tranquila e permanentemente.”
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Saiba mais e visualize os beijus coloridos:
https://www.infoteca.cnptia.
Conheça a primeira mandioca de mesa rondoniense:
https://www.embrapa.br/en/
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