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Montezuma Cruz

MANDIOCA RENDE MAIS QUE BOI




Terra com mandioca rende
mais que terra com bois
 


MONTEZUMA CRUZ

AGÊNCIA AMAZÔNIA

RIO BRANCO, AC – Acredite se quiser: o cultivo da mandioca da variedade araçá pode render 22 vezes mais para o proprietário de terras do que o aluguel de áreas para a engorda de boi no Acre. É o que demonstra o deputado Fernando Melo (PT-AC) no cálculo que levará na próxima semana ao plenário da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, da qual é membro titular. "É simples", ele aponta. Atualmente, o dono de uma pequena propriedade recebe apenas R$ 6 mensais por cabeça de gado. Tomando-se por base a criação de duas cabeças por hectare, ele vai obter R$ 144/ano por hectare. "É pouquíssimo, quase nada", ele comenta. 

Segundo as contas de Melo, 10 mil pés de mandioca araçá, por exemplo, plantadas no espaçamento 1 X 1, rendem 40 toneladas por hectare a cada safra (no Acre, 12 meses). Considerando-se uma colheita de quatro quilos por pé, o dono da terra obteria R$ 3,2 mil por ano, ou seja, mais de 22 vezes o que ganharia com o aluguel para o boi. O custo de produção de uma tonelada de mandioca está entre R$ 100 e R$ 150.

Arrendamento

Indústrias produtoras de amido de mandioca nos estados do Paraná e de São Paulo vêm buscando no arrendamento de terras e no plantio próprio de mandioca, fontes alternativas pra assegurar o fornecimento da matéria-prima necessária ao atendimento de suas demandas. Nessas terras, elas obtêm matéria-prima suficiente para mover seus moinhos. 

Segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca, no Paraná, essas alternativas representam

MANDIOCA RENDE MAIS QUE BOI - Gente de Opinião

O agricultor Raimundo Nonato Bezerra da Silva, de Sena Madureira, Acre, com dois pedaços de 12 quilos de Araçá, colhidas em sua propriedade

volumes que variam entre 30% e 60% de suas necessidades. 

O momento difícil do setor serve de lição não apenas para os moageiros de trigo, os maiores prejudicados, mas para os pequenos proprietários de terras na Amazônia. Especialmente, se for levado em consideração o fato de os estoques mundiais de trigo serem os menores dos últimos 40 anos. Prevê-se que, em maio próximo, devido ao desabastecimento do principal produto para a fabricação do pãozinho, ocorrerá uma corrida de moinhos e indústrias para adquirir amido/fécula de mandioca.

Mudas de araçá em São Paulo

A araçá é uma variedade campeã de produção no município de Sena Madureira, a 137 quilômetros de Rio Branco. Segundo o extensionista Joaquim Moisés, da Secretaria Municipal de Agricultura e Produção, se houver incentivo, inclusive bancário, a mandioca alcança "facilmente" uma média de produtividade de 80 toneladas por hectare. Atualmente já são colhidas 60 toneladas. 

Melo enviou 4,5 Kg de ramas de araçá para a Halotek-Fadel Industrial, em Palmital, a maior esmagadora de fécula industrial do Estado de São Paulo, com capacidade diária entre 650 e 800 toneladas. 

Na visita que ele fez à indústria, há 15 dias, ele mostrou ao gerente industrial Vitório Fadel Neto uma simples foto da mandioca colhida em Sena Madureira. Fadel se dispôs a plantá-la como experimento para comparar o rendimento e a qualidade do amido dessa variedade no Acre e no campo da Halotek, onde são cultivados 2,5 mil alqueires próprios de diversas variedades produzidas em São Paulo. A empresa compra ainda de fornecedores da região, que cultivam juntos um total de 7 mil alqueires. 

Vitório e o seu irmão Antônio Fadel viajarão em maio para a Tailândia, para demonstrar a tecnologia brasileira e o avanço na fabricação de diversos tipos de amido. A Tailândia é o maior fabricante mundial de amido, mas não o consome. Exporta toda a sua produção. 
MANDIOCA RENDE MAIS QUE BOI - Gente de Opinião
Fernando Melo debate na Comissão de Agricultura o resgate da mandioca na Amazônia e defende o arrendamento de terras para o aumento dessa cultura no Acre


No País sem trigo, amido
e fécula são a salvação

MONTEZUMA CRUZ

BRASÍLIA – O que faz um País auto-suficiência em trigo? Importa. Maior comprador de trigo do mundo, o Brasil pagou ao Canadá e à Argentina, principalmente, em torno de R$ 25 bilhões pelo produto, nos derradeiras 12 anos. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM), Ivo Pierin Júnior, a exemplo do que ocorreu em 2002, o amido de mandioca volta ser a salvação do setor farináceo de trigo. 

Dados da ABAM, que tem sede no Paraná, revelam que o Brasil não consegue produzir nem 50% de suas necessidades. Para dar conta de seu consumo, terá de importar este ano 7,2 milhões de toneladas, incluindo farinhas e pré-misturas. O Brasil deve colher este ano entre 4,5 milhões e 5 milhões de toneladas de trigo. Porém, seu consumo está estimado em 10 milhões de toneladas. 

Tão logo o deputado Fernando Melo anunciou o seu apoio ao resgate do projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), para a adição de 10% de farinha de mandioca ou fécula na farinha de trigo destinada à indústria de panificação, o experiente deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR) alertou-o sobre as dificuldades de se enfrentar o lobby dos moinhos na Câmara. 

Melo informou que consultou o senador Flávio Arns (PT-PR, constatando que o projeto saiu da pauta no Senado, sob o pretexto governamental de "se discutir melhor o impacto sobre a arrecadação pública, já que estabelece benefícios ficais para as indústrias de trigo e de mandioca". 

A ABAM lembra que, há seis anos, quando a taxa cambial alcançou R$ 4/dólar, o preço do amido de mandioca, no atacado, ficou na metade do valor do quilo do trigo. Isso provocou enorme correria de moinhos e panificadores ao setor de amido, para a necessária substituição. "O setor vendeu 250 mil toneladas de amido de mandioca num curto período de quatro meses daquele ano", lembra Ivo Júnior. 

Escassez assusta
"Considerando-se que o preço do trigo está em alta no mercado mundial, devido à escassez do grão em todos os Continentes, a conta do Brasil com importações aumenta, significativamente", ele alerta. Na Bolsa de Kansas (EUA), onde se negocia trigo de melhor qualidade, as cotações acumulam alta de 26% este ano. Em 12 meses, o aumento foi de 125%. O resultado disso se faz sentir no aumento de preços de farinhas, e, de quebra, nos pães, massas alimentícias e biscoitos. A Secretaria de Comércio Exterior estima que as despesas com importações de cereais e produtos de moagem cresceram 149,4% neste início de ano. 

No entanto, a procura pelo amido se dá lentamente, reconhece o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Mandioca e Derivados, João Eduardo Pasquini. 

Pasquini elogia o setor mandioqueiro: "Ele já ajudou muito o País a amenizar a dependência do trigo importado, e isto deverá se repetir novamente". Critica o governo: "O Brasil errou, no passado, ao adotar o trigo como um dos principais alimentos para sua população, já que, por problemas de solo e clima não é auto-suficiente na produção deste cereal". 

Pasquini lamenta a resistência de alguns moinhos ao uso do amido/fécula de mandioca. Acredita que isso deve às suas instalações estarem mais próximas dos portos, o que favorece a compra do trigo importado. 

Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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