Terça-feira, 9 de novembro de 2010 - 05h03
Filha de pequenos agricultores e extrativistas num dos maiores rios do município de Rio Branco é o autêntico retrato da infância amazônica /MONTEZUMA CRUZ |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
SERINGAL SÃO FRANCISCO DO ESPALHA, Acre – A hélice na lama, os botijões de gás no barco à direita. Lá dentro, porcos, galinhas e castanhas. Eis o cenário com o qual se depara Marizelda em mais um dos seus embarques.
Quietinha, olhar contemplativo, a menina senta-se no chão da canoa, à frente de um galão de plástico cheio de farofa. Daqui a pouco ela viajará para uma das comunidades ao longo do Rio Espalha.
Faz parte da rotina o vaivém dos ribeirinhos às farinheiras dos vizinhos e aos pontos de embarque e desembarque de mercadorias para Rio Branco, capital acreana.
Aos seis anos, a garota habituou-se ao modo de viver da família, que cultiva milho, arroz e castanha nesse seringal distante de tudo – da saúde pública, da escola e dos recursos que só a cidade têm.
Lá atrás, pais e vizinhos conversam. Acertam detalhes de compras e vendas de seus produtos. Combinam tudo direitinho, porque a chuva pode fazer a viagem de um dia demorar pelo menos dois.
Este é o retrato da vida nesses confins amazônicos ocidentais. Aqui nunca veio um prefeito, nem o governador. As famílias se orientam pelo rádio, cuja transmissão em ondas médias alcança todas as regiões. Ou com o professor e a professora, nomeados a cada ano. Vez ou outra, eles ouvem notícias trazidas por algum visitante. Reclamam pouco, vivem bem a sua realidade.
Vem aí mais um “inverno” no Acre. E a vida segue.
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