Terça-feira, 19 de julho de 2022 - 16h58
Quem passava fora no prédio não via quem trabalhava lá dentro em plena pandemia da Covid-19. “O cuidado com os acervos e o atendimento a diversos pesquisadores no Museu da Memória de Rondônia (MERO) não pararam nesses dois anos que abalaram o Brasil e o mundo, e com todos os cuidados o compromisso ético falou mais alto”, diz a diretora Liliane Sayonara.
Vinculado à Fundação Cultural do Estado de Rondônia (Funcer), o MERO funciona no antigo Palácio Presidente Vargas, construído a partir de 1950 pelo quarto governador do antigo Território Federal do Guaporé, Joaquim de Araújo Lima. A presidente da Funcer, Simone Bitencourt, informa que a reabertura ao público em geral ocorrerá brevemente.
Mesmo durante o isolamento social, as pessoas que transitavam pelo Centro antigo de Porto Velho se incomodavam com sem tetos varando a noite na entrada no prédio, na Rua D. Pedro II, no entanto, ela e a entrada em frente à Praça Getúlio Vargas foram melhoradas, estão limpas e vigiadas 24 horas.
A demanda por estudos de achados arqueológicos, biológicos, do folclore e da história foi atendida, garante Liliane. “A busca por coleções de jornais, fotos, mapas, documentação, fragmentos cerâmicos seguiu no mesmo ritmo que vinha ocorrendo em 2019 e foram melhorados os procedimentos de acesso e registro das pesquisas realizadas no Museu. É muito importante que o conhecimento gerado a partir das pesquisas em nossos acervos, retornem para a instituição, inclusive aumentando o repertório para outros pesquisadores”, conta a diretora.
A maior parte de pesquisadores à procura de fatos históricos é oriunda da academia universitária, que folheia desde o antigo jornal Alto Madeira, publicado desde a primeira década dos anos 1900, ao meteórico mensário Barranco (1979-1980), cujos exemplares das seis únicas edições também foram doados à instituição.
Exemplares originais da maior parte das edições de O Guaporé, A Tribuna e parte do Estadão do Norte, todos extintos, fazem parte do acervo de periódicos, em parte digitalizada.No momento, a equipe técnica do MERO estuda e organiza a normatização de doações. Significa dizer que peça individuais ou acervos doados serão minuciosamente analisados e devidamente documentados desde a solicitação de doação.
Pouco a pouco, leis e regras vão sendo respeitadas. É simples, mas sobretudo uma exigência que o pesquisador solicite autorização on-line e, ao concluir seu trabalho, mencione a fonte.
A solicitação de pesquisa é feita neste endereço.
"Queremos consolidar e tornar cada vez mais permanente essa exigência, porque pesquisa a não apenas dá visibilidade ao museu, mas valoriza a produção científica realizada em Rondônia”, assinala a diretora.Mesmo sendo prevista pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a reivindicação do crédito fotográfico e autoria de textos diversos deixou muitos anos de ser atendida por parte dos pesquisadores. Liliane lamenta que até recentemente isso aconteça.
Segundo Liliane, três áreas de atuação se unem na atual fase de funcionamento do museu: 1) salvaguarda dos acervos; 2) pesquisa; 3) educação patrimonial.
A equipe do MERO pretende alcançar a médio prazo a conscientização do público a respeito dos acervos disponíveis e ouvir todos os pesquisadores a respeito da abrangência do seu trabalho.
“Informaremos cada vez mais ao público a existência e os eventos do museu, dando-lhe a sensação de interação e pertencimento”, ela assinala.
AMBIENTE CLIMATIZADO
Exemplifica com visitas de mais de cem alunos de três escolas periféricas que ali participaram no primeiro semestre de 2022 no projeto de extensão do departamento de história na qual o museu realizou programação educativa sobre a história do Flor do Maracujá, cujo evento contou com a presença da professora doutora do Departamento de História da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Sônia Ribeiro de Souza, que também atua no Centro de Defesa da Criança e Adolescente.
Às 9h30 da manhã de quarta-feira, o repórter entra no prédio e percebe melhorias essenciais: climatização de todas as salas e luminárias condizentes aos espaços visitados.
Estão em fase de instalação novas centrais de ar para o atendimento à reserva técnica que exige armazenamento adequado. A temperatura ambiente tem que ficar diariamente entre 23 e 24 graus C, com monitoramento diário durante o expediente de trabalho, informa a bióloga responsável pelos acervos, Tayanne Gabrielle de Souza da Silva.
Centenas de peças dentre elas: cerâmicas, líticos, fósseis, artes plásticas, rochas e minerais entre outros, entre outros materiais estão acondicionados em caixas, envoltos por plástico bolha.
Até que essas centrais de ar, pinturas de paredes, e readequação de piso sejam devidamente concluídos, há muito o que fazer.
Tayanne Gabrielle estima em aproximadamente mil peças arqueológicas. Ela mostra o laboratório de tratamento e os cuidados tomados com o material arqueológico, biológico e geológico, no qual destacam fósseis milenares de bichos-preguiça gigantes e mastodontes que provavelmente viveram na região do Rio Madeira em antigas eras.
O laboratório funciona para o “acervo água” (fósseis e cerâmicas) e o “acervo seco” (para papéis).
Segundo Liliane, em 2023 está prevista a chegada de uma mesa de higienização, utilizada para recolher sujidades de livros, documentos, fotografias e obras de arte, etc. Nela funciona um filtro não convencional que utiliza água como elemento filtrante, oferecendo mais segurança ao operar.
Laboratório e Reserva Técnica são áreas de acesso restrito.
Com Tayanne trabalham as estagiárias Glória Maria da Silva Macedo, de arte, e Carolaine Santos da Silva, de biologia. Elas e Tayanne vêm cumprindo à risca as exigências e orientação quanto ao uso de equipamentos de proteção individual tanto no tratamento dos acervos e entre pesquisadores, no laboratório, quanto à prevenção de contágio pela Covid-19.
“Com vistas à ampliação do atendimento, esses cuidados terão que ser regulares e indispensáveis”, observa Glória. No que concorda Tayanne, lembrando breves agendas de visitas de escolas a exemplo do que ocorreu em 2021, quando decretos governamentais permitiam visitações, desde que professores alunos e monitores usassem rigidamente máscaras faciais e álcool em gel.
O maior número de salas no primeiro andar do antigo palácio governamental abriga o rico acervo doado ao estado pela artista plástica porto-velhense Rita Queiroz. “É grande o zelo com esse espaço de popularização do conhecimento sobre a cultura ribeirinha retratada pela grande artista”, observa a diretora Liliane Sayonara.
Na primeira sala, foi instalado um computador que servirá para a visualização virtual do trabalho de Rita durante as visitas.
REVESTIMENTO
Em algumas paredes ainda se veem buracos feitos pela perfuração de pregos, e algumas manchas aparecem no piso onde estão expostos óleos usados pela antiga população ribeirinha. São falhas antigas que também serão corrigidas.
Conforme Liliane, uma das medidas tomadas foi a utilização de revestimentos com placas de MDF (fibras de média densidade), nos halls de entrada do Museu, áreas expositivas, a fim de evitar constantes perfurações diretas na parede, desviando o máximo possível interferências na estrutura do prédio, que por si, já é monumento de valor patrimonial para população.
Todo o ex-Palácio Presidente Vargas deverá ser futuramente requalificado e contará em suas dependências com os equipamentos necessários a grandes exposições e grandes públicos.
Um dos principais estudos na área é dos arquitetos e urbanistas: Lucas Varanda, especialista em Arqueologia da Amazônia pela Faculdade São Lucas de Porto Velho, e Ana Cristina Lima Barreiros da Silva, da Universidade Federal do Pará, doutora em Patrimônio e Evolução Urbana pela Universidade Federal Fluminense.
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