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Montezuma Cruz

MINC É O MINISTRO: Jorge Viana perde outra



 
CHICO ARAÚJO
e MONTEZUMA CRUZ
AGÊNCIA AMAZÔNIA
 
BRASÍLIA — Carlos Minc vai mesmo assumir o Ministério do Meio Ambiente no lugar de Marina Silva. O nome de Minc foi confirmado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desprestigiada no governo, Marina demitiu-se na terça-feira, 13. Até o início da manhã de hoje o nome mais cotado para substituir Marina era o do ex-governador do Acre, Jorge Viana. Mas arestas mal resolvidas por ele com aliados de peso do Planalto, entre os quais o senador José Sarney, e o fato dele defender o plantio de cana-de-açúcar, mesmo em áreas já degradadas, dinamitaram suas pretensões.Lula reuniu-se com Viana pela manhã.

Minc foi convidado na terça-feira mesmo. Lula telefonou para o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), pedindo a liberação de seu secretário de Meio Ambiente. Enquanto isso acontecia, petistas do Acre capitaneados pelo senador Tião Viana (AC) tentavam emplacar um nome do Estado no lugar de Marina, para evitar perda de prestígio no governo. Jorge Viana, ex-governador e amigo de Lula, teria o perfil ideal para o cargo — o irmão, Tião, havia conversado à tarde com o presidente.

Acionado, Jorge voou de madrugada de Rio Branco para Brasília. E, por conta da proximidade com Lula, o grupo de Viana dava como certa a ida do ex-governador para o Meio Ambiente, uma vez que o presidente o havia sondado sobre essa possibilidade. Viana reuniu-se com Lula pela manhã. E deixou o Palácio do Planalto sem falar com os jornalistas. Após despachar Viana, Lula teria conversado por telefone Minc, que está em Paris. A conversa teria selado a vinda do secretário para Brasília.

Quase ministro. De novo.  

A sucessão estadual no Acre também serviu como divisor de água. Caso aceitasse o convite de Lula, o ex-governador poderia criar um embaraço nas pretensões do senador Tião Viana. Caso a ex-ministra deixasse claro sua intenção de concorrer ao governo acreano, isso atrapalharia a possível candidatura do atual vice-presidente do Senado à sucessão do governador Binho Marques.  

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Jorge Viana, sempre "bombardeado" pela ala Sarney do PMDB /ABr
 
Desde o início do segundo mandato de Lula, o ex-governador Jorge Viana tenta conquistar um posto na Esplanada. A primeira delas ocorreu no auge do escândalo do mensalão, quando os então ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Relações Institucionais) travavam uma guerra no chamado 'núcleo duro' do poder. Para desanuviar o ambiente, cogitou-se o nome de Viana. Mas, de imediato, foi vetado pelos paulistas (o paulistério). Alagou-se, à época, que o Acre já tinha um ministério — o do Meio Ambiente, ocupado justamente por Marina Silva — e, pela sua pequena musculatura eleitoral, não poderia ficar com mais um.  
  
Mesmo assim, Jorge Viana e seus aliados, entre os quais o irmão, Tião Viana, não se deram por vencidos. Articularam-se, sem sucesso, manter a presidência do Banco da Amazônia (Basa) sob seu controle: ou Mâncio Lima Cordeiro permanecia, ou Jorge iria para seu lugar. A estratégia não deu certo. A recém-eleita governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, venceu a quebra-de-braço, e indicou uma pessoa de sua confiança para o Basa.

Derrota na Sudam

Derrotado, mas não se dando por vencido, o grupo do ex-governador tentou emplacá-lo na recriada Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Perdeu, novamente, a disputa pelo cargo. Desta vez, a derrota não se deu no âmbito do PT. Viana foi derrotado pelos caciques Jáder Barbalho e José Sarney, aliados de primeira hora de Lula, que ganharam do Planalto a chancela de indicar o nome para a Sudam. Por conta das sucessivas derrotas, Jorge Viana buscou emprego na Helicópteros do Brasil S/A (Helibrás).

Agora, com a queda de Marina, os aliados de Viana tentaram recolocá-lo em cena. Mais uma vez, os problemas de outrora apareceram, sepultando de vez as pretensões de Viana ser ministro e se cacifar para disputar, em 2010, uma indicação de peso no âmbito do PT, como a indicação de vice-presidente da República. Tudo porque Lula mudou o script, optou por Carlos Minc, e ao grupo do ex-governador só restou a lacônica constatação de seu irmão, o senador Tião Viana, de que Minc tinha mais perfil para assumir o ministério que o ex-governador. 

Marina expõe a Lula as pedras em seu caminho 

"Caro Presidente Lula,

MINC É O MINISTRO: Jorge Viana perde outra - Gente de OpiniãoVenho, por meio desta, comunicar minha decisão em caráter pessoal e irrevogável, de deixar a honrosa função de Ministra de Estado do Meio Ambiente, a mim confiada por V. Ex. desde janeiro de 2003. Esta difícil decisão, Sr. Presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal.

Quero agradecer a oportunidade de ter feito parte de sua equipe. Nesse período de quase cinco anos e meio esforcei-me para concretizar sua recomendação inicial de fazer da política ambiental uma política de governo, quebrando o tradicional isolamento da área.

Agradeço também o apoio decisivo, por meio de atitudes corajosas e emblemáticas, a exemplo de quando, em 2003, V. Ex. chamou a si a responsabilidade sobre as ações de combate ao desmatamento na Amazônia, ao criar grupo de trabalho composto por 13 ministérios e coordenado pela Casa Civil. Esse espaço de transversalidade de governo, vital para a existência de uma verdadeira política ambiental, deu início à série de ações que apontou o rumo da mudança que o país exigia de nós, ou seja, fazer da conservação ambiental o eixo de uma agenda de desenvolvimento cuja implementação é hoje o maior desafio global.

Fizemos muito: a criação de quase 24 milhões de hectares de novas áreas de conservação federais, a definição de áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em todos os nossos biomas, a aprovação do Plano Nacional de Recursos Hídricos, do novo Programa Nacional de Florestas, do Plano Nacional de Combate à desertificação e temos em curso o Plano Nacional de Mudanças Climáticas.

Reestruturamos o Ministério do Meio Ambiente, com a criação da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro; com melhoria salarial e realização de concursos públicos que deram estabilidade e qualidade à equipe. Com a completa reestruturação das equipes de licenciamento e o aperfeiçoamento técnico e gerencial do processo. Abrimos debate amplo sobre as políticas socioambientais, por meio da revitalização e criação de espaços de controle social e das conferências nacionais de Meio Ambiente, efetivando a participação social na elaboração e implementação dos programas que executamos.

MINC É O MINISTRO: Jorge Viana perde outra - Gente de OpiniãoEm negociações junto ao Congresso Nacional ou em decretos, estabelecemos ou encaminhamos marcos regulatórios importantes, a exemplo da Lei de Gestão de Florestas Públicas, da criação da área sob limitação administrativa provisória, da regulamentação do art. 23 da Constituição, da Política Nacional de Resíduos Sólidos, da Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. Contribuímos decisivamente para a aprovação da Lei da Mata Atlântica.

Em dezembro último, com a edição do Decreto que cria instrumentos poderosos para o combate ao desmatamento ilegal e com a Resolução do Conselho Monetário Nacional, que vincula o crédito agropecuário à comprovação da regularidade ambiental e fundiária, alcançamos um patamar histórico na luta para garantir à Amazônia exploração equilibrada e sustentável. É esse nosso maior desafio. O que se fizer da Amazônia será, ouso dizer, o padrão de convivência futura da humanidade com os recursos naturais, a diversidade cultural e o desejo de crescimento. Sua importância extrapola os cuidados merecidos pela região em si, e revela potencial de gerar alternativas de resposta inovadora ao desafio de integrar as dimensões social, econômica e ambiental do desenvolvimento.

Hoje, as medidas adotadas tornam claro e irreversível o caminho de fazer da política socioambiental e da economia uma única agenda, capaz de posicionar o Brasil de maneira consistente para operar as mudanças profundas que, cada vez mais, apontam o desenvolvimento sustentável como a opção inexorável de todas as nações.

Durante essa trajetória, V. Ex. é testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade. Ao mesmo tempo, de outros setores tivemos parceria e solidariedade. Em muitos momentos, só conseguimos avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoal. No entanto, as difíceis tarefas que o governo ainda tem frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para a agenda ambiental. 

Tenho o sentimento de estar fechando o ciclo cujos resultados foram significativos, apesar das dificuldades. Entendo que a melhor maneira de continuar contribuindo com a sociedade brasileira e o governo é buscando, no Congresso Nacional, o apoio político fundamental para a consolidação de tudo o que conseguimos construir e para a continuidade da implementação da política ambiental. 

Nosso trabalho à frente do MMA incorporou conquistas de gestões anteriores e procurou dar continuidade àquelas políticas que apontavam para a opção de desenvolvimento sustentável. Certamente, os próximos dirigentes farão o mesmo com a contribuição deixada por esta gestão. Deixo seu governo com a consciência tranqüila e certa de, nesses anos de profícuo relacionamento, temos algo de relevante para o Brasil. 

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos. 

Marina Silva"

 Fonte: Montezuma Cruz - agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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