Quarta-feira, 23 de junho de 2010 - 15h04
RONDÔNIA DE ONTEM
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
– Eu nunca trabalharia com os recursos que vocês têm aqui. Podem se considerar heróis – comentou o ministro da Previdência Social, Jair Soares, ao percorrer, de surpresa, unidades hospitalares de Porto Velho. A maioria era carente de recursos ainda não havia sido inaugurado o Hospital de Base Ary Pinheiro.
Na manhã daquele sete de maio de 1979, os hospitais de Porto Velho expunham suas feridas causadas pela falta de equipamentos, material cirúrgico e, sobretudo, de profissionais. O olhar generoso do ministro lhe permitiu fazer o elogio. Ou seria também um desabafo, já que nos estados do sul e do sudeste a realidade era bem mais confortável?
De braços dados com o então secretário de saúde, Walter Amoras, o ministro gaúcho caminhou pouco mais de uma hora pela cidade, até que deparou com o ambulatório do Inamps. Aí, indignou-se, porque notou menos de 30 servidores atendendo ao público.
– Só esse pessoal? Tem que ter pelo menos três vezes mais, para atender às necessidades de vocês! – proclamou, diante de olhares atônitos e, ao mesmo tempo, alegres. Aos poucos o burburinho invadia a repartição: “É o ministro!” – diziam uns aos outros, acompanhando passo a passo a visita.
A presença de um ministro nas dependências hospitalares e da Previdência Social, até então algo nunca visto no Território Federal, sacudiu um pouco o modus operandi do governo federal em relação aos dependentes da saúde pública. Tanto que Soares deixou Porto Velho se comprometendo a pagar, de 30 em 30 dias, as dívidas previdenciárias. E acenou com a instalação de uma superintendência do Inamps (mais tarde INSS), já que Rondônia era jurisdicionada ao Estado do Acre.
O futuro estado merecia melhor tratamento. Comércio e indústria arrecadavam bem no interior já povoado por migrantes procedentes de diversas regiões. Há 31 anos, Ji-Paraná, por exemplo, recolhia 2,5 milhões de cruzeiros mensalmente à Previdência Social. Sem nada receber em troca, registre-se.
Amoras trabalhava praticamente sem recursos e autonomia orçamentária e financeira, já que o território dependia diretamente das injeções financeiras de Brasília. Enfrentava organogramas defasados, não dispunha de leitos hospitalares e via aumentar, a cada mês, as necessidades das cidades ao longo da BR-364, que recebiam a maior corrente migratória da história da Amazônia.
Até hoje, o município de Porto Velho estende-se até a região da Ponta do Abunã, tornando-se um dos maiores do mundo em termos de saúde pública. Essa situação permite ao governo estadual convocar os consórcios construtores das usinas hidrelétricas do Rio Madeira a investir no atendimento às milhares de pessoas convocadas para construí-las. Evidentemente, também para socorrer aquelas que habitam a região desde o século passado.
Alguns se lembram de Walter Amoras no comando da saúde rondoniense. Comportou-se como um entusiasta, pois, na condição de sanitarista, fez o que pôde para manter em dia as estatísticas do ataque da malária, doença endêmica sempre tratada aqui mesmo, com uma série de medicamentos à base de quinino. Aquele secretário atuou no governo do coronel Jorge Teixeira de Oliveira, oTeixeirão, trabalhou duro, destacou-se, e foi reconhecido porque examinava os problemas na palma da mão. Só não possuía os recursos necessários à recuperação dos antigos hospitais e clínicas, algo possível só após a transformação do território em estado.
Ao que saiba, Amoras permaneceu no sacerdócio médico assumindo postos administrativos no Estado do Pará. Não estranharia se acaso aqui retornasse e notasse que os problemas apenas aumentaram, devido ao crescimento da população, mas, sobretudo, à eterna carência de recursos financeiros e humanos, vez ou outra prejudicados por desvios da verba pública.
Talvez Amoras se entristecesse com a ganância e o oportunismo do ser humano, que a tal ponto chegaram, fazendo desaparecer remédios de hospitais públicos, entre os quais, o João Paulo II.
Há pouco tempo fui conhecer o reformado Hospital Bom Pastor, em Guajará-Mirim. Ali, ouvi da diretora, Marlene Avansi, que o único médico anestesista da cidade recebia R$ 20 mil mensais de salário para atender em dois hospitais. Ainda faltam médicos de todas as especialidades nesta parte da Amazônia.
A recepção oferecida por Amoras ao ministro da Previdência, naquele 1979, levando-o a inesperadas visitas aos postos e hospitais, teve, portanto, um significado especial para o estado que estava nascendo.
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