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Montezuma Cruz

MOSQUITO CAPTURADO NA TORRE


  

Mosquito da febre amarela é 
capturado numa torre na selva, 
com chuva, durante o dia


ANTONIO FAUSTO (*)
contato@agenciaamazonia.com.br

BELÉM, PA – As pessoas que vivem e trabalham na região da Floresta Nacional de Caxiuanã têm que ser vacinadas contra a febre amarela. O alerta é do pesquisador Bento Mascarenhas, da Coordenação de Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi e co-orientador da dissertação de mestrado de Claudeth de Souza Pinto, intitulada "Ecologia de Culicídeos Vetores de Febre Amarela Silvestre em relação ao Microclima na Floresta Nacional de Caxiuanã–Melgaço, no Pará. 

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito da Pós-Graduação em Zoologia, mantida pelo Museu Goeldi em parceria com a Universidade Federal do Pará. O estudo integra também o subprojeto "Estratificação Vertical de Culicídeos em relação ao Microclima em Floresta de Terra Firme", feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Museu Emilio Goeldi e Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, financiado pelo Instituto Interamericano de Pesquisas em Mudanças Ambientais Globais.

O trabalho vai analisar de que forma as condições climáticas, tais quais temperatura, umidade e intensidade das chuvas, interferem na distribuição dos mosquitos vetores de febre amarela silvestre na Floresta Nacional de Caxiuanã, que fica no município paraense de Melgaço, no arquipélago do Marajó. Para tanto, o local escolhido para coletar os mosquitos foi a torre de medição micro-meteorológica de Caxiuanã, que mede aproximadamente 50 metros de altura.

MOSQUITO CAPTURADO NA TORRE - Gente de Opinião
Ele aparece com mais freqüência em período chuvoso /MNO&CASTRO

Mais de 25 mil mosquitos 
 
Ao longo da torre de Caxiuanã, foram coletados mosquitos na região do solo e nas alturas de 8, 16 e 30 metros. Ao fim do período de coleta, compreendido entre julho de 2005 e abril de 2006, Claudeth Pinto obteve 25.498 mosquitos. Desses, 1.530 são vetores em potencial da febre amarela silvestre. Destes, 1.028 pertencem ao gênero Haemagogus e 502 do gênero Sabethes.

"Os mosquitos vetores de febre amarela silvestre só ocorrem durante o dia, das 8h às 18h, e a temperatura e umidade do ar influenciam diretamente na ecologia (interação desses mosquitos com o ambiente físico em que se encontram) e no hábito alimentar desses insetos", explica Bento Mascarenhas.

Segundo ele, os mosquitos vetores de febre amarela silvestre podem chegar ao solo em horários diferentes do dia, dependendo das condições climáticas, o que facilita a interação desses insetos com o homem, podendo haver a transmissão da febre amarela silvestre. "Verificamos também que, quanto mais intenso é o período de chuvas, maior é a presença desses vetores", complementa o pesquisador. Mascarenhas afirma também que, dos mosquitos vetores encontrados na região de Caxiuanã, os mais perigosos são os da espécie Haemagogus leucocelaenus, pois vivem na altura compreendida entre o solo até 8 metros de altura.

Macacos, morcegos e roedores são reservatórios da febre amarela silvestre, ou seja, podem conter o vírus da doença, mas não a transmitem ao homem, pois há necessidade do vetor silvestre, que é o mosquito. Dentre os 1.530 vetores da doença encontrados na Floresta Nacional de Caxiuanã, está o Haemagogus leucocelaenus, espécie que vive nas regiões mais baixas da Floresta.

O pesquisador ressalta a necessidade de realizar um trabalho preventivo na região de Caxiuanã, como palestras para a comunidade, a fim de evitar a disseminação da doença, visto que a Floresta apresenta animais que funcionam como reservatórios e mosquitos vetores da febre amarela silvestre.

Febre amarela

A febre amarela é uma zoonose (doença de animais) transmissível ao homem. Causada por um vírus, ela é freqüente entre os macacos, sendo adquirida acidentalmente pelo homem, que é um hospedeiro pouco importante no ciclo da doença. A doença existe em duas formas: a febre amarela silvestre e a febre amarela urbana, que diferem apenas no mecanismo de transmissão.

A erradicação da febre amarela silvestre é impossível porque o vírus existe naturalmente nas matas, entre os vetores silvestres e alguns animais vertebrados, como os macacos. A febre amarela urbana está erradicada no Brasil desde 1942.

Bento Mascarenhas explica que a diferença entre a febre amarela silvestre e a febre amarela urbana está no vetor e no reservatório, visto que os sintomas são os mesmos em ambos os casos. No caso da febre amarela urbana, o reservatório é o homem e o vetor é o mosquito Aedes aegypti, o mesmo responsável pela transmissão da dengue.

O pesquisador frisa que, enquanto os mosquitos vetores da febre amarela silvestre deslocam-se, em média, até 2 quilômetros de distância, o Aedes aegypti voa, no máximo, por 200 metros. Isso interfere diretamente na disseminação das doenças e torna ainda mais preocupante uma epidemia na região silvestre.

(*) Repórter da Agência Museu Goeldi

Fonte: Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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