Domingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

MUSEU DA MEMÓRIA

"Não é uma exposição, é uma sala de estudos", desabafa Rita Queiroz ao cobrar consolidação do Museu da Memória


Fotos Leandro Morais - Gente de Opinião
Fotos Leandro Morais

A artista plástica Rita Queiroz trocou a vida confortável do apartamento na Rua Farm de Amoedo, em Ipanema, no Rio de Janeiro, para retornar a Porto Velho em 1980. Era casada com o segundo marido, o maranhense Barros Coelho, e conforme conta, voltou para reencontrar suas raízes.

Há dois anos e meio ela doou todo o acervo pessoal ao Museu da Memória Rondoniense, mas se confessa apreensiva com a demora na instalação dos equipamentos necessários às salas onde estão seus quadros e o acervo amazônico de lendas e histórias.

“Não é uma exposição, é sala de estudos”. Com a instalação de um aparelho de TV, o museu poderá exibir documentários com diversos temas regionais.

O espaço permanente  para exposição e preservação do patrimônio histórico e cultural da artista plástica foi cedido pelo governo estadual pela Lei nº 3.964, de 21 de dezembro de 2016. No alto da parede, a pintura a óleo sobre tela ensina: “Na mata, tudo é mistério”.

Atualmente, a artista nascida no Seringal Santa Catarina, no Baixo Madeira, se esforça até financeiramente para pôr em ordem tudo o que foi levado ao palácio. Já carregou cavaletes nas costas, fez almoço para colaboradores e desembolsou dinheiro para aquisição de peças essenciais.

Às 9h30 da manhã de segunda-feira (1º) ela chegou ao prédio manifestando a vontade de ver tudo funcionando rigorosamente bem. Procurava nos armários e nas estantes com coleções, quatro exemplares de jornais portugueses que relataram o seu trabalho. Rita divulgou no mundo história e lendas amazônicas. Tem um baú cheio de documentos dos lugares por onde passou, mostrando a Rondônia cabocla.

“A nova geração vem aqui e aprende quem foram e o que fizeram essas pessoas”, assinalou. Óleos, ervas para diversos chás, e garrafadas, entre elas a do casamento, ali estão. Segundo Rita, essa cultura se perdeu ao longo dos anos. “Minha babá Raimunda morreu em 2017, depois de inteirar cem anos, e tinha muito a contar”, lembra.

Em frente à máquina de tecelagem, uma pintura mostra a poluição atacando peixes e a mãe d’água querendo cuidar.  “Descamação celular”, produzido a partir de roupas e lençóis da pintora, é o grito de alerta da natureza com esperança de renovação. Estas e outras peças fazem parte da exposição Andando pelas picadas. 

Roupas, tecelagem e o boi de caixa: folclore regional no arraial “Caminho da roça”


















Para editar Lendas da Amazônia e Contadoras de História, Rita obteve recursos do Banco da Amazônia (Basa). Quando alcançava o público infantil dos beiradões do rio Madeira, o programa Ponto de Cultura, Arte e Vida do Rio Madeira foi paralisado em sua terceira versão, entristecendo a artista. “Mães mães, pais e crianças haviam visitado o seringal Santa Catarina e aprenderam muita coisa boa, até vitral e mosaico”, conta.

Detidamente, Rita mostra a rendeira, o boi de caixa, as meninas vestidas de chita e renda, a fogueira com bambus –também custeados, recentemente, com seus próprios recursos. “Visitei escolas públicas, cativando diretores, professores e alunos, e muitos aqui já vieram”, diz quando ao chegar perto da mandala “que dá volta ao mundo e faz a volta às raízes”.

Mística, ela retira dois livros do chão da canoa denominada SOS Ribeirinhos do Rio Madeira e os presenteia aos repórteres: O fim da Atlântida, de Otto Muck, e Os Essênios  e os Manuscritos do Mar Morto), de Fernando Moretti.

Atrás de cada árvore existe um ser extraordinário. A floresta amazônica e seus rios, igarapés, lagos, bamburrais, igapós, vêm formando o cenário perfeito para emoldurar essa fantástica diversidade do imaginário – está escrito em letra de mão numa tela de natureza morta.

Quando para em frente ao óleo sobre tela com o seringal Santa Catarina, Rita elogia a paciência e a resignação dos ribeirinhos que enfrentaram a cheia de 2014, a maior em 30 anos. “O caboclo está acostumado, todo ano fica um pouco embaixo d’água”.

























O Museu da Memória Rondoniense está localizado na antiga sede do governo estadual, no Palácio Presidente Vargas, Rua Dom Pedro II, 1600 – Centro. As visitas podem ser realizadas de segunda à sexta, das 9h às 17h.  

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Taxa de 30% sobre remessas internacionais enviadas desde os EUA, acima de US$ 200, auxiliaria política imigratória, sugere Samuel Saraiva ao Governo Norte-Americano

Taxa de 30% sobre remessas internacionais enviadas desde os EUA, acima de US$ 200, auxiliaria política imigratória, sugere Samuel Saraiva ao Governo Norte-Americano

O cidadão Samuel Sales Saraiva propôs nesta quarta-feira ao presidente dos Estados Unidos, estudos técnicos legislativos ou medidas executivas feder

De cada 60 homens que partiam, dez morriam e 20 ficavam doentes; libras de ouro circulavam em Santo Antônio (2)

De cada 60 homens que partiam, dez morriam e 20 ficavam doentes; libras de ouro circulavam em Santo Antônio (2)

Quando o nível do rio permitia, o transbordo obedecia à correnteza nas cachoeiras Jirau, Ribeirão e Teotônio, no Rio Madeira. Santo Antônio, via circu

Saraiva sugere a Trump conclamar cidadãos a ajudar Polícia Federal de Imigração com informações que permitam a prisão e deportação de criminosos e fugitivos

Saraiva sugere a Trump conclamar cidadãos a ajudar Polícia Federal de Imigração com informações que permitam a prisão e deportação de criminosos e fugitivos

Em carta enviada ao Presidente Donald Trump, com cópia para a direção da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE), o cidadão americano Samuel Saraiva

Novo livro de Lúcio Flávio revela paixão pela floresta

Novo livro de Lúcio Flávio revela paixão pela floresta

Jornalista mais premiado da história na Região Norte, de acordo com o Ranking + Premiados da Imprensa Brasileira 2024, Lúcio Flávio Pinto acaba de lan

Gente de Opinião Domingo, 23 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)