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Montezuma Cruz

MUSEU DA MEMÓRIA

"Não é uma exposição, é uma sala de estudos", desabafa Rita Queiroz ao cobrar consolidação do Museu da Memória


Fotos Leandro Morais - Gente de Opinião
Fotos Leandro Morais

A artista plástica Rita Queiroz trocou a vida confortável do apartamento na Rua Farm de Amoedo, em Ipanema, no Rio de Janeiro, para retornar a Porto Velho em 1980. Era casada com o segundo marido, o maranhense Barros Coelho, e conforme conta, voltou para reencontrar suas raízes.

Há dois anos e meio ela doou todo o acervo pessoal ao Museu da Memória Rondoniense, mas se confessa apreensiva com a demora na instalação dos equipamentos necessários às salas onde estão seus quadros e o acervo amazônico de lendas e histórias.

“Não é uma exposição, é sala de estudos”. Com a instalação de um aparelho de TV, o museu poderá exibir documentários com diversos temas regionais.

O espaço permanente  para exposição e preservação do patrimônio histórico e cultural da artista plástica foi cedido pelo governo estadual pela Lei nº 3.964, de 21 de dezembro de 2016. No alto da parede, a pintura a óleo sobre tela ensina: “Na mata, tudo é mistério”.

Atualmente, a artista nascida no Seringal Santa Catarina, no Baixo Madeira, se esforça até financeiramente para pôr em ordem tudo o que foi levado ao palácio. Já carregou cavaletes nas costas, fez almoço para colaboradores e desembolsou dinheiro para aquisição de peças essenciais.

Às 9h30 da manhã de segunda-feira (1º) ela chegou ao prédio manifestando a vontade de ver tudo funcionando rigorosamente bem. Procurava nos armários e nas estantes com coleções, quatro exemplares de jornais portugueses que relataram o seu trabalho. Rita divulgou no mundo história e lendas amazônicas. Tem um baú cheio de documentos dos lugares por onde passou, mostrando a Rondônia cabocla.

“A nova geração vem aqui e aprende quem foram e o que fizeram essas pessoas”, assinalou. Óleos, ervas para diversos chás, e garrafadas, entre elas a do casamento, ali estão. Segundo Rita, essa cultura se perdeu ao longo dos anos. “Minha babá Raimunda morreu em 2017, depois de inteirar cem anos, e tinha muito a contar”, lembra.

Em frente à máquina de tecelagem, uma pintura mostra a poluição atacando peixes e a mãe d’água querendo cuidar.  “Descamação celular”, produzido a partir de roupas e lençóis da pintora, é o grito de alerta da natureza com esperança de renovação. Estas e outras peças fazem parte da exposição Andando pelas picadas. 

Roupas, tecelagem e o boi de caixa: folclore regional no arraial “Caminho da roça”


















Para editar Lendas da Amazônia e Contadoras de História, Rita obteve recursos do Banco da Amazônia (Basa). Quando alcançava o público infantil dos beiradões do rio Madeira, o programa Ponto de Cultura, Arte e Vida do Rio Madeira foi paralisado em sua terceira versão, entristecendo a artista. “Mães mães, pais e crianças haviam visitado o seringal Santa Catarina e aprenderam muita coisa boa, até vitral e mosaico”, conta.

Detidamente, Rita mostra a rendeira, o boi de caixa, as meninas vestidas de chita e renda, a fogueira com bambus –também custeados, recentemente, com seus próprios recursos. “Visitei escolas públicas, cativando diretores, professores e alunos, e muitos aqui já vieram”, diz quando ao chegar perto da mandala “que dá volta ao mundo e faz a volta às raízes”.

Mística, ela retira dois livros do chão da canoa denominada SOS Ribeirinhos do Rio Madeira e os presenteia aos repórteres: O fim da Atlântida, de Otto Muck, e Os Essênios  e os Manuscritos do Mar Morto), de Fernando Moretti.

Atrás de cada árvore existe um ser extraordinário. A floresta amazônica e seus rios, igarapés, lagos, bamburrais, igapós, vêm formando o cenário perfeito para emoldurar essa fantástica diversidade do imaginário – está escrito em letra de mão numa tela de natureza morta.

Quando para em frente ao óleo sobre tela com o seringal Santa Catarina, Rita elogia a paciência e a resignação dos ribeirinhos que enfrentaram a cheia de 2014, a maior em 30 anos. “O caboclo está acostumado, todo ano fica um pouco embaixo d’água”.

























O Museu da Memória Rondoniense está localizado na antiga sede do governo estadual, no Palácio Presidente Vargas, Rua Dom Pedro II, 1600 – Centro. As visitas podem ser realizadas de segunda à sexta, das 9h às 17h.  

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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