Segunda-feira, 28 de julho de 2008 - 14h39
Índios do Xingu salvam em livros
línguas ameaçadas de extinção
JOSANA SALES
Agência Amazônia
CUIABÁ, MT – De uma só vez, nesta quarta-feira, às oito horas, no Museu Rondon da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o Programa de Educação Superior Indígena Intercultural (Proesi) lançará quatro livros da Série Experiências Didáticas, escritos por professores e alunos da etnia Ikpeng (área central do Parque Indígena do Xingu, conhecido como Médio Xingu). Os livros: Irwa, Ga, Orong e Ikpeng Ungwopnole são de autoria dos professores Iokore Kawakum Ikpeng, Korotowi Taffarel, Maiuá Meg Poanpo Txicão e organizados pelos coordenadores do Proesi, Elias Januário e Fernando Selleri Silva. Todas as ilustrações são produzidas pelos indígenas.
O Proesi funciona há dez anos. Suas publicações são organizadas nas séries: Experiências Didáticas, com livros escritos nas línguas-mãe e utilizados nas salas de aulas nas aldeias indígenas; Práticas Interculturais, que organiza e divulga textos e ilustrações de professores e alunos indígenas que relatam seus mitos, conflitos, costumes e saberes das mais diversas etnias mato-grossenses em português.
O dia-a-dia e a luta do índio
Boa parte dos livros dos quais fazem parte textos de 34 etnias narram o modo de fazer roças, a culinária indígena e restrições alimentares, os problemas da luta pelos territórios indígenas e os marcadores do tempo, formas de observar o clima e regime de chuvas sempre através dos animais , das estrelas e os rios.
O Proesi forma professores indígenas, abrindo espaço nos cursos de bacharelado e nos cursos regulares. Possui hoje 275 estudantes na graduação, 50 na especialização e, este ano, dois jovens da etnia Ikpeng, Korotowi Taffarel e Maiuá Meg Poanpo Txicão concorreram com 52 pessoas e passaram no curso de mestrado em Ciências Ambientais na Unemat de Cáceres.
Para Elias Januário, as publicações da produção acadêmica gerada por professores e alunos possibilitam às nações indígenas e à sociedade brasileira a criação de um canal de comunicação, o que facilita o entendimento e a longo prazo pode derrubar preconceitos.
Ikpeng considera importante poder documentar a história do seu povo /DIVULGAÇÃO |
"Estamos no mundo"
Morador da aldeia Moigi, no posto Pavuru onde ficam os Ikpeng no Médio Xingu, o aluno mestrando Maiuá comenta com entusiasmo de estudante o fato de ter concorrido com tantas pessoas e ter conseguido a vaga no mestrado. Além disso o jovem Ikpeng considera um ato positivo para a sobrevivencia do seu povo poder agora documentar a sua história. Eles ainda são considerados temidos guerreiros do Parque.
Com grande interesse ele diz que pretende saber tudo sobre as leis brasileiras e como são interpretadas. "Queremos saber do olhar do branco para as leis e principalmente em relação ao meio ambiente porque nossa sobrevivência depende disso, inclusive com relação a saúde", disse.
Segundo Maiuá, os índios sempre enfrentam preconceitos, principalmente nas salas de aulas dos cursos superiores. "Eles acham que tem mais conhecimento ou que a história deles é mais importante do que a nossa. Não é assim, somos capazes e fortes. E meu povo, os Ikpeng, quando saem para as cidades dos brancos, vamos em busca de conhecimento mas em seguida levamos tudo para o nosso povo, é para eles que estamos tentando entender o que acontece aqui fora", disse.
Uma vitória contra o preconceito. Alunos e professores conquistam espaço /DIVULGAÇÃO |
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