Terça-feira, 17 de abril de 2018 - 16h58
MONTEZUMA CRUZ
Quase um ano atrás, deixei o Facebook. Confesso que a dita aldeia global cantada por Mc Luhan antecipava esse imenso big brother de hoje. Explico quem é ele no final do texto. Vendem dados seus, meus, de milhões de pessoas aqui e no mundo. Supõem que todo ser humano na face da terra seja consumista 24 horas.
O Facebook usa informações pessoais de seus usuários, direcionando anúncios para um público específico. Isso cresceu muito de três anos para cá.
Convocado para depor no Congresso dos EUA, o dono da empresa, Sr. Mark Zuckerberg, tenta se explicar a respeito da revolução provocada na cabeça das pessoas. Nem todas, porque algumas votam de quatro em quatro anos, adoram ver a foto da carne do churrasco da vizinha, compram até o que não podem pagar, e nem aí estão para os métodos dessa rede social.
Especialistas explicam: ao criar um anúncio, em forma de post, é possível discriminar quais as características dos indivíduos a serem alcançados pelo conteúdo.
Esses usuários podem ser selecionados com base em detalhes banais [idade e gênero], mais refinados [localização e renda] e até mais complexos [preferências políticas, culturais etc].
Aos 48 anos de profissão e 65 de vida neste planetão fantástico, penso e repenso se volto ao Facebook.
Antigamente, peças publicitárias vinham pelos correios. Rádio e jornal e TV faziam iguais aos dias de hoje, porém, com alguma suavidade. Agora, a gente liga o computador, o celular, e dá de cara com uma infinidade de produtos. Talvez seja essa a modificação que ameaçou devorar meus neurônios.
Não quero comprar nada de especial, apenas me comunicar com algumas pessoas e comemorar alguma vitória. Obviamente, há milhões de pensamentos diferentes do meu. Vai ver, começo a ser um ermitão.
Entre outros bons momentos nessa rede social, localizei amigos do tempo de infância e professores lá nos anos 1960. Que bom! Pude manifestar-lhes a gratidão de ter convivido e aprendido com eles.
No entanto, assusto-me com esse fascinante domínio exercido pela empresa do Sr. Zuckerberg até mesmo sobre o destino das pessoas, pois é notório que o Facebook constrói e estrangula amizades, sobretudo com a cultura do ódio tão disseminada como se encontra desde 2017.
Seria este repórter um jurássico avesso à modernidade comercial? Moderna sim, mas perigosa para o bolso, eis a questão.
E aí vem o cinismo: “Os anunciantes não sabem quem são as pessoas a quem enviarão propaganda, apenas a que grupo pertencem”. Ora, ora...
Gente, esse assunto pode espichar. Contenho-me ao me deparar com esses percentuais bilionários. É demais para um jornalista que paga aluguel de casa desde 1974, não tem carro nem terreno, não joga na mega nem no Rondoncap, anda de ônibus e sempre que pode, compra no mercadinho de seuJurandir, na Avenida Calama.
Aí estão eles:
86% dos US$ 110,8 bilhões faturados pelo Google vêm da publicidade;
86,6% dos US$ 2,4 bilhões faturados pelo Twitter vêm da publicidade;
98% dos US$ 40,6 bilhões faturados pelo Facebook vêm da publicidade.
“Se você for der uma olhada na lista das maiores empresas do mundo, vai verificar que as maiores delas não possuem bens, como ativos, mas dados pessoais”, afirma Danilo Doneda, professor do Instituto de Direito Público (IDP) e especialista em privacidade e proteção de dados.
Ou seja: eu, amigos, conhecidos e esse mundão de usuários do Facebook, somos joguetes nas mãos da poderosa empresa do Sr.Zuckerberg.
Então, tudo bem. Se eu voltar, escrevam: fui devidamente seduzido e não me importarei com tantos anúncios no meio de minhas mensagens.
NOTA
Herbert Marshall McLuhan nasceu no Canadá e se destacou como educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação. Ficou conhecido mundialmente por vislumbrar a Internet quase 30 anos antes de ser inventada. Cunhou o termo aldeia global. Sua máxima:“O meio é a mensagem”.
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