Sábado, 11 de setembro de 2010 - 17h06
No Acre, ração para galinhas é feita com raspas de talos e folhas de mandioca /FOTOS MONTEZUMA CRUZ |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
KM 72 DA RODOVIA TRANSACREANA, Acre – Desde 1992, os moradores da Colônia São José, a Gleba A do Incra sonham escoar confortavelmente suas safras para Rio Branco. Alguns mecanizaram as lavouras e formaram uma associação com 16 sócios para fabricar farinha de mandioca. Ganharam do governo estadual um trator, uma ensacadeira, um barracão e R$ 160 mil do Programa Mais Alimentos.
A rodovia Transacreana (AC-90) liga Rio Branco à margem do Rio Iaco, no município de Sena Madureira, na região do Purus. Já tem mais de 60 quilômetros asfaltados, dos 115 km entre os dois extremos.
Os duzentos quilos de ração seca concentrada, produzidos semanalmente, tiram o grupo de uma fase marcada pelo desalento. O governo acreano promete que o gargalo do transporte tem os dias contados. Até então, nesse trecho da estrada, eles têm dificuldade para trafegar por um ramal de 20 km, com piçarras, em péssima condição. Por ali só ‘freteiros’ deram conta de completar a viagem, no ano passado.
– Foi muita humilhação e teve uns que desistiram – conta o associado José Mendes de Araújo. Segundo o secretário municipal de Agricultura, Mauro Fadel, o atendimento geral aos ramais acreanos virá por meio de emendas parlamentares. O Estado do Acre totaliza mais de oito mil quilômetros de pequenos caminhos, vitais para o escoamento das safras.
Araújo: ramal conservado é tão importante quanto o dinheiro do financiamento |
Ceasa anima agricultores
No lugar conhecido por Beija-Flor havia até o início deste ano 50 hectares de mandioca, milho verde e frangos. Possuem 500 matrizes de galinha caipira pura. Segundo outro associado, José da Silva Cunha, eles também planejam piscicultura e querem fornecer leite para laticínios.
Ranísio Alves de Souza cultiva 15 mil pés de mandioca das variedades “paxiubão” e “manteguinha”, produzindo farinha para o sustento. Na região cortada pela rodovia, o saco de 50 quilos de farinha está cotado a R$ 50.
Os associados também já vislumbraram a possibilidade de construir um abatedouro e instalar uma câmara de resfriamento no local. Daí, a carne chegaria às bancas da Ceasa, que funciona desde meados deste ano em Rio Branco. Treze caminhões transportam gratuitamente grãos, castanha e produtos orgânicos de diferentes pólos produtores do município de Rio Branco.
– O primeiro lote sai com 90 dias, a mais de R$ 6 o quilo. Quem sabe, a gente consegue até mais que isso – prevê Araújo.
A pecuária leiteira requer largo planejamento, agora com o apoio da Embrapa, que dispõe de um caminhão-baú para levar modernas tecnologias aos 22 municípios acreanos. Até então, isso era impossível e o planejamento rural não passava de ficção. Futuramente, além da ração, eles esperam aproveitar a manipueira (líquido leitoso da mandioca), que alcançaria no mercado pelo menos 70 centavos o litro.
A associada Maria da Penha Nascimento acredita na atual fase de mobilização do grupo:
– Está dando certo: nós temos carpinteiro, pedreiro, serrador e eletricista, todos profissionais. Veja aí o nosso galpão, ele saiu em oito dias. Desfeito o temor da desistência, a associação se une a cada dia para evitar o surgimento de chácaras ou grande propriedades na região.
Trituradora esmaga talos e folhas para fazer o melhor alimento para o plantel de aves |
Pronaf para milho, galinhas e mandioca
RODOVIA TRANSACREANA – No Km 52 da rodovia, o superintendente do Banco da Amazônia S/A, Marivaldo Melo e representantes do governo acreano assinaram com os produtores da região duas modalidades do Pronaf: o B, no valor de R$ 52 mil, pelo qual eles recebem em média R$ 2 para cada galinha criada, com taxa de juros de apenas 0,5% ao ano. Pronaf é a sigla do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.
– Nesse modelo de financiamento, eles têm condições de iniciar alguma atividade produtiva – assinalou Melo, na semana passada. O Acre planta milho na segunda quinzena de setembro. No ano passado, em mais de 15 mil hectares os agricultores obtiveram mais de 400 mil sacos.
O Pronaf AF destinará R$ 573,7 mil para o custeio da formação de 335 hectares de milho e 74 ha de mandioca. Os juros são de 3,5% anuais, com o prazo de pagamento para dois anos. Cada produtor receberá em média R$ 18,5 mil Três casas de farinha foram construídas.
– Isso consolida as cadeias produtivas da farinha de mandioca e de aves – comentou o secretário de Produção Familiar e Extensão Agroflorestal, Nilton Cossons. Segundo explicou, os projetos aprovados pelo Basa fortalecem também as metas do Programa Estadual do Ativo Ambiental e de Certificação das Propriedades.
Das 57 famílias de produtores familiares beneficiados com crédito na região, 31 trabalham com mandioca e milho, e 26 com a criação de galinha caipira e mandioca. (M.C.)
Até há pouco tempo isolados e sem recursos, pequenos produtores serão grandes brevemente |
SERIA UMA ESTRADA DE FERRO
● Seu traçado atual vai de Rio Branco ao Rio Iaco, cobrindo áreas habitadas por pequenos agricultores e extrativistas.
● Em 1905, Euclides da Cunha, então chefe da Expedição de Reconhecimento do Alto Purus, concluiu seu relatório recomendando a construção de uma ferrovia que teria o nome de Transacreana.
● Seria uma das principais medidas estratégicas para facilitar a integração regional e internacional, com vistas à futura saída para os portos do Oceano Pacífico.
Galinhas: 400 matrizes de caipiras melhoram o padrão dos avicultores da Transacreana |
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