Quarta-feira, 9 de março de 2011 - 11h04
Crianças desfrutam os bons momentos do passeio. No segundo semestre do ano, o leito do rio fica mais baixo /MONTEZUMA CRUZ |
ANA MARIA MEJIA
Especial para Amazônias
GUAJARÁ-MIRIM – Dois toques no sino é o sinal de que o barco Karine inicia mais uma viagem. Dessa vez, curta. Segue na velocidade que varia entre cinco e seis quilômetros/hora. Sai do porto fluvial da cidade rumo às praias que aparecem a partir de outubro, ponto alto da seca nos rios da região. Portanto, conheça a região no segundo semestre do ano.
Minutos depois a Ilha Conrado surge à frente da embarcação. Estreita, comprida, divisor de rios: à direita, o Mamoré barrento e rápido. À esquerda, o Pacaás-nova, de águas menos barrentas e tranqüilas. Pelo Mamoré segue a maioria dos barcos rumo ao Guaporé e à Bolívia. Várias famílias vivem nessa ilha, onde cultivam hortas em espaços improváveis.
No barco, adultos e crianças se agitam – primeiro inspecionando detalhes do próprio barco e a variedade de imagens que surgem na medida em que se avança. Ocupam uma canoa ao lado do barco, apanham água do rio e se molham. Logo, a cozinheira e dona da ‘casa’ Maria José serve um petisco de peixe frito. Delícia!
José Carlos Gabriel de Castro, 46, o piloto, não se incomoda com o burburinho das pessoas. Para ele navegar não é trabalho, é lazer. No entanto, reconhece que é preciso ficar atento aos bancos de areia, pedras e pedaços de pau que aparecem rapidamente. “Tem sempre o perigo de bater”, diz.
Os olhos se apertam, a cabeça de um animal aparece na água: é uma tartaruguinha, gritam os tripulantes. Nas barrancas do rio, próximos em áreas de margem, árvores expõem suas raízes, galhos secos, arquiteturas, obras de arte esculpidas pela natureza.
Árvores tortas nascidas à beira-rio chamam a atenção. Sucatas de embarcações deixadas pelo homem nas barrancas ganham posições e contornos que desafiam a lei da gravidade. Algumas ficam penduradas durante o verão e o inverno chuvoso amazônico.
Hotel de selva visto do rio
Do rio se vê o Pakaas Palafitas Lodge, hotel com restaurante panorâmico, salas de ginásticas, piscina, 28 cabanas interligadas por passarelas, no nível das copas das árvores proporcionando uma visão aérea privilegiada da selva. Foi construído para abrigar turistas que só vêm de vez em quando e têm o privilégio de dirigir o olhar para o rio.
Mais vinte minutos de viagem, surgem as primeiras pedras. O rio se estreita, fim da Ilha Caetano. Rapidamente o Rio Pacaas-nova volta ao curso regular para essa época do ano – 1,3 km de extensão, segundo informa o piloto Gabriel.
Não há vento. Na manhã calorenta e sob o sol de quase meio-dia uma gaivota solitária cruza os céus. Acompanhando o seu vôo com o olhar se percebe que até onde a vista alcança se enxerga água, árvores, troncos. No meio da monotonia dos tons verde, marrom um azul que se vê ao longe chama a atenção: um pesqueiro, onde se lê Colônia de Pescador Z-20 Guajará-Mirim. “Aí se cria tambaqui”, explica Jaime Rodrigues da Costa, o dono do barco e anfitrião desse grupo.
A casa no barco
Aos 63 anos, dos quais 40 vividos na cidade, já aposentado, seu Jaime optou por morar no barco para não pagar aluguel na cidade. “Nessas reviravoltas da vida, perdi a casa e como andava muito de barco por esses rios, decidi comprar esse aqui. Reformei, é a minha casa, onde vivo com minha mulher Maria José”, diz.
Tem tudo: Televisão, geladeira, fogão, aparelho de som. Para dormir, a rede ou o improviso do colchão no chão. Segundo ele, a vantagem é que durante o verão sempre está pronto para passear ou pescar. Hoje é um dia especial: levou algumas pessoas de Guajará-Mirim para um passeio. “Eu me diverti e ainda ganhei um dinheirinho extra”, comenta.
Logo à frente está a praia que se estende por quilômetros. O Rio fica muito raso, impedindo a navegação de barcos maiores. A temperatura da água varia entre morna e fria, dependendo do local mais ou menos fundo. Todos se lançam nela, para refrescar. Surgem brincadeiras, caminhadas na areia, balanço nos cipós mais próximos. É uma tarde prazerosa depois de um almoço típico com peixe frito, peixe cozido, arroz, farofa, feijão, mandioca. Dona Maria José sorri animada diante dos elogios.
Na volta para casa, o silêncio é maior. Há festa apenas quando os botos – apenas dois, um casal, segundo o pessoal local – resolvem acompanhar a embarcação, mas por pouco tempo. O cansaço, o prazer de estar em contato tão íntimo com a natureza, as imagens serão levadas na memória para sempre. Nesse passeio, esse pequeno grupo seguiu algumas regras: da natureza: não se deixa nada, apenas pegadas. Só se leva imagens e alegria.
Depois dos saborosos petiscos servidos por dona Maria José, o almoço faz a alegria dos passageiros do barco Karine /MONTEZUMA CRUZ |
ÁGUAS, BARRANCOS E MUITO VERDE
■ O Rio Pacaás Novos nasce e percorre o Parque Nacional de Pacaás Novos. Suas águas claras se encontram com o rio Mamoré com águas totalmente barrentas onde se pode ver de dia muitos botos e à noite muitos jacarés.
■Em 1979 o Governo Federal criou o Parque Nacional de Pacáas Novos, com o intuito de proteger um importante refúgio ecológico da Bacia Sedimentar Amazônica. O Parque abriga importante patrimônio cultural indígena, representado pelas tribos Uru-Eu-Wau-Wau e Urupa-In.
■ Um dos mais selvagens parques nacionais do País, onde até mesmo os pesquisadores e técnicos do Ibama têm dificuldades para chegar, ele é refúgio privilegiado para a fauna e a flora amazônicas.
■ Toda a sua riqueza biológica desperta a cobiça de madeireiros e outros predadores da natureza, que ameaçam o território preservado.
■ Ao lado da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto fica outra Resex: a do Rio Pacaás Novos. Nenhuma delas oferece infra-estrutura para visitação. Visitantes pesquisadores devem ter autorização do Ibama e da Associação dos Seringueiros da Reserva do Rio Ouro Preto e da Associação dos Seringueiros do Baixo Rio Ouro Preto.
■ O Rio Ouro Preto tem suas nascentes na Serra do Pacaás Novos, desembocando no Rio Pacaás Novos, próximo à foz deste no Rio Mamoré.
Para o piloto José Carlos Gabriel de Castro, navegar nos rios da região não é trabalho, é lazer /MONTEZUMA CRUZ |
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