Segunda-feira, 25 de setembro de 2023 - 11h26
A celebração da vida não importa qual deficiência tiver estampou-se no rosto de crianças e jovens de
Rondônia no Festival Paralímpico realizado sábado, 23, na quadra do Serviço Social do Comércio (Sesc) Esplanada com atletismo, bocha adaptada, natação, parabadminton (versão adaptada do badminton) e tênis de mesa.
Pela primeira vez, o
evento iniciado em 2017 pôde ser realizado duas vezes num só ano, fruto de um
trabalho conjugado da Federação Rondoniense Paralímpica Paradesportiva do
Estado de Rondônia com entidades estaduais.
A logística do Comitê
Paraolímpico Brasileiro (CPB) promove festivais semelhantes nos 27 estados
brasileiros e no Distrito Federal. O Festival Paralímpico diverte e inclui.
O CPB oferece a prática de
atividades que simulam modalidades paralímpicas, de maneira criativa e lúdica. Crianças e jovens sem deficiências, de 8 a 17
anos, também se inscrevem no limite de 20% do total das inscrições. Um dos
objetivos do Festival Paralímpico é promover a interação entre pessoas com e
sem deficiências.
Em competições fora do
estado, Rondônia já tem medalhistas nacionais.
Danilo David da Silva, 17,
de Jaru, a 291 quilômetros de Porto Velho, tem 9 anos de judô. Ao lado da mãe, Cleuseni
Jerônimo, ele contou um pouco de sua trajetória.
Cego desde os três anos de
idade, quando foi diagnosticado com retinoblastoma (tipo de câncer mais comum
que acomete os olhos na infância), Danilo começou a lutar em 2015, com pessoas
que enxergam.
Ainda sem conhecer as
competições paralímpicas, foi adquirindo habilidade e com esforço incomum
obteve o 1º lugar no Campeonato do Centro Paraolímpico Brasileiro, na Avenida
Imigrantes, em São Paulo.
Já lutou em diversos estados e recebeu convite para o grupo no qual a seleção brasileira busca futuros atletas. “Fui descoberto”, ri. Com isso, obteve medalhas de ouro no Parapan em Bogotá (Colômbia) e dos Jogos Escolares Mundiais em Gyanmasiade (França). Do Grand Prix Palalímpico em Helsinque (Finlândia) trouxe medalha de bronze.
“Eu espero trazer mais e
entrar para a seleção principal; por enquanto estou na base”, disse.
Danilo cursa o 2º ano do
Ensino Médio, gosta de filosofia e não limita seu mundo ao judô. Já praticou
skate e anda de bicicleta. A mãe, Cleuseni Jerônimo Silva, é manicure em Jaru.
Veio com uma irmã de Guaíra (PR). “Tenho outros dois filhos, mas eles não jogam”,
contou.
Dois alunos atletas de
Cabixi viajaram 12 horas desde Cabixi, a 640 quilômetros de Porto Velho,
hospedando-se na casa da família da professora Márcia Oliveira Gomes. A maioria
dos inscritos também teve acolhida fraterna, uma boa característica do voluntariado
local.
“Só paramos na pandemia”,
informou Sílvio Roberto Corsino do Carmo. Ele trabalha crianças e jovens há 20
anos. “Começamos com apenas 45, nos anos seguintes alcançamos 70, 120, 170, e hoje
temos aqui 246.
Na estreia, cinco anos
atrás, o evento foi realizado em 48 locais com a participação de mais de 7 mil
crianças. Em 2019, o Festival teve 70 sedes e recebeu mais de 10 mil inscritos.
No ano seguinte, a ação foi cancelada devido à pandemia de Covid-19 e retornou
em 2021, com 8 mil participantes em 70 núcleos
O parabadminton inclui
bem, podendo ser praticado por pessoas com deficiência nos membros inferiores,
superiores, e de outras com nanismo ou cegueira”, explicou Carmo, ex-presidente
da Federação Paralímpica no estado.
“O Festival não se resume
apenas aos esportes, ele é a porta que se abre, e aí estão Miguel, de 12 anos,
disputando bocha com talento e muita boa vontade”, exemplificou.
Apoiadores trabalharam
animados, dentro e fora do âmbito do Sesc. Na sexta-feira, véspera do evento, Sandra
Coura Diniz, integrante da Associação Beneficente Casa da União Novo Horizonte,
encheu duas grandes caixas com laranjas descascadas.
Pais dos participantes organizaram
seus lanches e voluntários de universidades cuidaram o tempo todo deles. Água
mineral à vontade distribuída na entrada da quadra amenizou o calor.
Um dos primeiros a chegar,
o animador Victor Xavier, do Hospital de Amor da Amazônia proporcionou alegria
a todos durante mais de três horas.
Na mesa de recepção, uma
grande equipe de apoio esteve a postos durante todo o evento. Silvana Cassupá, do
Rondônia Clube Paralímpico, uma das voluntárias na organização, disse que está
feliz com o Festival: “Sou nova aqui, mas já me entusiasmei o suficiente para
os próximos.”
O professor de educação
física Márcio Albuquerque também foi um dos primeiros a chegar ao ginásio. Ele
é pai de Maria Rita, 6, que teve catarata congênita, é down e autista.
Sempre sorrindo, Márcio
estava satisfeito com a passeata de quinta-feira, 21, no Espaço Alternativo na
Capital, em comemoração ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.
“A sociedade tinha
vergonha de lidar com filhos em alguma dessas situações, hoje a visibilidade
contribui para amenizar situações.
A Organização Mundial de
Saúde estima que aproximadamente 10% da população de qualquer país em tempo de
paz possui algum tipo de deficiência: 5% mental; 2% física; 1,5% auditiva; 0,5%
visual; e 1% com deficiência múltipla.
Os alunos foram trazidos a
Porto Velho pelas direções da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais
(Apae), Sociedade Pestalozzi, Associação dos Amigos do Autismo, Rondônia Clube
Paralímpico, e Centro de Ensino Especial Abnael Machado de Lima.
No final do evento, a Federação
Paralímpica entregou medalhas a todos, incentivando-os a continuar praticando
esportes e a participar dos próximos festivais.
O apoio acadêmico foi
fundamental no evento de sábado. Parcerias ajudaram na organização, oferecendo
serviços diversos: Associação Beneficente Casa da União Novo Horizonte, Grande
Loja Maçônica do Estado de Rondônia, Hospital de Amor da Amazônia, Secretaria Municipal de Trânsito, Mobilidade e
Transportes, Serviço Social do Comércio, e Sindicato dos Servidores Públicos
Federais no Estado de Rondônia.
Natação no Ferroviário
“Trabalhamos com a
iniciação à natação e recreação aquática para crianças no Ferroviário. Algumas
mães aderiram e hoje também fazem hidroginástica com a gente no projeto. O
Sílvio (Sílvio Carmo) trabalha com essa recreação aquática há 13 anos”, relata
a professora voluntária no Rondônia Clube Paralímpico e árbitra-chefe da Federação
Paralímpica Rondoniense.
Segundo ela, o projeto
possibilita às crianças a socialização: “Tinha criança que estava só no
atletismo no Estádio Aluízio Ferreira, e com as atividades recreativas no meio
aquático conseguimos o entrosamento delas, e o melhor de tudo é que agora
interagem mãe e filho; tanto as mães quanto as crianças especiais e adultos
especiais participam.”
A Federação Paralímpica
tem com o objetivo proporcionar às crianças a oportunidade de participar de
competições nacionais e internacionais, a exemplo do Parapan e dos Jogos da
Juventude. O Circuito Caixa (Lotéricas Caixa) abrange tudo isso. “Muitas competições
nacionais exigem que os participantes sejam filiados às entidades estaduais”, ela
explicou.
Galeria de Imagens
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