Sábado, 1 de outubro de 2016 - 07h40
Aos 102 anos de criação como município, completados em 2 de outubro, Porto Velho ainda tem muito a conhecer. “A instalação ocorreu em 24 de janeiro de 1915, a posse do prefeito e de intendentes realizou-se na casa de Manoel Félix, na rua dos Portugueses”, lembra a escritora, professora e acadêmica de letras, Yêdda Pinheiro Borzakov, 77 anos.
Desta vez coincidindo com as eleições municipais, reaparecem no cenário personagens do século passado, entre eles, o primeiro prefeito, major Fernando de Souza Guapindaia, cuja gestão foi marcada pela construção do Cemitério dos Inocentes, da Escola Mista Municipal Jônathas Pedrosa, da cadeia pública e pelo arruamento da cidade.
Pelo menos um presente literário a capital ganhou nos 102 anos: na semana passada, os pesquisadores americanos, Gary e Rose Neeleman, lançaram o livro Soldados da Borracha: o exército esquecido que salvou a Segunda Guerra Mundial, obra que apresenta a história dos soldados da borracha, uma das mais dramáticas e não contadas naquele período (1939-1945).
Os autores ouviram diversas pessoas que contribuíram com a pesquisa do livro, e também consultaram o Congresso norte-americano a respeito. Paralelamente, tiveram acesso a eventos que revelaram raras experiências de milhares de homens que trabalharam e deram suas vidas para ajudar os países Aliados na busca da borracha na Amazônia Ocidental brasileira.
EXPLORAÇÃO DA MADEIRA
Basta olhar um mapa de 1917 para se avaliar o espaço urbano de Porto Velho naquele período. Só havia casas e outras edificações no trecho entre a margem do rio Madeira e a rua Joaquim Nabuco.
Assim, não pode se debitar somente a migrantes capixabas, catarinenses, gaúchos e paranaenses, principalmente, a devastação de grandes lotes de floresta em Rondônia. Derrubadas também ocorreram dentro do próprio município.
A inexistência de leis ambientais levaram a administração da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) a extrapolar os limites de 150 metros à direita e à esquerda do pátio ferroviário para retirar itaúba no mato, onde mais tarde seria construído o Hospital São José e o Colégio Maria Auxiliadora.
“A direção usava essa madeira para fazer dormentes, distribuía lotes a pessoas que tinham a sorte de consegui-los, e cobrava impostos de proprietários de animais”, comentou a escritora.
Era o que a escritora classifica de atos incompatíveis com o regime ferroviário, por parte de mister W. Little, gerente da construtora da EFMM. Foi preciso a intervenção do então governador do Amazonas, Jônathas de Freitas Pedrosa, para autorizar o uso dos dormentes.
Yêdda desmistifica versões. Uma delas falando de suposta aversão do governador Aluízio Ferreira a pessoas negras. Aluízio governou de 1º de novembro de 1943 a 7 de fevereiro de 1946. Foi também o primeiro presidente da EFMM, a partir de 10 de julho de 1931.
“Judith Holder e o marido Percy Holder casaram-se, e logo moraram no bairro Caiari, o “elegante da época”, cujas casas foram inauguradas em 1940. Ali também viveram os notáveis Enos Eduardo Lins e Ananias Andrade, também negros. Judith morreu em 2015, aos 101 anos.
De alguns anos para cá, as casas do bairro Caiari estão sendo reformadas e a maioria teve suas projeções arquitetônicas modificadas.
Da EFMM, pouco do que restou das peças centenárias e de algumas rodas, armários, cofres e outras ferragens da Madeira-Mamoré encontram-se num depósito alugado em 2015 pela prefeitura de Porto Velho, na zona Sul da cidade.
Em andanças com grupo de estudos formados por historiadores e universitários, Yêdda constatou em Candeias do Jamari outro marco divisório desses estados.
Ironia do desconhecimento e da zombaria: a Praça Marechal Rondon (denominação dada por decreto) passou longo tempo conhecida por Praça Rondon e descambou para “Praça do Baú”, por causa do nome de um estabelecimento comercial na esquina com a Rua 7 de Setembro.
No livro Porto Velho – 100 anos de história (1907-2007), Yêdda resgata, entre outros aspectos, a construção da ferrovia, grupamentos militares, bens imóveis da EFMM, saúde pública pós-nacionalização, energia elétrica, museu ferroviário, as três caixas-d’água, o marco das coordenadas geográficas, o bairro Caiari, sítios históricos de Santo Antônio do rio Madeira, inscrições rupestres, lojas maçônicas, cemitérios, colégios, prédios públicos, bairros periféricos (Triângulo e Alto do Bode por exemplo), igrejas, museus, bibliotecas e espaços culturais.
MARCO DIVISÓRIO
Pesquisando Viriato Correia, famoso narrador de “histórias que a história não conta”, Yêdda encontrou documento com a planta do marco divisório principal, de argamassa de cimento e areia, situado entre os Estados do Amazonas e Mato Grosso, próximo à extinta cachoeira de Santo Antônio, alagada pela hidrelétrica com o mesmo nome. “Ele não se chama Marco Rondon, mas há pessoas que espalham isso”.
O termo de inauguração, em 10 de janeiro de 1911, foi assinado pelo major Alípio Gama e pelo tenente-coronel Felinto Alcino Braga Cavalcante, chefes das comissões de Mato Grosso e Amazonas, respectivamente. Eram governadores o coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt (Amazonas) e o coronel Pedro Celestino Corrêa da Costa (Mato Grosso).
Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Arquivo Dana Merril e Daiane Mendonça
Secom - Governo de Rondônia
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