MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
BRASÍLIA – “A Face oculta” (Editora Xapuri) revela o melhor do acreano Marcos Jorge Dias, professor de Língua Espanhola, Língua Portuguesa e suas literaturas. Não pense o leitor que ele é “só isso”. Marcos já mergulhou no garimpo do Rio Madeira nos anos 1980 e ajudou a agitar politicamente Manaus, também naquela década, quando lá estudou.
O título poderia lembrar o faroeste estrelado por Marlon Brando em 1961, nos Estados Unidos. Porém, nada tem a ver com uma só história de lá. Na única referência àquela nação poderosa, nosso poeta escreve “Ave Obama”, no qual ironiza: “Indiferente, a raça humana brinda com charutos e champanhe o novo senhor da guerra”.
— Ao amigo Monte, um monte de palavras do poeta oculto — ele dedica-me. Os poemas dele são curtos, fortes e condensam numa linguagem bem cuidada as impressões de um poeta sensível, antenado com as agruras e temas facetas do mundo contemporâneo, observa a doutora Simone de Souza Lima, da Universidade Federal do Acre (Ufac).
Poema perdido: “Como o vento que vem do mar as palavras chegam/sinuosas e escorregadias/Como a brisa morna que acaricia meu corpo e se vai sem que eu possa deter/as palavras fogem/Como as ondas que se lançam na areia/e rapidamente voltam ao mar/Perco mais um poema que não consegui anotar”.
Nas suas andanças por Rondônia foi ainda pizzaiolo no frenético Bairro do Roque. O lugar era a ribalta de garimpeiros, prostitutas, políticos, jornalistas e outros românticos privilegiados de um tempo que habita a memória.
Captando um pouquinho ali, outro ali, Marcos Jorge conseguiu ser um sociólogo da vida amazônica com direito a encarná-la e a consertá-la, naquilo que estiver ao seu alcance.
Solidário
Ao lançar em Rio Branco (AC) o seu livro de poesias em papel reciclado, o professor dá seqüência a uma produção literária até então caracterizada por diversos artigos a respeito da educação especial e do meio ambiente.
Conheci um Marcos Jorge humanista e solidário durante o seu período de vivência na capital do País, a serviço do deputado Fernando Melo (PT-AC). Recebia cada acreano com os braços abertos, compartilhando o que tinha de melhor, especialmente atenção e afeto. Foi assim, por exemplo, ao recepcionar e levar para secretarias, ministérios e gabinetes de parlamentares, o então vice-presidente da Associação dos Surdos do Acre (ASA), Lico Marcelino Bezerra.
● À venda nas livrarias acreanas. Busque seu exemplar pelo e-mail xapuri@gmail.com Ou escreva para: Editora Xapuri Socioambiental / Rancho do Bem-Querer / BR-020 Km 9 / Caixa postal 185 / 73801-500 Formosa (GO).
Funerais
Dos que partiram mortos
Deixando-me às lágrimas
ainda sinto o perfume das flores
que exalavam cheiro de funeral
Sinto ainda o peso do caixão
nos músculos dos braços e em noites silenciosas
ouço a terra caindo sobre a madeira
Os mortos,
em seu estado letárgico
deveriam deixar que os vivos
descansem em paz.
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Marcos Jorge celebra a vida. Segundo Zezé Weiss (Editora Xapuri), ele é um lobo urbano rebelado contra a escravidão /ÁLBUM DO AUTOR |
Zona livre
O sorriso da vencedora é falso
os clientes são falsos
os seios são falsos
o timbre da voz também é
O relógio é falso
o jeans é falso
o blusão é falso
imaginem o boné
O DVD é falso
o filme é falso
o lap-top é falso
o dólar pode ser também
O documento é falso
o endereço é falso
o telefone é falso
o melhor é não acreditar em ninguém
Estirpe
Minha estirpe vem dos montes
de Drummonds
Do além-mar veio forjar
na selva úmida e quente
uma nova raça de gente.
Desvendou a floresta
venceu sezões
fincou seus grilhões
Com seu sêmen fecundou
da terra a nativa cativa
E gerou riquezas de
Césares e José e
tantos mais.
Que abriram caminhos
e ganharam o mundo
como toda estirpe guerreira faz.
O que dizem do autor
“As poesias do Marcos são um antídoto cultural igual a todos e diferente de tudo. O aprisionamento da vida impresso na liberdade escrita” (Cesário Campelo Braga, do Comitê Chico Mendes).
“A intimidade é algo tão teu que, quando alguém demonstra entendê-la, a sensação de liberdade é extremamente contagiante. Chega assustar, até. O Marcos sabe fazer isso divinamente bem. Não consigo conter o orgulho de conhecer alguém tão sensível que entende não só do espírito, mas de externá-lo, induzindo-te a ser alguém melhor. Suas poesias transmitem singularmente essa sensação” (Magda Tomaz, acadêmica de jornalismo na Ufac).
“Querido Marcos Jorge: os seus poemas me fizeram (re) visitar segredos, sonhos...medos! Uma viagem literária que me fez refletir sobre a vida, a morte a pós-vida” (Iêda Villas Bôas, poetisa e mestranda na UnB).
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Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)