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Montezuma Cruz

O próprio DNPM avisou: tem ouro no Rio Madeira


  



RONDÔNIA DE ONTEM
 

O próprio DNPM avisou: tem ouro no Rio Madeira - Gente de Opinião


MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 
Não se pode creditar totalmente aos garimpeiros a descoberta das “fofocas” de ouro ao longo do Rio Madeira. Em 1977 uma matéria deste repórter no jornal Folha de S. Paulo revelava que a Construtora Andrade Gutierrez já estava de olho nos aluviões para faiscar o metal. Sete anos depois veio a CR Almeida, igualmente interessada e que escreveu um capítulo de violência no Garimpo de Periquitos, na BR-364, rumo ao Acre.

Não foram apenas os garimpeiros os donos da notícia. O próprio Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) alardeava o Projeto Noroeste de Rondônia, pouco preocupado em esconder a vinda de empresas construtoras para pesquisar a região.

O próprio DNPM avisou: tem ouro no Rio Madeira - Gente de Opinião
No subsolo das regiões do Machadinho e do Jamari, garimpos de cassiterita deixaram marcas na floresta que também foram destruídas por máquinas gigantes /GILSON COSTA-Arquivo IBGE

Situado na porção norte ocidental do Território Federal de Rondônia, esse projeto compreendia 60,1 mil km² de águas e subsolo ricos em ouro, cassiterita, paládio, pirita, manganês, wolframita e outros minerais. Daí para a corrida dos garimpeiros foi um pulo, já que a lavra de cassiterita fora proibida por uma portaria do ex-ministro das Minas e Energia, Antonio Dias Leite.

Rondônia foi considerada durante muitos anos a maior Província Estanífera do País. Essa história começou em meados de 1952, quando alguns garimpeiros de diamantes encontraram um minério preto e pesado no Rio Machadinho. Imaginavam que fosse rutilo, era cassiterita.

Joaquim Pereira da Rocha viu um rebuliço de gente no seu Seringal União e, mais que depressa, combinou uma conversa com o geólogo Donald Campbell. Após analisar o material coletado, Campbell constatou a riqueza ali existente. Rapidamente, a informação correu léguas na floresta, despertando outros seringalistas.

SeuRocha, como era conhecido, foi recebendo então em suas terras centenas de homens vindos do Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco e Piauí. Só no Seringal União ele comandava quatrocentos homens que dormiam em redes amarradas no alto dos barracões, para não serem surpreendidos por onças.

Começava a cata do minério de estanho, que em seguida originou a lavra mecanizada. Oito anos após a descoberta, em 1960, o preço do minério e os lucros compensadores atraíram para cá grandes grupos exploradores nacionais e multinacionais: Companhia de Mineração Jacundá, Brascan (Brasil-Canadá), Oriente Novo S/A, Brumadinho (Itaú), Taboca S/A, Brasiliense S/A e Mibrasa (Phibro-Cesbra).

O negócio prosperou. Em 1976, por exemplo, a Mineração Paranapanema gastou mais de 220 mil litros de gasolina e 4,12 milhões de litros de óleo diesel para fazer funcionar suas máquinas, motores, veículos e casa de força. A maior parte da produção destinava-se à fabricação de folhas de flandres pela Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ).

A lavra  era onerosa porque ainda não havia energia elétrica. Iniciada em 1982, a Hidrelétrica do Rio Jamari só funcionou 14 anos depois, quando essas poderosas empresas já encerravam as atividades, deixando, além dos desempregados, crateras cheias de lama.

 

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