MONTEZUMA CRUZ
ITAPUÃ DO OESTE, RO – O Vale do Jamari vive a mesma expectativa da capital rondoniense, Porto Velho, em relação às promessas de empregos nas hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio. Autoridades dos três municípios que sediam a Floresta Nacional do Jamari – Itapuã do Oeste, Candeias do Jamari e Cujubim – acreditam que a sua concessão a grupos particulares permitirá a criação de empregos diretos e indiretos. Em médio prazo, o projeto do Sistema Florestal Brasileiro (SFB) para a região prevê que as comunidades explorem racionalmente reservas de castanha, copaíba patauá e açaí, nos 96 mil hectares que serão inicialmente aproveitados num território de 220 mil ha.
Baiano nascido em Rui Barbosa e desde 1995 em Rondônia, o prefeito Robson Oliveira (DEM), 46 anos, vislumbra muitos empregos em Itapuã do Oeste, banhada pelo Lago de Samuel, a 108 quilômetros de Porto Velho. No cargo pela segunda vez, ele só fala nisso. A receita bruta do município chega a R$ 10,8 milhões. Embora receba apenas R$ 19 mil mensais de royalties por conta da alagação causada pela usina, Itapuã corrige sua rota: 95% da Flona estão dentro do município. "Quem ganhar a licitação vai se instalar de vez por aqui", acredita.
No dia em que recebeu os repórteres da Agência Amazônia ele comandava, entusiasmado, uma equipe de 20 homens nas obras de acabamento do novo paço municipal.
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Prefeito de Itapuã do Oeste, Robson Oliveira (DEM) / BETO GRUTZMACHER |
Controle de áreas
Cada uma das concessionárias que serão aprovadas definitivamente em março próximo deverá pagar uma quantia anual ao governo federal pelo uso dos recursos florestais.
Até 30% serão destinados à manutenção do sistema de gestão, pelo SFB e Ibama (para atividades de monitoramento e controle das áreas licitadas). Os outros 70% serão assim distribuídos: 20% ao Estado onde a área está localizada; 20% aos municípios; 40% ao Instituto Chico Mendes e 20% ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal.
Transformação
A situação parece mudar. O prefeito acredita que os investimentos privados fortalecerão a economia e vão assegurar empregos. Já está se instalando na cidade a empresa Casa Velha, de São Paulo, uma das interessadas em explorar a madeira mediante a obtenção do selo verde. A Prefeitura analisa este mês diversos pedidos de compra de terrenos. A prosperidade está batendo à porta.
Energia, estanho e Flona
Fosse parafrasear outro baiano, o poeta Castro Alves, ele diria: "Bendito aquele que semeia empregos, empregos a mão cheia (...)". Segundo Oliveira, atualmente a Prefeitura é o maior empregador do município, com 320 servidores; a Estanho do Brasil S/A está em segundo lugar, com 150 contratados. A construção do linhão energético de 804 quilômetros para Jauru (MT) promete mais 500 vagas e o acampamento será em Itapuã. É uma obra de alto impacto, porque corta a floresta. Com a Flona, o prefeito estima pelo menos mais uns 300 empregos.
Isso tudo se somará à exploração da pecuária intensiva de corte. Quando assumiu o primeiro mandato o município contava com 26 mil cabeças de gado; hoje alcança 110 mil. Perguntado sobre a soja que já se destaca na paisagem, às margens da BR-364, justifica: "Por enquanto, as lavouras são para subsistência, mas eu não escondo que vislumbramos a soja de planície, já que o nosso solo supera o de Vilhena (na divisa com Mato Grosso) e temos água em abundância. Tudo indica que a inovação ambiental concebida pela ministra Marina Silva possibilitará a esse município minimizar seus problemas ambientais ainda em 2008.
O prefeito lamenta que o vizinho município de Candeias do Jamari tenha "ficado com o filé" do ICMS sobre a produção energética, enquanto as mazelas sobraram para Itapuã. Conhece bem a realidade, já que trabalhou 22 anos na Área de desapropriações da Eletronorte, 16 dos quais, na Hidrelétrica de Tucuruí (PA).
Defuntos bóiam
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Cemitério onde os defuntos bóiam em Itapuã do Oeste - Rondônia / Foto: BETO GRUTZMACHER
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O lençol freático abaixo dos terrenos planos de Itapuã já sofreu a contaminação. Sua água se mistura às fossas sépticas e ameaça a saúde pública. O Cemitério Municipal Cristo Rei ficou conhecido em todo o País, após esse indesejável fenômeno. Oliveira brinca, repetindo o que o povo da cidade ainda comenta: "Os defuntos bóiam no cemitério dos náufragos". Para se livrar do problema, a Prefeitura projeta a construção de um cemitério vertical, "o primeiro da Amazônia". Outro agravante: com o Rio Candeias a jusante, o lixão da cidade situa-se apenas a 10 quilômetros da Flona.
Oliveira quer continuar investindo em saúde e educação. Orgulha-se em afirmar que 110 universitários (2,5% da população) viajam todos os dias em dois ônibus para estudar na capital. E se esforça para conseguir um médico fixo: "Fui a Salvador, dei entrevista na Universidade Federal da Bahia e ofereci vaga de clínico geral a R$ 6 mil, com direito a casa e viagem. Recebi ligações no celular e a primeira pergunta foi essa: lá tem praia?".
Ponte inacabada e censo "furado"
O prefeito fica aborrecido ao lembrar o desmoronamento da cabeceira da ponte de 250 metros sobre o Rio Jamari, ligando a sede do município à zona rural. Com o aumento da arrecadação, ele espera poder compensar os prejuízos. A ponte permanece na condição de "elefante branco", inservível. Concluída no final de 2004 a um custo de R$ 4 milhões, ela teve os pilares destruídos em conseqüência do terreno movediço.
Antes da galinha bota o ovo de ouro, ele empreende mais uma peleja, contra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Insatisfeitos com possíveis falhas no censo da população, ele e outros prefeitos rondonienses ingressaram na Justiça para pedir a recontagem. "Você sabe que o número de moradores influi no cálculo do bolo do Fundo de Participação dos Municípios, e nós aparecemos aí com apenas 9 mil pessoas. Ora, já temos 12 mil e aqui não ocorrem casos de natimortos". Eu mesmo não fui recenseado", desabafa.
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)