Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

O sumiço dos processos do Getat (1)


 

 O sumiço dos processos do Getat (1) - Gente de Opinião

MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 
 

Trabalhei durante quase dez anos em Rondônia, na Amazônia Ocidental Brasileira. Até então acreditava que lá se concentravam os maiores entraves fundiários do País. Equivocara-me: conheceria um pouco do imbróglio protagonizado por pessoas que pretendiam criar o Maranhão do Sul.
 

Em São Luís (MA) recebi do Jornal do Brasil algumas missões no sul do estado, próximo à divisa com o Pará. Publiquei diversas reportagens revelando o desmonte do Grupo Executivo das Terras do Araguaia e Tocantins (Getat), instrumento do regime militar que privilegiou altos funcionários civis, militares, o filho de um ex-ministro e um ex-governador de Goiás. Alguns viraram fazendeiros sem investir um centavo em Goiás, no Pará e no Maranhão.

Gente de Opinião
Latifundiários do sul maranhense manobravam na Superintendência do Incra para o separatismo à força /ARQUIVO NACIONAL


 

Não faltava dinheiro para dividir o estado. A União Democrática Ruralista (UDR) cotizava-se pela emancipação, cujo movimento fora liderado pelo senador Edson Lobão (PFL-MA). Seus aliados eram Davi Alves da Silva (PDS), autor da proposta e José Teixeira (PFL), apoiados pela bancada pefelista na Assembleia Legislativa, liderada pelos deputados Leo Franklin e Raimundo Cabeludo.
 

Em meio à enorme bagunça o Getat não tinha metodologia correta para formular processos de desapropriação. Com isso, 24 deles desapareceram entre 1980 e 1987, quando a UDR agia com todas as suas garras no Maranhão, conseguindo prejudicar o trabalho de poucos servidores eficientes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do próprio Ministério das Reforma e Desenvolvimento Agrário, conhecido pela sigla Mirad.
 

O deputado federal Davi Silva, dono da Fazenda Data Taboleirão no município de João Lisboa, fazia parte do grupo beneficiado e ainda era acusado pelo jornal da família Sarney de ser “aliado ao crime organizado”.
 

Os separatistas alinhavam seus pontos fortes: Imperatriz, futura capital, tinha na época um milhão de cabeças de gado, forte indústria madeireira, 300 mil toneladas de arroz por ano, 60 mil t de milho, 12 mil t de soja e seria um polo produtor de ferro gusa (nove usinas já funcionavam em Açailândia), fortalecendo-se ainda com a Ferrovia Norte-Sul.  Segundo seus líderes, Maranhão do Sul poderia nascer com 108 mil km² e 850 mil habitantes.

Gente de Opinião
Maranhão do Sul foi inicialmente um sonho da União Democrática Ruralista. Quem se lembra dela? /MAPA WIKIPEDIA


 

Já o ex-governador Luiz Rocha, um dos mandatários da UDR, protegera muita gente por meio do Instituto de Terras do Maranhão (Iterma). A extinta Companhia de Terras do Maranhão (Coterma) que funcionara no governo João Castelo, compadre de José Sarney, também tinha culpa no cartório, pois amparara negociatas.
 

Não era só isso. O superintendente regional do Incra, Francisco de Assis Souza, e seu irmão, o vice-governador João Alberto de Souza (na época, ambos membros do Partido da Frente Liberal) entravavam o quanto podiam o andamento da reforma agrária nas 12 áreas de conflito com 300 mil hectares que deveriam assumir. Os fazendeiros eram amigos deles e exerciam influência na autarquia.
 

Os grileiros comemoravam. Entre os imóveis em litígio estavam os da Fazenda Pindaré: 84,5 mil hectares nos municípios de Açailândia e Santa Luzia, da União Agropastoril e Colonizadora Imperatriz; da Gleba Frades Industrial e Agropastoril (55 mil ha), de Bento Scalosi e Sebastião G. Neto, em Imperatriz, entre outros acima de 50 mil ha – latifúndios bafejados pelos incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e conhecidos com todas as letras nos escalões do poder em São Luís e em Brasília.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”

“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”

Desde 2023, o presidente da Seccional OABRO, Márcio Nogueira ordena a visita a pequenos escritórios, a fim de amparar a categoria. “O jovem advogado

Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025

Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025

A Associação Casa da União Novo Horizonte, braço da Beneficência do Centro Espírita União do Vegetal, espera mais voluntários e doadores em geral pa

PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho

PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho

Mesmo tendo iniciado no Direito trabalhando no escritório do notável jurista Evandro Lins e Silva, no Rio de Janeiro, de postular uma imprensa livre

"Mandioca é o elixir da vida", proclama o apaixonado pesquisador Joselito Motta

"Mandioca é o elixir da vida", proclama o apaixonado pesquisador Joselito Motta

Pequenos agricultores de 15 famílias assentadas em Joana D’Arc e na linha H27, na gleba Rio das Garças, ambas no município de Porto Velho, ouviram o v

Gente de Opinião Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)