Terça-feira, 29 de maio de 2012 - 15h00
O trem azul da Peru Rail: percurso feito em uma hora e meia permite ao turista contemplar a beleza do Vale Sagrado dos Incas /MONTEZUMA CRUZ |
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Os vagões azuis atravessarão quatro túneis entre as estações de Ollantaytambo e Machu Picchu. Grupos de franceses, americanos, canadenses, argentinos e alguns brasileiros se deslumbram com a paisagem vista pelas janelas envidraçadas. Fotografam, filmam, comentam. Lotado de executivos, mochileiros, universitários e por diversos outros profissionais, o trem no estilo Orient Express atravessa o Vale Sagrado dos Incas.
Em alguns trechos notamos uma imensidão de eucaliptos australianos ao longo das montanhas. A forte correnteza das águas do Rio Urubamba (Wilkamayo) é vista em toda a viagem de hora e meia até a estação da vila de acesso às ruínas declaradas pela Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, pela Unesco, 2,35 mil metros acima do nível do mar.
Embarcando na estação de Ollantaytambo, a 80 quilômetros de Cusco, o turista poderá fechar as diárias no hotel ou hospedaria onde estiver, pois passará o dia todo em Macchu Picchu. Se quiser retornar de trem no final da tarde, dormirá em Águas Calientes, a porta de entrada. Essa vila a 110 km de Cusco serve de apoio logístico ao santuário histórico. Assim, o turista retornará só no dia seguinte para Cusco, com tempo para refeições, compra de roupas típica e souvenirs.
Passageiros de diversos países do mundo embarcam na Estação de Ollantaytambo, no Vale Sagrado dos Incas /MONTEZUMA CRUZ |
O mercado de artesanato local é um dos mais importantes centros de exposição e comercialização de produtos artesanais da região de Cusco. Artesãos de diferentes comunidades campesinas e de outras zonas andinas do Peru expõem seus produtos numa feira ao lado da estação de trem.
Os picos de algumas montanhas estão encobertos por nuvens frias. Desembarco sob chuva fina em Águas Calientes, vila com caminhos estreitos, verdadeiras vielas. A banda toca na rua para o funeral de uma senhora idosa, vítima de diabetes.
Inaugurado em 1985, o trem chega e parte diariamente de Águas Calientes, a partir da 5h30 da manhã e a cada 15 minutos.
Funcionários dessa linha da Peru Rail servem cafezinho, chá, mini-sanduíches e água. Ouve-se flauta andina durante a viagem. Guias e funcionários da Peru Rail lembram-nos que o Peru mistura as tradições das civilizações pré-colombianas com a cultura espanhola, formando uma terra colorida e muito diferente do que os brasileiros estamos acostumados.
Para alcançar o santuário histórico os turistas são transportados em vans, a 700 m de altitude. Em Águas Calientes há diversos estabelecimentos para hospedagem, restaurantes, bares, farmácias,casas de câmbio, casas de massagem, caixas automáticos e posto policial e de saúde para casos de emergência.
Por quê o nome? É que essa vila tem piscinas naturais de água quente distantes apenas 15 minutos de caminhada da sua praça principal, onde se vê uma estátua de Pachacútec (em quíxua, Pacha Kutiq), o nono imperador inca, entre 1438 e 1471. Conhecidas por suas propriedades medicinais, são chamadas de Baños Termales, em castelhano, e foram acondicionadas especialmente para o uso recreativo da população e do turistas.
Monumentos históricos, igrejas, monastérios, casarões coloniais e sítios arqueológicos contrastam com paisagem de cordilheiras nevadas, montanhas cultivadas em sistema de terraços, florestas tropicais, desertos, praias do Oceano Pacífico e até com o maior lago de altitude das Américas. Apesar de o país ter um território com mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, é possível atravessar o Peru em alguns dias, incluindo o transporte de trem.
Geralmente, quem chega à tarde em Águas Calientes têm a oportunidade de visitar bem cedo as ruínas de Machu Picchu, evitando dessa maneira o tumulto matinal, quando desembarcam mais turistas na estação de trem. Hoteleiros e comerciantes explicam que o ideal é planejar a viagem para abril, maio, junho, setembro e outubro. Nos demais meses chove ou tem turista demais.
A cozinha peruana é espetacular. Garçons e garçonetes falam inglês, espanhol e alguns deles, quíxua. À noite, jantando truta e o tradicional ceviche no restaurante El Mirador, fui privilegiado com a apresentação do grupo Wayanapicchu (tradução de “montanha feliz”). Mário, seu líder, vendeu-me por 15 soles o CD “Music of the Andes”.
Além das montanhas, Machu-Picchu mostra muitas flores coloridas, nuvens frias de manhã e Sol forte após o meio-dia /MONTEZUMA CRUZ |
O que ver
O trem passa em Poroy, no Km 18. O nome vem de “Por hoy, nos quedamos aqui”. No Km 41, em Huarocondo, há curvas para entrar no desfiladeiro. A estação de Ollantaytambo fica no Km 67, lugar antigo de descanso da nobreza inca. Quinze minutos depois dessa estação, surge o Nevado Veronica, a 5,7 mil metros de altitude.
O Km 88 é o ponto de cruzamento de trens de Qorihuayrachina e zona dos sítios arqueológicos Qente e Patallaqta. Km 104 o trem passa pelos sítios arqueológicos de Choquesuysuy e Wiñaywayna. Finalmente, MachuPicchu, no Km 110, na borda da selva.
O sítio arqueológico de Machu Picchu foi descoberto pelo historiador americano Hiram Bringman em 24 de julho de 1911. Diferia muito do que hoje conhecemos. Estava coberto pela floresta. Machu Picchu foi também um grande centro de estudos, onde se ensinava Astronomia, Agronomia, Medicina e Arquitetura. Por isso, é considerada a primeira Universidade das Américas. Lá chegando, você terá todas as informações a respeito do Povo Inca, que construiu e resistiu até à morte – a partir da invasão espanhola – o maior Império Sul-americano.
Conforto: por janelas envidraçadas no teto passageiro vê o Rio Urubamba, montanhas, túneis e vegetação diversificada /PERU RAIL |
QUANTO CUSTA
■ A ida de Cusco a Machu Picchu custa custa 128 novos soles (R$ 84), incluindo a viagem de trem, cujo embarque é na Estação de Ollantaytambo, onde se chega em ônibus ou vans. Obtenha informações no aeroporto ou em qualquer hotel onde hospedar-se.
■ A viagem é vendida pela Consettur Machupicchu S.A.C. Já o Boleto Turístico Del Cusco (Capital Arqueológica da América do Sul) cujsta 130 novos soles. Com ele você tem direito a conhecer as ruínas de Saqsayhuamán, o Museu de Arte Contemporânea, o Museu Regional, o Museu de Arte Popular, o Centro Cusco de Arte Nativa, os sítios arqueológicos de Moray, Pisac, Ollantaytambo, Chinchero, Tambomachay, Pukapukara e Q’enqo. Esse programa dura três dias.
O repórter, ao lado da placa que homenageia o cinquentenário da descoberta de Machu Picchu, em 24 de julho de 1961 /VÂNIA MUNHOZ |
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