Sexta-feira, 7 de outubro de 2022 - 12h28
Difícil digerir a má vontade da
população rondoniense em receber agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), concedendo-lhe dez minutos de seu precioso dia para dizer
quem é. Menos de 900 mil pessoas se disseram vivas e em cores no atual censo
demográfico. E já somos mais de 1,9 milhão de pessoas, a maioria, infelizmente
ainda “fantasma” na estatística oficial mais antiga do País.
Aqui e no País, o fenômeno
burro adiou as respostas da população, de 31 de outubro para o início de
dezembro*.
Onde está o governador, onde
estão seus secretários e assessores que trabalham diretamente com pessoas, em
programas sociais? Nenhuma palavra de apoio aos esforçados agentes do IBGE e
aos moradores deste estado. Custa muito dirigir-lhes umas palavrinhas pelo
rádio, pela TV, pelo Waths App?
Nenhuma voz entre os deputados
estaduais foi ouvida a favor da peleja do IBGE ao não ser recebida em lares
ricos e pobres de Rondônia. Campeões na propaganda de seus feitos, os
parlamentares emudeceram.
Ao censo falta o bom senso das
autoridades. Por que razão se ocultam, impedindo ao País saber quantos somos,
nossas cores de pele, nossas moradias e nossas rendas nesta parte da Amazônia
Ocidental Brasileira?
Estão em campanha, e este norte
brasileiro não é o que eles veem ao carregarem em outubro de 2022 a viseira que
esconde o âmago do ser humano habitante desta desastrada “Terra de Rondon.” Só
lhes interessa agora o voto obrigatório – isto fica bem claro.
Um estado com valor básico da
produção agropecuária superior ao nacional; primeiro produtor de minério de
estanho do País; maior fornecedor de energia elétrica para estados da região
sudeste; exportador de látex para indústrias gaúchas, da França e até do Irã...
Rondônia é um estado plural.
Desde o recorde de migrantes procedentes de Iporã (PR) nos anos 1980, àqueles
que se fixaram em Machadinho d’Oeste quando inteiramos o primeiro milhão de
habitantes, cada família protagonizou sua própria história.
Abri hoje velhas cartolinas e encontrei minha matéria no jornal O Globo em 1976, revelando que o presidente da Aliança Renovadora Nacional (Arena), deputado Francelino Pereira, estranhava o posicionamento do próprio ministro do Interior, Maurício Rangel Reis, cuja cartilha estabelecia a interrupção da corrente migratória.
Para quem não sabe, Francelino foi aquele piauiense inteligente sensato e solidário que proclamou a Arena “o maior partido do Ocidente” – algo agora buscado pelos próceres do partido político União Brasil –, mais tarde foi senador da República e depois, governador de Minas Gerais.
Com ele viajei mais de 8 mil quilômetros entre o Distrito Federal e alguns estados amazônicos, tendo a oportunidade de conhecê-lo melhor, notadamente o seu sentimento pátrio.
A visão de Francelino lhe permitia enxergar a fome, os efeitos dos fenômenos climáticos, e o bom exercício da diplomacia que fez dele e de outro ilustre piauiense, o ex-senador e ministro da Justiça Petrônio Portela, o apanágio do bem-querer. Eles foram dois dignos próceres do Brasil profundo.
Volto à minha matéria n’O Globo, que dizia:
Porto Velho – Será muito difícil o Governo Federal e particularmente o Governo do Território de Rondônia conseguirem conter o fluxo migratório, pois a região Norte oferece grandes perspectivas para investidores de outros estados e do Brasil.
A opinião é do presidente nacional da Arena, deputado Francelino Pereira, discordando do ministro Rangel Reis – que pretende desencorajar a próxima corrente de famílias que estiver disposta a rumar para Rondônia por estrada de rodagem.
Francelino disse no sábado em Porto Velho:
– Sabemos perfeitamente que se trata de um momento difícil para Rondônia, mas a medida me parece até certo ponto impossível de ser praticada. Não se pode estimular, por outro lado, a migração desordenada que é, acredito, a que se verifica hoje no Território.
Francelino acha que o Governo deve prosseguir, com urgência, na sua política de criar estrutura capaz de responder definitivamente aos grupos humanos que se deslocam para o Território e desejam ali construir a grandeza local, enriquecendo também.
– Rondônia se transforma rapidamente – disse Francelino – num polo de desenvolvimento, constituindo-se em mais um desafio para ação governamental. Há necessidade de uma concentração “mais acentuada de recursos no Território, o que poderá ser feito sempre de acordo com as disponibilidades financeiras do Governo.
Depois da lembrança dessa sofrida, porém gloriosa migração, a viseira seria atirada no lixo e o governo estadual apoiaria o IBGE na composição do necessário “retrato nacional” que se faz a cada dez anos?
___
* A Agência Brasil, órgão oficial de notícias do Governo do Brasil, informa: segundo o diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, apenas cerca de metade da população estimada do Brasil foi recenseada de 1º de agosto até agora, por isso decidiu-se prorrogar o prazo dos trabalhos. E o IBGE informa: desde o início da operação, em 1º de agosto, até 2 de outubro, foram recenseadas 104.445.750 pessoas, em 36.567.808 domicílios no país. Destas, 42,0% estavam na Região Sudeste; 27,0% no Nordeste; 14,3% no Sul; 8,9% no Norte e 7,8% no Centro-Oeste. Até o momento, 48% da população recenseada eram homens e 52% eram mulheres.
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