Quinta-feira, 26 de março de 2015 - 12h50
Restos do velho trem agora repousam num galpão na Zona Leste de Porto Velho /Foto Daiane Mendonça
Montezuma Cruz
Um ano depois de recolher da enxurrada peças pesadas dos trens da extinta Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o governo de Rondônia deu como consolidado o seu apoio na salvação desse patrimônio histórico e cultural de Rondônia.
O titular da Secretaria Estadual de Turismo (Setur), Julio Olivar, informou que até a próxima sexta-feira (27) será concluída a transferência das peças grandes e pesadas, do depósito da extinta Empresa de Navegação de Rondônia, para um barracão de 3,4 mil m² alugado pela Fundação Cultural (Funcultural) do Município de Porto Velho, no bairro Lagoinha, na zona Leste.
O Serviço de Patrimônio da União (SPU) cedeu, até 2020, à prefeitura, a administração dos bens patrimoniais históricos da EFMM. Durante a administração do ex-prefeito Roberto Sobrinho, a revitalização de galpões, oficinas e praça custou R$ 15 milhões.
Julio Olivar: Setur guardou peças desde a cheia de 2014 |
No remanejamento de peças, apoiam diretamente a Funcultural de Porto Velho: o 5º Batalhão de Engenharia e Construção, a Base Logística da 17ª Brigada de Infantaria de Selva, a Superintendência Estadual de Turismo (Setur) e as Secretarias Municipais de Serviços Básicos, Trânsito e Obras. Esses órgãos oferecem caminhões e servidores que se dedicam ao remanejamento das peças pesadas.
“Militares de Logística emprestam as cintas para erguer as peças, e os do 5º BEC, os munques”, explicou a chefe da Divisão de Patrimônio da prefeitura da Capital, Arlene Bastos Lisboa.
Alguns geradores pesam mais de duas ou três toneladas por unidade e exigem pelo menos meia dúzia de homens para movê-los. Lacradas por técnicos do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as peças serão desenferrujadas, limpas e, em alguns casos, terão identificadas as cores da pintura original.
Estão no barracão, cadeiras estofadas dos vagões, monotrilhos, cofres, bigornas, caldeiras, turbinas, ferramentas, aparelhos de oxigênio, entre outras ferragens.
Peças leves ficam no Prédio do Relógio
Poltronas também serão restauradas para retornar ao Museu da EFMM
O Prédio do Relógio, próximo ao rio Madeira, segundo Arlene Lisboa, continuará abrigando peças sujeitas a danos, caso sejam novamente remanejadas. Entre elas: armários espelhados, cristaleiras, louças, talheres, chapeleiras, fotografias sem legenda, sinos, ferramentas, medalhas, moldes de madeira, diversas peças arqueológicas, armários e utensílios domésticos.
O solo argiloso sob o galpão ribeirinho desocupado e o risco de outras enchentes, enquanto não for construído o prometido muro de contenção, justificaram o pedido do superintendente da Setur. Apoiado pelo governador Confúcio Moura, ele endereçou ofício à Confederação Nacional da Indústria (CNI) propondo parceria para a construção de uma escola tecnológica no estacionamento. Seriam necessárias 30 pilastras de aço e só com a blindagem seriam gastos mais de R$ 3 milhões de um total de R$ 7 milhões estimados para o empreendimento completo.
O prédio abrigaria sala para exibição de filmes, guarda de documentos, centro de atendimento ao turista e espaço alternativo. Tudo ao lado do prédio inaugurado pelo ex-governador Araújo Lima, em 1951, e onde também já funcionaram o Fórum da Comarca (nos anos 1970) e a sede do extinto Banco do Estado de Rondônia (anos 1980).
“Ao contrário do que pensam algumas pessoas, o estático não agrega valor”, disse Julio Olivar. Para ele, na modernidade “museu não pode mais ser visto como depósito de velharias, porque deve ter função didática”.
Fundamentando-se em estudo feito pelo presidente da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, Geraldo Godoy, o presidente da Funcultural, Marcos Nobre, sonha com a volta do trem. “Reativar locomotivas não é difícil”, resume. No entanto, admite que nas relações do município com o velho acervo ferroviário, “fazia-se tudo e nada se fazia”.
Marcos Nobre: licitações à vista |
Gradil, guarita e reforma da estação
A Funcultural prevê para abril próximo a licitação para reforma do espaço ferroviário em Porto Velho. Segundo Nobre, a prefeitura reivindicará à Santo Antonio Energia a retomada de investimentos na recuperação do patrimônio histórico à beira-rio.
O Projeto Básico Ambiental (PBA) prevê a revitalização em 14 eixos e dá direito a recursos de R$ 12 milhões à prefeitura. A estação e sede administrativa serão reformadas. Paralelamente, a fiação elétrica atualmente comprometida será subterrânea. Haverá licitação para a instalação de novas luminárias pela Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano.
Há tempos elas não dispõem sequer de vigilância. O uso de drogas e bebidas alcoólicas na área aumentou muito.
“Eu apanho muito, mas não tiro a razão das pessoas que se queixam da demora na solução do problema; também não posso esperar que um anjo do céu desça para nos ajudar a vencer a burocracia”, ele disse.
Ações civis na Justiça e no Ministério Público Federal impedem quaisquer modificações no patrimônio da EFMM, entretanto, os eixos do PBA, aprovados pelo Iphan, preveem a construção de gradil, guarita e a instalação de catraca na praça ferroviária. “Medidas que, de cara, evitam rachas no local e o controle de acesso das pessoas”, comentou Nobre.
Estão ainda previstos pela Funcultural reformas no piso, banheiros e galpões, e melhoria na jardinagem. Para a exploração desse e de outros pontos culturais, ambientais e históricos na capital rondoniense, apoiada pela Setur, a prefeitura pretende formalizar parcerias público-privadas. “É o caminho para colocarmos à disposição do público equipes qualificadas e competentes para promover a auto-manutenção da área, sem a necessidade daquela cansativa dependência do município e do estado”, acrescentou Nobre.
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