Domingo, 3 de abril de 2022 - 07h59
O anúncio da chegada da empresa Canadá Rare Earth Corporation a Rondônia para explorar terras raras a partir do minério de estanho (cassiterita) transporta o leitor ao banco de dados da economia desta região e indica que aqui atuou o grupo Brascan entre os anos 1960 e início dos 80. Brascan operou longo tempo a Mineração Jacundá, em cujo auge, durante o governo do coronel de Exército João Carlos Mader, retirava do subsolo mais de 2,2 mil toneladas de cassiterita em 1969, representando 91,5% da produção beneficiada nacional.
Mesmo depois da expulsão dos garimpeiros dos terrenos das mineradoras por força da Portaria nº 195 que introduziu a lavra mecanizada, o setor cresce, embora apareça timidamente nas estatísticas oficiais: são mais de 11,4 mil t brutas e pureza de 74,58% que proporcionaram em 2020 o faturamento de R$ 360,5 milhões, 15,84% a mais do que no ano anterior, quando alcançava R$ 311,2 milhões.
No aspecto ambiental, até hoje não solucionado, a Brascan fez parte do cenário da devastação de milhares de hectares no interior das terras que originaram o município de Itapuã do Oeste.
A Canadá Rare Earth Corporation, com sede em Vancouver (Columbia Britânica) anunciou com entusiasmo ao governo estadual a instalação de seu empreendimento em Ariquemes, a duzentos quolômetros de Porto Velho, estimando investimentos de R$ 1,5 bilhão e trezentos empregos diretos. À primeira vista isso pode ser bom, porque o setor não proporciona mais do que mil empregos.
Alardeia um pouco mais o recém-chegado grupo canadense, colocando esta parte da Amazônia Ocidental Brasileira no mapa da competitividade: Rondônia passaria a ser o primeiro estado da América Latina "com indústria de terras raras, substâncias químicas usadas na indústria para a produção de diversos itens".
A empresa sediada em Vancouver (na Columbia Britânica) atua há 35 anos no setor, anunciaram seus representantes a um plenário infelizmente desfalcado de especialistas no assunto. O discurso incorporou palavra "sustentável" quando se referiram ao rejeito mineral do garimpo Bom Futuro, considerado há três décadas o maior a céu aberto do mundo
Na padronização do tamanho de fragmentos e aumento da qualidade e concentração relativa do mineral a ser comercializado, a empresa procede ao beneficiamento mineral. O rejeito nada mais é que o produto originado na fase de separação do minério.
A empresa diz que utilizará o mineral por indústrias de alta tecnologia na fabricação de lasers, cabos de fibras ópticas e até no refino de petróleo.
Nos anos 1960, a voz do locutor Lucivaldo Souza, recentemente falecido aos 73 anos, anunciava na Rádio Caiari AM: "São 11h em Porto Velho, Capital Brasileira do Minério de Estanho". Justificava-se, pois era mesmo.
Segundo o especialista em recursos minerais, economista Antonio Teotônio de Souza Neto, da Agência Nacional de Mineração (ANM), ex-Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), começou no século XVII a mineração no território que se denominou Rondônia (bem depois de pertencer ao velho Matto Grosso).
Desbravadores intencionados no aprisionamento de indígenas buscam ouro, cuja corrida só começou em 1978, quando ocorria a substituição da extração rudimentar do minério de estanho pela mecanizada. Daí, conforme estudos de Teotônio, explica-se a diversidade de substâncias encontradas aqui: cassiterita, chumbo, columbita, ouro, manganês, tantalita, wolframita e zinco. E dos não metálicos: água mineral, areia, argilas comuns, calcário (rochas), cascalho, diamante, gemas, rochas (britadas) e rochas irnamentais (granito e afins).
O que o Ministério Público Federal nunca revelou é se os antigos detentores das lavras minerais no Setor Jacundá, do extinto grupo Brascan, seriam responsabilizados pela buraqueira e pela extinção de espécies árvores medicinais cometidos durante as décadas em que ali estiveram. Mas aí já passamos a outro degrau dessa história que teima permanecer na memória dos que ali trabalharam, viveram e testemunharam tudo.
O que tem a ver Rondônia com Londres? A Bolsa!
Acordemos para esse assunto do qual, lamentavelmente, não comentam um só minuto, vereadores, deputados e senadores, todos, sem exceção, com cara de paisagem, acostumados a saudar o progresso sem se importar com suas mínimas consequências.
De outro lado, planejadores e gestores econômicos estaduais poderiam contratar geólogos e ambientalistas para tabalhar exclusivamente ao lado de economistas no desenvolvimento dessa área tão estratégica. Cegueira tem limites.
E onde foi parar o grupo Brascan, depois de ir embora de Rondônia? perguntaria algum o interessado em esclarecer essa parte da história?
Vive noutro corpo, eis a resposta: a toda poderosa canadense Brookfield anunciaria no dia 27 de março um aporte de R$ 650 milhões na Renova Energia, um de seus novos negócios no Brasil. Volto a lembrá-los: isso tudo, depois daquele cenário repleto de garimpeiros, da "invasão de Porto Velho" em 1970, após a edição da Portaria 195, e outros fatos bem conhecidos dos pesquisadores dessa área.
Voltamos ao minério de estanho: Rondônia tem como principais compradores desse minério as fundições de metais não ferrosos: White Solder, Melt Metais, Coopermetal, CFC da Amazônia e Estanho de Rondônia. Transformados, são vendidos no País e no Exterior
Segundo geólogos, o preço do minério de estanho em Ariquemes leva em consideração o preço do estanho no London Metal Exchange (bolsa de metais em Londres, Reino Unido), cotação do dólar e o teor de estanho contido conclui-se retirando de 13 a 15% do montante referente ao custo de processamento.
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