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Montezuma Cruz

Para que serve um herói?


 

MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 

Mais um Cinco de Maio, mais um Dia das Comunicações. O que sentimos? – O silêncio, do Cabixi a Tabajara.
 

Operações militares chefiadas por ele atuaram em Mato Grosso entre 1890 e 1930, descobrindo mananciais de ouro, diamante, manganês (pirolusita, polianita e manganita), gipsito, ferro, prata, turmalina, cristal de rocha, ágata e mármore. 

 Para que serve um herói? - Gente de Opinião

Com a modernidade, alguns vultos nacionais parecem destinados ao vácuo do esquecimento. Nossa memória é seletiva. Desprovidas do civismo de antigamente, muitas escolas e instituições omitem involuntariamente os feitos extraordinários do mato-grossense Cândido Mariano Rondon, que é nome de rua em Campo Grande e originou o nome do Estado de Rondônia, na Amazônia Ocidental Brasileira.

 

Orientados pelo marechal, engenheiros e técnicos brasileiros e alemães contratados pelo Serviço Telegráfico Nacional planejaram e construíram linhas de comunicação entre o sul e o oeste. Aos mais jovens: no início do século passado, o telégrafo antecedia ao telex e ao e-mail. Lembrar Rondon é mais que uma obrigação profissional para nós, jornalistas. Como não admirar a coragem daquele agrupamento de sertanistas no acampamento montado às margens do Rio Juruena, em 20 de outubro de 1900, com um acervo de 619 km de reconhecimento de áreas?

 

Sensibiliza-nos perceber que indígenas tanto amados pelo marechal, inicialmente se rebelaram à presença dos invasores. Segundo a história, uma patrulha composta por Rondon e três mateiros sofreu violento ataque dos Nambikwara. A ponta de uma flecha passou de raspão pelo seu rosto e outra, ervada, ficou cravada num furo da bandoleira de couro da sua carabina. O mateiro Domingos foi atingido levemente com duas flechadas. Frente a frente com os agressores, disparou dois tiros para o ar, pondo-os em fuga.

 

A animosidade dos nativos obrigou-o a ordenar o recuo do destacamento para o vilarejo de Diamantino, a 211 quilômetros de Cuiabá. Os planos de reconhecimento dessa primeira etapa já estavam praticamente concluídos e a época de chuvas intensas aconselhava tomar essa decisão, para evitar novos confrontos.

Logo, Nambikwaras e Parecís aprenderam a telegrafia. A projeção de Rondon como responsável por diversas determinações humanitárias incomuns no deserto selvagem criou um halo em torno de seu nome. Foi por isso que a comissão construtora por ele chefiada passou a ter o nome dele, e a linha telegráfica apontada pelos indígenas da Serra do Norte, como “Língua do Mariano.”

Fotos históricas em museus brasileiros e em Londres lembram o seu jeito fraterno cuidar daqueles que lhe abriam caminho para a futura construção de postos telegráficos, vilas e cidades na selva amazônica. Felizmente, a chegada da comissão ao território indígena não se comparou às artimanhas e depois ao terror levados pelo espanhol Hernan Cortez ao Império Asteca, no México. Foi bem diferente.

 

Trinta anos depois de percorrer os sertões e alcançar a Vila de Santo Antonio do Madeira (em 31 de dezembro de 1909), Rondon viveu os momentos de crise e ruptura com o que vinha fazendo nos sertões. Seu método de trabalho fora rejeitado pelo Estado, nas circunstâncias em que vinha sendo feito.  Roquete Pinto, autor do livro “Rondônia, a terra de Rondon”, e Laura Maciel, autora de “A Nação pelo fio”, avaliam a “fortuna crítica” e os fundamentos do marechal.

 

Há muito mais a dizer desse ilustre mato-grossense, inclusive a respeito de uma minoria que tentou enganá-lo, alardeando ao governo brasileiro a descoberta de minas de ouro verdadeiramente encontradas por ele, tal qual ocorreu em Apediá (RO). No entanto, isso cabe aos mestres das universidades e àqueles professores de história capazes de se comover com os feitos do marechal e de reescrever sua trajetória.

 

O que veio depois da picada, do seringal, do boi, da boiada e da BR-29 (depois BR-364)? Nem todos os que seguiram para Rondônia, no rastro de Rondon, tiveram missão pacifista igual à dele. Desafiaram, mataram índios, posseiros, corromperam, fazendo da ocupação amazônica uma nódoa que dura desde o Programa de Integração Nacional, sucedido por outros, entre os quais, o Polamazônia, Polonoroeste e Planafloro.

 

O que foi feito da memória de Rondon?

 

Parafraseamos Bertolt Brecht: quando, onde e para que serve o herói?

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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