Passeio ecológico em Xapuri mostra a floresta a brasileiros e estrangeiros

Samaúma gigantesca igual a esta mostra ao visitante a razão de Chico Mendes ter promovido aqueles "empates" entre o final da década de 1970 e o começo dos anos 1980 /MARÍLIA BOMFIM

MONTEZUMA CRUZ
Amazônias

XAPURI, Acre – Pousada Ecológica Seringal Cachoeira. Já ouvi falar? Esse empreendimento do governo estadual acreano no município de Xapuri, a 240 quilômetros de Rio Branco, custou R$ 200 mil e visa consolidar a rota turística denominada Caminhos de Chico Mendes.

As 32 acomodações, os dois chalés para casal e o apartamento triplo estão sempre ocupados e mais ficarão a partir do momento em que a pousada começar a receber também a visita de peruanos da região de Madre de Dios. Rio Branco já tem vôos semanais para Lima, o que facilita a mão-dupla no turismo, há tempos esperada.

Xapuri fica próxima de uma fronteira trinacional com forte desejo de integração. É a conhecida MAP (Madre de Dios-Acre-Pando). Madre de Dios é uma província peruana, o Pando, uma província boliviana. Ambas vivem um momento demudanças de seu uso territorial. Os planos de integração regional, os avanços na infraestrutura e as exigências de uma vida melhor nas sociedades da região proporcionam crescentes demandas sobre os recursos naturais e seus ecossistemas.

Para a administradora da pousada, Rita Ramos, a presença de estudantes, cientistas e turistas de terça-feira a domingo “enriquece” o lugar. “Xapuri e o Acre se tornam conhecidos não apenas pelo passado de resistência, mas pelo carinho que proporcionam às pessoas, sejam elas brasileiras ou estrangeiras”, ela comenta.

A este site, o prefeito Francisco Ubiraci Vasconcelos (PT), o Bira, disse que a diferença entre o Acre e outros estados na área do ecoturismo se resume às iniciativas de governo: “Aqui elas se transformam em projetos reais”, afirma.

Bira lembra que o turista pode beber o café da manhã no Seringal Cachoeira, almoçar na Bolívia e jantar no Peru. Daí, a expectativa dele e das autoridades estaduais em fazer, cada vez mais, as famílias compreenderem o sentido de se apoiarem mutuamente.

Bom lugar para o descanso e ideal para acomodar pessoas interessadas em fazer ecoturismo, aprendendo a conhecer melhor a floresta /ECOVIAGEM

Mais de três mil visitantes

Os 24 mil hectares da reserva são cuidados por 86 famílias que em outubro do ano passado comemoraram a instalação de mais uma escola no município. Agora elas totalizam 40. “Nenhum projeto cai do céu, nem funciona sem análise e ações da associação dos extrativistas”, ele alerta.

Segundo o prefeito, os produtos florestais certificados e a criação de 10 a 20 cabeças de gado por chefe de família vêm se tornando “a poupança” dos antigos moradores dos seringais Equador, São José, São Miguel, Nova Esperança e do Recanto, para onde se dirigem os visitantes interessados nas histórias sociais e ecológicas da região.

Desde novembro de 2007, mais de três mil pessoas, a maior parte estrangeira, visitaram o Seringal Cachoeira, a pousada e demais áreas.

Impressão da estudante de teatro na Universidade de Brasília (UnB), Marília Bomfim em seu blog: “O lugar é lindo!  O lugar é histórico! Dá para perceber com mais detalhes o porquê dos empates. A luta de Chico Mendes e de todos que ainda moram no Cachoeira valeu a pena. A humanidade será grata para sempre!”.

Samaúmas gigantescas e centenárias

RAIMARI CARDOSO
Editor do blog Xapuri Agora

Rita Ramos: "Xapuri se torna conhecida pelo carinho oferecido aos visitantes"  /MONTEZUMA CRUZ

XAPURI – Sebastião Teixeira Mendes, o Tião, é primo-irmão de Chico Mendes e, hoje, um dos guardiões do santuário em que se converteu o seringal Cachoeira após a morte do líder sindical, em 22 de dezembro de 1988.  Depois de cortar seringa durante 46 anos, hoje só pega na "cabrita" para fazer demonstrações aos turistas.

Aposentado do corte da seringa, Tião trabalha, atualmente, como guia da pousada ecológica. Percorre as trilhas mostrando aos visitantes o dia-a-dia do seringueiro dentro da floresta e contando histórias reais e do imaginário dos habitantes dos seringais. Recebe R$ 25,00 por grupo que orienta.

O seringueiro conta que foram difíceis e perigosos aqueles tempos, quando participou, junto com Chico Mendes, dos empates contra os motosserras do fazendeiro paranaense Darly Alves. "Ele chegou a vir aqui dizer que ia fazer uma igreja para nós na beira do Chipamanu", relembra deixando claro que se tratava de uma ameaça velada.

A samaúma ou “Rainha da Floresta” citada a cima – árvore de porte gigantesco e certamente centenária – é um dos grandes orgulhos e das principais atrações mostradas por Tiãoaos visitantes. Para se chegar ao local anda-se cerca de 500 metros dentro da mata, mas o resultado vale a pena.

Memória permanente do socioambientalismo

EDIMILSON FERREIRA
Agência Acre

Prefeito Bira: "Iniciativas se transformam em projetos reais" /MONTEZUMA CRUZ

XAPURI – Para Raimundo Barros, o Raimundão, o local é o emblema dessa luta e, portanto, tem de ser de fato uma memória permanente do socioambientalismo. “A gente precisa valorizar o que deu início à caminhada que nos fez chegar onde estamos”, disse Raimundão,parabenizando o governador pela idéia, que busca, conforme propôs o ex-governador Binho Marques, juntar o passado e o futuro.

Localizada na Colocação Fazendinha, de propriedade de Francisco Mendes, o Tito, a Escola Esperança do Povo mantém 103 estudantes nos vários níveis de ensino, do pré ao médio, e em sua nova concepção ampliará o atendimento, servindo inclusive de base para jovens de outras comunidades.

De fato, cada equipamento e ambiente da Fazendinha conta a história da comunidade. No campo de futebol, carinhosamente conhecido por “Estádio” Pequiá, os trabalhadores conseguiam repousar à noite durante os empates mais longos. “Como é aberto, o pessoal tinha como saber se acontecesse alguma coisa”, lembra Nilson Mendes, primo de Chico Mendes, ele próprio alfabetizado na antiga escolinha ao lado do “estádio”.

O projeto da nova escola está conectado à política de turismo para a região. Há três anos o Governo do Estado construía a pousada ecológica no Cachoeira, onde se conhece as raízes do socioambientalismo e se vivencia o cotidiano de um morador da floresta.

Segundo o secretário Eduardo Vieira, o custo da obra alcança R$ 900 mil, com perspectiva de abrigar cinco salas de aula, biblioteca, coordenação e multimeios com conexão ao programa Floresta Digital. Xapuri deverá ser referência em conhecimento e educação na Amazônia. Uma das bases é o acordo de cooperação do Governo do Estado com o Centro Agronômico e Tropical de Pesquisa e Ensino, que tem sede na Costa Rica, e com a UnB, que no Acre especializou-se no ensino a distância.

O QUE FAZER NESSE PASSEIO

■ As instalações possuem recepção, restaurante, cozinha, um chalé, dois quartos com sala, dois belichários (masculino e feminino) e dois apartamentos.

■ As diárias variam de R$ 50,00 (belichários) a R$ 180,00 (chalé com uma suíte e um quarto para solteiro).

■ Principais atrações são as trilhas por dentro da mata virgem, onde pode ser conhecida a extração de látex e a coleta de castanha. O visitante pode ainda ter contato com alguns animais em seu hábitat.

EMPATES ERAM

■ Uma tática de ação intermediária criada por Chico Mendes. Ele perfilava no meio da floresta homens, mulheres, crianças e anciãos, para impedir a sua destruição. Quando juntava dezenas de pessoas e os colocava em frente a um trator, Chico Mendes tinha a consciência do perigo.

■ Um tratorista-jagunço poderia passar por cima (literalmente) daquelas pessoas, incluindo anciãos, mulheres e crianças. Uma árvore poderia cair e matar crianças. Balas endereçadas a ele ou a outras lideranças poderiam atingir os inocentes.

■ Essa tática era intermediária entre o pacifismo e o belicismo, uma forma de luta nova, que combina o pacifismo da espera, formação de aliados, com o belicismo do enfrentamento. (Com informações da Wikipédia)