Segunda-feira, 11 de junho de 2012 - 18h11
Makurap e Sakirap do Ro Mequém foram reduzidos de 800 índios, na década de 1940, para menos de 70 em 1984. Roubaram-lhes a última reserva de mogno e cerejeira /CIMI |
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Apoena Meireles começava a se desligar do cargo, insatisfeito com os rumos da política indigenista. Prometia seguir visitando as aldeias, “porque além do compromisso sério com os índios, acima de tudo tinha deveres para com a Funai.” Publiquei no Jornal do Brasil, em 15/7/1984:
Apoena condena a direção da Funai
Porto Velho –O delegado da Funai em Rondônia, Apoena Meireles, desabafa: “Mantenho a posição que assumi. Toda essa propalada abertura na Funai não passa de um blefe, visando a iludir as verdadeiras lideranças indígenas e a opinião pública, com objetivos puramente políticos e demagógicos. Quem subverteu a ordem, vendendo uma falsa imagem da Funai, foi seu presidente Jurandir Marcos da Fonseca, que conseguiu, com cargos, a adesão e o silêncio de índios e ex-funcionários que criticavam o órgão.”
Meireles protestou contra a demissão do delegado de Bauru (SP), Álvaro Vilas-Boas e enviou um telegrama ao presidente da Funai. (...) O sertanista alertou para a existência de “lideranças indígenas em todas as reservas do País, muitas vezes divididas nas aldeias”.
O desemprego no sul do País, a migração desenfreada e a grilagem de terras formavam um trio de difícil administração naquela Rondônia bafejada pelos dólares do Banco Mundial. Não era uma conclusão minha, mas da antropóloga Betty Mindlin, encarregada de avaliar o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste) para a Funai.
Betty Mindlin: estudo do Povo Suruí sob o impacto do financiamento do Banco Mundial /LETRAS & LEITURAS |
Os recursos previstos para o período 1981/1985 eram de 26,6 milhões de dólares, somente para a preservação indígena, entretanto, a Funai aplicou somente Cr$ 4 bilhões, que Betty considerava pouco em relação ao que deveria ser gasto anualmente. Construíam-se enfermarias, escolas e sedes de aldeias, quando a demarcação era essencial.
Betty via de perto a nova invasão das terras Suruís, na altura da linha 14, a leste de Cacoal, rumo a Mato Grosso, de onde haviam sido retiradas cerca de 80 famílias em 1980. Dois homens lideravam as invasões no território Cinta-larga, no Roosevelt: José Lucas e Alberto Rodrigues dos Santos.
Assim, reservas e áreas interditadas por decreto presidencial foram ocupadas por posseiros e grileiros. “Outro dia nós expulsamos 12 homens de lá”, contava-me o líder cinta-larga Pichuvi, do Roosevelt. “Eles falaram que tinham licença do Incra; mentira!”
A realidade irritava os indígenas e desafiava as autoridades. A pedido do procurador da Funai, Irineu Oliveira Filho, a PF abriria inquérito para comprovar furtos pela Comercial Exportadora de Madeira Ltda., na Terra Cinta-larga, em Espigão do Oeste. E no Distrito de Nova Colina até o administrador Usino Caetano de Andrade era acusado de invadir as terras dos Gaviões e Araras.
Além da demarcação do território Nambikwara, no Vale do Guaporé – entre Rondônia e Mato Grosso –, nenhum outro recebeu recursos financeiros, à exceção do Posto Indígena Rio Branco, no município de Costa Marques, onde vivem os Tuparis, Makuraps, Canoés e Aruás, num total de 240 mil hectares. Havia grileiros com títulos de terra entre os Karipuna, Zoró, Cinta-larga e Kaxarari. A maior parte estava cercada por fazendas no início dos anos 1980.
Na edição de 18/9/1984 do JB publiquei:
Índios libertam dez invasores do Posto Igarapé Lourdes
Porto Velho e Ji-Paraná –Depois de quase um mês mantidos como reféns, dez invasores do Posto Indígena de Igarapé Lourdes, no município de Ji-Paraná, foram postos em liberdade no final da semana pelas tribos Arara e Gavião.
Os índios os prenderam para – conforme explicações do chefe Catarino Gavião – advertir aos demais sobre a necessidade de deixarem o seu território com urgência. Ao prestar a informação, ontem, o delegado-adjunto da Funai, Amauri Vieira, disse que desconhecia a maneira como o delegado e sertanista Apoena Meireles conseguira a libertação dos reféns, pois as transmissões de rádio entre a 8ª Delegacia e a sede do posto são no momento precárias.
(...) Os posseiros e reféns soltos: Agostinho Carlos Pereira, Isaías Alune Vailandi, Davi Paulino Vailandi, Davi Vieira de Aquino, Elias Vieira de Aquino, José Antônio de Oliveira, Levi Soares, Moisés Paulino Vailandi e Sebastião Anselmo.
Reduzidos de 800 índios na década de 1940 para menos de 70 em 1984, Makurap e Sakirap do Rio Mequém (região de Pimenta Bueno) lutaram sem êxito para evitar a derrubada da última reserva de mogno e cerejeira, pelos fazendeiros Hélio Lima de Uberaba (MG), João Bosco Altoé (de Pimenta Bueno) e o grupo Lavrama do Norte (de Canoinhas-RS). Numa voracidade impressionante, os madeireiros fizeram a “limpeza” onde restavam essas espécies. O pessoal da Lavrama fora denunciado por Apoena Meireles de promover uma festa regada a bebidas alcoólicas, para convencer os índios a “vender” a madeira.
Nos anos 1980 Makuraps e Sakiraps ainda viviam da exploração da borracha, que vendiam a Cr$ 1,5 mil aos fazendeiros; estes revendiam o produto a Cr$ 2,9 mil em Cacoal. Foram vítimas de uma epidemia de sarampo que dizimou 25 deles. O advogado Ernandes Segismundo, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denunciava a perda diária de 20 a 45 caminhões de madeira. Cada caminhão carregado proporcionava um lucro de Cr$ 3 milhões.
Mapa atual da demarcação do território indígena em Rondônia /MOCHILEIRO |
Houve momentos em que o feitiço virava contra o feiticeiro. Nas vésperas do natal de 1985 nove fazendeiros que dez anos atrás invadiram o território Cinta-Larga, na região do Roosevelt (entre Rondônia e Mato Grosso) foram despejados por cerca de 150 índios armados com arcos, flechas e espingardas.
Ao recuperarem 38 mil hectares de sua reserva, eles abateram porcos, galinhas e gado bovino. “Comemoraram pintados, dançando e cantando”, contava-me o missionário do Cimi, Antonio Marchi. Os expulsos: Manoel Ferro (Rondonópolis-MT), 14 mil hectares; José Lucas (Angélica-MS), dois mil ha, com mil cabeças de gado na fazenda dirigida pelo genro Didi; Vilvar (Pimenta Bueno), dono de um posto de combustíveis, abria fazenda; Avelino, dois mil ha, já morava na área que abandonaria por problemas de saúde, mas segundo os índios “era gente boa”; Cláudio, com lavoura branca, pastagens e gado; Joaquim, sargento reformado do Exército, seis mil ha; Chico Arruda, que explorava seringal nativo em seis mil ha, com irmãos e empregados; Robertão, irmão da então prefeita Lúcia Tereza dos Santos, com dois mil ha; Agostinho, José Carlos e Tributino, 120 ha com quatro mil pés de café, gado, porcos e galinhas.
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