MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
BRASÍLIA – A busca de vestígios da civilização inca na Amazônia Ocidental prosseguirá, informou hoje o pesquisador Joaquim Cunha da Silva, especialista em georreferenciamento. Segundo ele, o coordenador de Pesquisa e Licenciamento Arqueológico do Centro Nacional de Arqueologia do Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Rogério José Dias, renovou a permissão de pesquisa arqueológica na região da Zona da Mata.
— Agora a coisa vai — ele disse. Silva temia que a ação de proprietários rurais, garimpeiros e caçadores desinformados acelerasse a depredação.
Ao lado dos geoglifos do Acre, os de Rondônia constituem um dos mais ricos patrimônios arqueológicos do norte do País. Silva se dedica a pesquisar a região há cerca de 30 anos, quando acompanhava o irmão sertanista Aimoré Cunha da Silva no trabalho com povos indígenas Nambikwara. O importante, segundo ele, é preservar tudo o que foi até agora encontrado.
O sítio arqueológico pré-colombiano existente nos municípios de Alta Floresta, Rolim de Moura e Santa Luzia teve renovada a sua pesquisa para o período de seis meses, publicou o Diário Oficial da União.
Garimpeiro queria vender osso gigante
Silva lembrou que nos anos 1980, no auge do garimpo de ouro do Rio Madeira, o pesquisador paleontólogo Eurico Müller (de Taquara-RS) soube que um garimpeiro encontrara um osso gigante e pretendia vendê-lo, em vez de doá-lo. Provavelmente, por ignorar o valor histórico e científico da peça para estudos de museus especializados.
— Precisamos evitar situações semelhantes. Em todas as minhas incursões na floresta e nos campos tenho conversado com proprietários rurais, mas não tive a garantia de que eles evitariam que o trator passasse por cima de pedras e cerâmicas de alto valor.
Desde o século XVI
Silva reiterou que nesse sítio da Zona da Mata já foram localizados pedaços de cerâmica, estatuetas, oficinas líticas e os geoglifos que já estão no Google Earth. Pesquisadores do México, do Peru, do interior paulista, do Acre, do Amazonas, do Pará e de universidades de Rondônia demonstram interesse em auxiliar nos estudos das peças.
— Alguns desses geoglifos identificados são resistentes ao fogo — assinala. Lembrou Silva que a região do Vale do Guaporé é explorada desde o século XVI pelos conquistadores espanhóis. Eles buscavam ali a suposta localização da lendária cidade do Eldorado, um reino denominado Gran-Moxo. Estudos revelam que esse território coberto durante séculos pela floresta seria um poderoso estado pré-colombiano situado em algum ponto da Amazônia.
Segundo o pesquisador as indicações do antigo mapa de Paititi conservado no museu Eclesiástico de Cuzco (Peru) apontam muitas coincidências geográficas com a região de Alta Floresta, ameaçada há duas décadas pela expansão agrícola.
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Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)