Domingo, 9 de janeiro de 2011 - 11h20
Prisão e extradição de Max abre caminho para a Justiça decretar confisco de bens do narcotraficante na região de Nova Mamoré e Guajará-Mirim. Propriedades estão em nomes de terceiros /DALJE |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
BRASÍLIA – É possível que agora, com o acordo antidrogas firmado entre os governos brasileiro e boliviano, o Departamento de Polícia Federal (DPF) complete seus inquéritos e a Justiça Federal decrete o confisco dos bens do narcotraficante Maximiliano Dorado Munhoz Filho, o Max. Ele foi preso no final do ano passado em Santa Cruz de La Sierra numa operação coordenada pelo DPF e pela Força Especial de Luta Contra o Narcotráfico, do país vizinho. Seus bens estão em nomes de laranjas.
Até a sua captura e extradição para o Brasil, Maximiliano Dorado vivia intocável. Fora visto em cidades bolivianas e brasileiras, mas ninguém punha as mãos nele. Quando cumpria pena no Presídio Urso Branco, em Porto Velho, liderava detentos. Fugiria em 2001. A ele é atribuída a ordem para o assassinato do agente penitenciário Salomão Gabriel da Costa, em 1999, crime pelo qual foi processado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.
É ousado: num enfrentamento com a polícia, na rodovia BR-319 (Porto Velho-Manaus), Max usava metralhadoras ponto 50 e conseguia afugentar seus perseguidores. (Clique AQUI e reveja reportagem da TV Bandeirantes sobre a aplicação da lei do abate).
Mais uma investida
O novo acordo Brasil-Bolívia começa sem a garantia de que dará certo (leia quadro explicativo). Será mais uma investida contra os crimes de tráfico de drogas, contrabando e homicídios em regiões de fronteira. Entre as inovações nessas ações, destaca-se o uso de veículos aéreos não-tripulados, os conhecidos Vants.
No Paraguai, o Brasil investiu aproximadamente R$ 700 mil para conter o tráfico e o contrabando. A partir daí, o governo viu a possibilidade de promover outros acordos, no mesmo modelo, com o Uruguai e a Argentina.
Na série Rondônia de Ontem, este site vem recordando que nos anos 1980 narcotraficantes brasileiros, peruanos e colombianos adquiriam em São Paulo a maior parte da carga de toneladas de produtos químicos utilizados no refino da cocaína em laboratórios escondidos na floresta da Amazônia Ocidental.
Rio Itenez é um dos caminhos para a entrada de ácidos e saída de cocaína refinada em laboratórios escondidos na floresta boliviana /FLICKR |
Irmão e amigo fazem parte da quadrilha
PORTO VELHO – A Justiça Brasileira havia pedido a extradição de Max Dorado, mas via fragilidade na Guarda Nacional Boliviana. Os mandados de prisão contra Max foram expedidos pela 2ª Vara do Tribunal do Júri em Porto Velho, pela Vara de Execuções Penais e pela 3ª Vara Federal em Rondônia, respectivamente pelos crimes de homicídio, trafico de drogas e lavagem de dinheiro.
Em 2009, um dos possíveis aliados dele, Alcides Quizone, mesmo alegando ter residência fixa em Cerejeiras, era visto com freqüência em Cochabamba. Já havia cumprido pena por tráfico de drogas em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai e Argentina.
Em abril daquele ano, a Operação Bravo, do DPF e do Exército, destruía pistas clandestinas usadas pelo cartel de drogas na região de Guajará-Mirim, fronteiriça ao Departamento de Beni, na Amazônia Boliviana. Uma das pistas, na Fazenda Santana, num ramal próximo ao Km 13, da BR-425, próximo a Nova Mamoré, era administrada pelo boliviano Eidy Azogue Dorado Munhoz, irmão de Max.
O delegado do DPF, Mauro Spósito informava na ocasião que Eidy Dorado “não tinha renda, mas emprestava o nome ao irmão”. Com isso, ambos pretendiam dissimular a origem do dinheiro utilizado na compra da fazenda e de outros supostos investimentos na propriedade
Agentes que integraram a operação que também ficou conhecida por Tapamax – alcançavam também uma área conhecida por “Fazenda do Tom”, propriedade de Edcleiton Crispim de Oliveira, dono da rede de supermercados “Jerry”, em Guajará-Mirim. Ele é cunhado de Max Dorado.
QUE ACORDO É ESSE?
■ A PF promoverá “campanhas de erradicação” de pés de coca em território boliviano. Registre-se que há duas décadas semelhante iniciativa já fora tomada, visando à substituição das lavouras milenares de coca por cafezais. Não funcionou.
■ A articulação entre o Brasil e a Bolívia abrange áreas de logística, investigação e orientações legislativas. Segundo o diretor de Combate ao Crime Organizado do DPF, RobertonTroncon, as operações visam impedir que a entrada de produtos ilícitos e que as riquezas saiam.
■ O Brasil possui oito mil quilômetros de fronteira seca. Grande parte das armas contrabandeadas e da droga movimentada pelos traficantes passa por ela.
■ Duas toneladas de pasta base de cocaína e 57 t de maconha foram apreendidas nessas áreas, em 2010. Agentes do DPF cumpriram 270 mandados de prisão e prenderam 1.880 pessoas em flagrante.
■ Desde 2009, a Operação Sentinela prevê ações conjuntas nessas regiões, envolvendo a PF, a Força Nacional, as Forças Armadas, a Receita Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as polícias estaduais.
■ No Paraguai, ações conjuntas resultaram na redução de 900 hectares de plantação de maconha. Estima-se que cerca de três toneladas da droga deixaram de circular. Desse volume, 80% se destinavam ao Brasil.
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