MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
BRASÍLIA – Nos estados do Acre e de Rondônia poucos o conhecem. Aos cem anos de idade, completados em 2007, antes das comemorações do Primeiro Centenário da Imigração Japonesa, Tsuguio Takigawa (foto Altino Correia) é o pioneiro no abastecimento da Amazônia Ocidental com hortifrutigranjeiros. Mora em Presidente Prudente (SP) e é de lá que saem seus caminhões Mercedes Benz lotados rumo a esses dois estados, sempre carentes. Uma frota pilotada por motoristas que conheceram as dificuldades para se alcançar o norte brasileiro por estrada sem asfalto, a 2,6 mil quilômetros do ponto de embarque das mercadorias.
Takigawa começou a atender parte da Amazônia entre o final dos anos 1960 e 1970, quando a BR-364 (ex-BR-29) era ainda esburacada, com muita poeira no verão e atoleiros no período das chuvas, o "inverno amazônico". Nessa época lá também trafegavam os ônibus da Viação Motta, de Presidente Prudente, que atuava no extinto Território Federal de Rondônia quando só havia a Viação Rondônia, cujos ônibus não faziam linhas interestaduais.
A Motta aventurou-se ainda pela BR-319 (Porto Velho-Manaus), antecedendo a chegada da Empresa União Cascavel (Eucatur) e da Empresa de Transportes Andorinha, também de Presidente Prudente. Em resumo: motoristas e passageiros de todas elas conheceram atoleiros de verdade que ainda fazem o cenário de alguns municípios amazônicos.
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Frota do pioneiro enfrentava atoleiros iguais a esse na BR-364, em Rondônia /KIM-IR-SEN |
Na feira, atração
Certamente, a foto do discreto empresário Takigawa nesta matéria é uma raridade. Pelo menos com aqueles que conversei durante três décadas – políticos, autoridades e outras pessoas de Rondônia e do Acre – disseram ter ouvido falar dele em algumas ocasiões, mas nunca o conheceram pessoalmente. E assim o tempo passou, sem que o pioneiro a distância recebesse qualquer homenagem em algum dos municípios abastecidos por sua empresa.
Em 1976, quando este repórter desembarcou em
Porto Velho e foi morar próximo à Feira do Km 1, a chegada dos caminhões carregados com verduras procedentes das regiões da Alta Sorocabana paulista e de Campo Grande, Mato Grosso – que ainda não era do Sul – sempre se transformava num atrativo.
Entre os assuntos do dia, destacava-se a qualidade do tomate, do repolho, do pepino, do pimentão, da melancia, da laranja, do melão, dos ovos de granja e de outros produtos abastecidos pelo japonês. Tudo de primeira. A freguesia da feira se queixava muito da carestia, mas sabia que Porto Velho não tinha um cinturão verde e que a alta de preço compensava o frete entre dois estados e um território percorridos pelos caminhões.
Quando o tráfego estava regular, as viagens da frota de Takigawa demoravam três dias. Passando disso, os motoristas perdiam cargas de produtos perecíveis e aí entravam em cena os aviões Búfalo da FAB, transportando gêneros e combustíveis para Guajará-Mirim (RO), na fronteira com a Bolívia, e Rio Branco, a 500 quilômetros de Porto Velho.
Lúcido
Numa das minhas visitas a blogs na internet localizei o do jornalista
Altino Correia ("Memórias de um Repórter de Interior"), com quem trabalhei até meados dos anos 1970 em Presidente Prudente. Nele há um relato a respeito da vida do pioneiro Takigawa, que comemorou 100 anos de vida em julho do ano passado, na companhia de dez filhos e noras, 31 netos, 39 bisnetos e um tataraneto, além de muitos amigos que o homenagearam numa festa memorável.
Aspas para Correia: "Perfeitamente lúcido, ele diz que deixou a província de Kumamoto-Ken Kiushu em 1933, a bordo do navio Hawai Maru, juntamente com a esposa, Sra. Kanae (grávida de seu primeiro filho Yoiti) que deu à luz durante a viagem quando passava pela Índia), a filha Sakae e os irmãos Katsuo e Itsuo.
"Chegando ao Brasil, o Sr. Takigawa veio direto para Presidente Prudente, morando no Bairro Limoeiro e trabalhando como meeiro. Com a renda obtida, comprou um sítio de dez alqueires em Sapesal, distrito de Paraguaçu Paulista, para onde mudou e permaneceu por oito anos. Daí, retornou para o Bairro Floresta em 1941 e depois para o São Matheus em 1943, onde adquiriu outro sitio de 20 alqueires. Descendente de agricultores, dedicou-se inicialmente ao cultivo do café e à criação de suínos. Depois, hortelã, algodão, milho e arroz que cultivou para comercialização, com a participação dos filhos.
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Família homenageou o patriarca no ano passado |
Do café aos
hortifrútis
"Em 1950, o Sr. Tsuguio Takigawa adquiriu uma nova propriedade rural de 13 alqueires em Indiana (região de Presidente Prudente), para onde se transferiu com a família.
Em 1953, por recomendação de um amigo trocou a produção de cereais por hortifrútis, de maior facilidade na comercialização. O primeiro filho do casal (que nasceu na viagem para o Brasil), com quem morava, faleceu em 1982 com 49 anos de idade. A esposa, Sra. Kanae, faleceu em 1989. A partir daí o sr. Takigawa passou a residir com a família do filho Kiogi (Antonio) e da nora Matunko, na Avenida Manoel Goulart, em Presidente Prudente".
Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.
IMIGRAÇÃO JAPONESA PARA RONDÔNIA
Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)