Terça-feira, 10 de maio de 2011 - 14h11
MONTEZUMA CRUZ
Três ônibus chegaram lotados e estacionaram na porta da Coordenadoria Especial do Incra em Porto Velho. Dentro deles, quatro mulheres e 123 homens empoeirados e com semblantes cansados após 12h de viagem pela BR-364 haviam deixado Cacoal sem saber onde ficava a Gleba Jacy, seu novo destino, a quase seiscentos quilômetros de lá.
Estamos em 1982, ano das primeiras eleições do novo estado amazônico. Este repórter acompanha mais uma saga de sulistas, nortistas e nordestinos que seguirão para o km 66 da rodovia, no sentido Acre. Para alcançar a gleba onde cada um receberá um lote de cem hectares eles seguirão viagem em caminhões e nos ônibus da Viação Amazonas, acompanhados de quatro técnicos do Incra.
Quem são eles? Procedentes de Cacoal, Rolim de Moura, Santa Luzia, onde ocupavam áreas de terra em litígio com fazendeiros, migravam dentro da própria Rondônia. Numa segunda seriam remanejadas centenas de famílias de Colorado do Oeste. A nova morada ficaria às margens do Rio Madeira.
“Doutor, vou logo dizendo: se a terra não prestar, volto de mala e bagagem para onde a gente estava”, desabafava a trabalhadora alagoana Josefa Torres Xavier, 57 anos, 11 filhos. Com uma súplica: “Doutor, a gente quer ficar tudo junto, do jeito que nós morava lá em Cacoal. Apartar nós num vai resolver; será que dá pro senhor botá nós bem vizinhas?”. Referia-se a três companheiras de viagem e de lote em Cacoal: a gaúcha Eva Proença, 42, viúva, quatro filhos; sua filha Ione Lourdes dos Santos, 24; e a capixaba Maria Rocha de Andrade, 44.
Com passagem pelo Paraná o colono capixaba Vitalino Ildefonso de Souza, 55, cinco filhos, viajava com o filho Ananias, 25, e mais dois genros. Parou de conversar no pátio do Incra para admirar o pessoal na disputa por uma mangueira d’água. Roberto Silva, 58, dez filhos, queixava-se do pouco dinheiro de todos e da parca alimentação que cada um pôde adquirir pão, carne assada e pescado.
“Nosso maior medo é a malária. O senhor pode dizer ao governo pra dar uma forcinha pra gente? Se não tiver a doença a roça vai ser uma beleza”, proclamava o colono João Fragoso de Melo, 38, que viajou de Catolé do Rocha (PB) junto com o irmão Francisco.
Mais atrás, o mineiro Manoel Sacerdote Rosado, 39, cinco filhos, ouvia outro paraibano, João Batista de Andrade, 42, nove filhos, vislumbrar o seu futuro na gleba: “Moço, eu estou disposto a fazer a derrubada, nem que for uma quarta só; quero plantar de tudo, vou endireitar a vida e ganhar dinheiro”.
Onde fica Guajará-Mirim? – mais uma indagação. Ninguém sabia ao certo de que lado estava a gleba, mas já se plantava banana e café conillon (que chamavam de canelão). “Olhe aí seu jornalista, um gado pequeno eu quero ter; vou levando cinco tipos de capim pra plantar por lá: brachiária, colonião, gordura, grama-sede e Jaraguá, os melhores que eu pude arrumar”, argumenta o baiano José Martins Reis, 30.
Batia um recorde naquela ocasião, ao ouvir uns 30 trabalhadores, cada qual querendo contar um pouco de história e falar da expectativa com a terra prometida. Propunham estrada boa e acesso com balsa. Cartões nas mãos, camisas desabotoadas, suados, mas demonstrando algum otimismo, lá se foram, mata adentro os remanejados, verdadeiros colonizadores.
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