Porto Velho aguarda pacientemente o dia em que sua gente possa retornar às praças, delas fazendo o espaço diário para reflexões, encontros, reencontros, pregação evangélica, meditação, protesto, ou, simplesmente, observar a passarada.
Esse dia chegará, com ou sem compromissos eleitorais. Ora, devolver uma praça ao povo independe de programa, projeto, compromisso; é questão de brio.
Professores, religiosos, profissionais liberais, pipoqueiros, vendedores de churros, movimentos sociais, universitários, moradores de rua e tantas outras categorias se sentirão bem ao Sol da pequena, mas calorosa praça Jônathas Pedrosa. Ou das igualmente judiadas praças Rondon e Aluízio Ferreira. A Rondon é secular.
Dentro de seus limites, a praça tudo permite. Usá-la significa revalorizar e revitalizar a cidade, fazer ressurgir o namoro, um velho costume que a urbanização intimidou. Dotá-las de bancos possibilita a leitura diária de livros, jornais, apostilas e almanaques.
No Rio Grande do Norte, Câmara Cascudo ensinava: “É na calçada que tudo começa, onde as pessoas sentam, conversam, e as calçadas levam às ruas e as ruas, às praças”. Eis aí a maneira prática de evitar, ou pelo menos controlar o excesso de barbaridades vistas em redes sociais na internet; BBBs da ociosidade, da mediocridade e do desamor; “achismos de botecos”, entre outras.
Caminhar pela praça permite rever a notável bailarina, comentar o futebol e a política, observar radiantes colegiais, manifestar-se a respeito disso ou daquilo, é também a maneira prática de rejeitar inutilidades televisivas pouco edificantes.
A poesia pode ser declamada na praça, tal qual o saudoso Cabo Lira fazia na porta do Boteco de Dona Cleusa, na Rua José de Alencar, sob os aplausos do jornalista Paulo Queiroz.
Ressuscitar as praças de Porto Velho significa trazer de volta arte, o artesanato na calçada, a falação. Castro Alves não ia ao povo pregar a libertação dos escravos, porém, defendia justiça social, mudanças, o papel que cabe aos intelectuais e à arte, especialmente, à poesia.
Na medida certa, a praça nos revela o drama do ser humano, suas agruras e suas alegrias. Para vivermos, necessitamos da praça livre, tanto quanto o céu é do condor, a ave símbolo da libertação sul-americana.
Queremos nossas praças de volta, preferencialmente antes das próximas eleições municipais, sem dar trelas à demagogia de ninguém.
Podemos até nos permitir a bater palmas pela devolução legítima, eficaz e pacífica. É o reconhecimento por tanta espera.
Que elas nos embalem em poesias, canções e conversas que a modernidade teima em sepultar. Amém.