MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
CRUZ DAS ALMAS, BA – Se a planta-mãe da mandioca tem 12 mil anos, é originária do Acre e de Rondônia, por que não expandir essa cultura relegada no agronegócio? O desafio foi levado pelo deputado Fernando Melo (PT-AC), membro da Comissão de Agricultura da Câmara, à reunião que manteve com pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical em Cruz das Almas (Recôncavo Sul Baiano), no Recôncavo do Sul Baiano, a 146 quilômetros de Salvador. "Nosso estado tem uma política ambiental rica, com apenas 10% da floresta amazônica derrubada", ele disse à equipe reunida no salão de reuniões da Embrapa.
Segundo Melo, foi o pesquisador da Embrapa-AC, Amauri Siviero, quem o estimulou a estudar o segmento e apresentar a proposta para estudar e direcionar a atividade. Em Cruz das Almas as pesquisas abrangem as áreas socioeconômica, melhoramento genético, biotecnologia, fitotecnia, irrigação, fisiologia vegetal e pós-colheita, fertilidade do solo, nutrição de plantas, manejo e conservação do solo, estatística, ciência e tecnologia de alimentos.
|
Melo conhece a variedade iapixuna na Embrapa Mandioca /M.CRUZ |
Hora de decisão
O Acre está numa encruzilhada: de um lado o estado possui um plantel de 2,5 milhões de cabeças de gado de corte e de outro vê a possibilidade de a cultura da cana-de-açúcar em alta escala se tornar um risco ambiental. Assim, vai interessar ao Estado a transferência de tecnologia e o estabelecimento de regras para a comercialização das safras de mandioca. Melo conversou com o governador Binho Marques (PT), obtendo o seu apoio para a formalização de parcerias com a Embrapa-AC e Universidade Federal. Essa lavoura não agride o ambiente.
O pólo envolverá cerca de duzentas famílias com propriedades médias entre oito e dez hectares e uma produção que pode alcançar até 40 toneladas por hectare. Segundo o IBGE, a região já garantiu até 20 t/ha e a safra alcançou 50 mil t/ano. Atualmente, o pé de mandioca é vendido por 50 centavos em Sena Madureira, informa o extensionista Joaquim Moisés, da Secretaria de Agricultura e Produção do município.
Brasil, segundo produtor
A mandioca é a principal fonte de carbohidratos nos países em desenvolvimento. O Brasil, segundo produtor mundial, ela constitui uma das principais fontes de energia para grande parte da população, especialmente do Nordeste e Norte do País. É matéria-prima para a fabricação de diversos produtos alimentícios e industriais.
Primeiro produtor mundial, a Nigéria vem usando a mandioca para combater a fome. O deputado assegurou que um dos objetivos do pólo será obter a garantia de contratos de fornecimento com remuneração justa aos produtores. Após a visita, Melo e o empresário Sérvulo Costa adquiriram na biblioteca algumas publicações da Embrapa.
|
Produtor de araçá obtém 12 quilos num só pé em Sena Madureira |
Agroindústria
A Embrapa-AC atesta que algumas cultivares se adptaram bem ao solo". Araçá, paxiubão e pirarucu são as principais variedades da região. A região do Vale do Purus é carente de investimentos e ainda não dispõe de tecnologia no setor.
O empresário Sérvulo Costa pretende instalar ali uma planta industrial para a produção de fécula e de álcool de mandioca. Entre os seus planos está o aproveitamento da manipueira (sobra líquida da mandioca) que atualmente é despejada ao ar livre, poluindo o ambiente. "Ela poderá ser o ouro branco para produtores, agroindústria e população em geral", prevê o deputado Fernando Melo. Lembra que dezenas de aldeias indígenas também possuem mandiocais riquíssimos ainda não estudados pela Embrapa e por técnicos estaduais.
|
Joaquim Moisés |
Segundo Melo, já foi possível identificar a tendência para a produção de fécula ou álcool modificado. Toda a fécula que abastece a Amazônia, especialmente o Distrito Industrial de Manaus, vem da região noroeste do Paraná, a 3,6 mil quilômetros de distância. "Nossa projeção indica que teremos de produzir 60% da matéria-prima na futura agroindústria do Pólo Sociomandioqueiro do Chandless, com sede no município de Sena Madureira".
Pesquisador alerta para
os erros do passadoCRUZ DAS ALMAS, BA – "Todo investimento nessa área tem que ser feito com os pés no chão. Precisamos olhar para o passado para não repetir erros", alertou o pesquisador de álcool de mandioca, Álvaro Bueno. Lembrou a existência de uma onda enorme de interesses no setor e disse acreditar que a mandioca açucarada para a fabricação de biocombustíveis seja um passo, mas não a saída. "Nós também estamos nessa onda", admitiu. Segundo o pesquisador, diversas fecularias foram instaladas no País, algumas na Amazônia, sem a suficiente quantidade de matéria-prima, nem logística de transporte.
|
Álvaro Bueno |
Bueno defendeu uma boa seleção de gens para poder combinar características próprias e a resistência à bacteriose e outras doenças. A saída para o Acre é a mandiocultura com agregação de valor. Seca e picada, por exemplo, ela facilita o transporte. Chega ao consumidor na forma de raízes frescas, é transformada na indústria e serve tanto para a alimentação humana quanto de animais. Extensionistas de Sena Madureira, sede do futuro pólo mandioqueiro, vêem a possibilidade do aproveitamento da parte aérea da planta para a fabricação de tijolo ecológico. Para aumentar o cultivo de mandioca no município, o deputado apresentou emenda de R$ 200 mil ao Orçamento Geral da União para 2008.
Norte lidera o consumo de farinha
|
Pão com farinha de mandioca fabricado na Bahia |
■Dados da Embrapa revelam que o maior consumo de farinha de mandioca por domicílio está na Região Norte, com 34,1 quilogramas (Kg) por habitante/ano.
■ O Estado do Pará está na frente nessa estatística, com o consumo de 43,9 Kg/hab/ano, seguido pelo Amazonas (32,3 Kg) e pelo Amapá (32,3 Kg). Atualmente, o Estado da Bahia consome em média 25,4 Kg/hab/ano.
■ Além da vasta distribuição geográfica, um fator que diferencia a cultura da mandioca é a elevada produtividade por área. Utilizando os dados médios de produtividade da Companhia Nacional de Abastecimento observa-se que um mandiocal produz 14 toneladas por hectare, enquanto uma lavoura de arroz produz 3,2 toneladas por hectare; de milho, 3,1 toneladas; de soja, 2,5 toneladas; de trigo, 1,8 toneladas.
|
Mandioca vendida na rua em Cruz das Almas |
N O T A:
A comparação foi feita por Augusto Hauber Gameiro, engenheiro agrônomo, doutorando em economia aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)/USP e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Ipea).
Fonte: Montezuma Cruz - Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião.