Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014 - 20h19
Entrada da biblioteca municipal: o mato nem de longe lembra os livros /Fotos Montezuma Cruz
MONTEZUMA CRUZ
Guajará-Mirim expõe atualmente uma faceta cruel aos olhos de qualquer ser vivente: mantém a Avenida Leverger bem esburacada e ao mesmo tempo esnoba na pintura vermelha e branca da sede da prefeitura municipal.
Segundo maior município do Estado de Rondônia em extensão territorial (24,8 mil km²), Guajará-Mirim (41,9 mil habitantes), Produto Interno Bruto de R$ 506,1 mil (IBGE, 2008), arrecada bem e suas bicicletas transportam as pessoas pelas ruas planas da cidade.
Salão de leitura, em modelo piramidal, foi um dos cartões de visita da cidade
No chão empoeirado ainda é visível a pista de dança do Clube Helênico Libanês, cujo prédio foi abandonado há mais de 30 anos no Bairro Cristo Rei. Uma árvore cresceu, rompendo o telhado e vigas do prédio. O que restou do forro está totalmente esburacado. Esse prédio de bonito estilo arquitetônico recebeu durante muito tempo a sociedade local em reuniões importantes, bailes e festividades diversas.
A cidade já teve maternidade, dois cinemas, indústria de beneficiamento de castanhas, copa de futebol mirim, museu municipal, clubes Cruzeiro, Helênico Libanês e dos Trabalhadores, agências de empresas aéreas Tama, Taba, Vasp e Varig.
Pintado e reformado, o museu deverá ser reinaugurado em abril próximo, no aniversário da cidade. A promessa fora feita dois anos atrás, no centenário da inauguração da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (1912-2012).
Salão de leitura, em modelo piramidal, foi um dos cartões de visita da cidade |
Clube Helênico: retrato de uma época, hoje tomado pelo fato e com estrutura corroída. O clube de propriedade particular poderia ser transformado...
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...quem sabe numa repartição pública municipal de saúde, de educação, ou qualquer outra |
Os prédios estão abandonados, entre eles, o Hotel Alfa. A cidade tem outros hotéis em plena atividade. A quadra Tenente Carneiro Leão é usada apenas pelo Exército. Foi nela que se apresentaram, entre outros, os cantores Fernando Mendes, José Augusto e Ângela Maria.
A cidade foi sede do notável Serviço de Navegação do Guaporé (SNG), cujas embarcações transportavam famílias sem recursos das barrancas, vilas e ilhas dos rios desde Vila Bela da Santíssima Trindade (MT) a Guajará-Mirim, e daqui, a Porto Velho, Manaus, Belém, ao nordeste e ao sudeste do País.
O metal e a falta de zelo cuidaram de escurecer o busto do presidente Getulio Vargas |
“Nos anos 1950 e 60, o seu estaleiro produzia balsas e batelões construídos com madeira ou chapas de ferro”, lembra o acadêmico de letras e historiador Paulo Cordeiro Saldanha. “Naquele tempo os administradores públicos inventavam os meios, com criatividade, pertinácia, vontade e idealismo. Não se submetiam às dificuldades e faziam acontecer”, ele assinala.
O SNG deveria voltar, reivindicam a Academia Guajaramirense de Letras e a Associação Cultural dos Filhos de Guajará-Mirim, que veem benefícios para as cidades deVila Bela da Santíssima Trindade (MT), Pimenteiras e Costa Marques, quando ocorrerem enchentes; o abastecimento direto e integrado para os municípios de Nova Mamoré e Guajará-Mirim; e o favorecimento dos mercados das cidades bolivianas.
O futebol marcou época com a participação do Pérola do Mamoré, América, Fronteira, Guajará (campeão estadual), Marechal Esporte Clube e Flamenguinho. Sobrou o campeonato interbairros. O derradeiro Festival Folclórico “Duelo na Fronteira” (de boi-bumbá) aconteceu em 2012 e não há perspectivas de volta, pelo menos até esta data.
Seus valores se destacam na Capital do Estado e noutras regiões brasileiras. Atualmente, as pessoas contam nos dedos quem é e quem já foi autoridade ou excelência: Naurides Barros saiu do cargo de delegado de polícia para vigilante das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) durante 30 anos no Senado Federal.
Isaac Newton foi deputado federal durante o início do Estado de Rondônia. BaderMassud Jorge foi conselheiro do Tribunal de Contas. Isaac Bennesby dirigiu o Departamento de Estradas de Rodagem. Professor Edson Badra foi procurador-chefe de Justiça. Glória Carratti é vereadora em Manaus. José Aníbal foi deputado federal por São Paulo, licenciado para ser o titular da Secretaria de Ciência e Tecnologia porém, nunca mais pôs os pés em Guajará. Há mais, muito mais.
Recém-lançado, o movimento “Guajará em ação” criou até página nowww.facebook.com/afag.guajara para um apelo diferente dos anteriores: seu manifesto propõe a escolha de candidatos da cidade e de seus distritos;convoca cidadãos e movimentos sociais “para se irmanar por sadios e legítimos propósitos e defender, intransigentemente, os direitos políticos, sociais, culturais, esportivos e econômicos do município”.
Sucessivas administrações esbofeteiam a cultura e a história. A Biblioteca Pública Jarbas Passarinho é vítima dessa circunstância:continua fechada e tomada pelo matagal. Pichada, tem chão e paredes imundos. No início de 2011, o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), Lauro Mohry, doou ao município dois mil títulos de livros do seu acervo pessoal. Não havendo espaço disponível para recebê-los, depois do ato de entrega eles foram depositados na Escola Estadual Simon Bolívar, e lá permanecem encaixotados no laboratório de ciências, que também não funciona.OCentro Acadêmico de Direito ofereceu-se para recebê-los, entretanto, a biblioteca do campus da Universidade Federal de Rondônia não tinha estrutura para tanto.
Um dos coordenadores da Associação dos Filhos e Amigos de Guajará-Mirim, Francisco Assumpção, espera reverter “a inexpressiva força política local, o cenário de absoluto abandono, isolamento e desesperança”. Em síntese: a entidade condena “a prática eleitoreira irresponsável, desvirtuada para fins particulares” e espera bombardear também definitivamente políticos aventureiros “que só desembarcam no município em período de campanha, com promessas enganadoras”.
Mais perdas acumuladas: a cidade fechou o Colégio Nossa Senhora do Calvário; o Seminário Diocesano Menor não abrirá em 2014 porque faltam vocações sacerdotais; e a ponte internacional prometida por políticos segue no papel.
O descaso é tanto e irrita o visitante: ao desviar de um buraco ele põe os pneus do carro em outros, na Avenida Leverger, uma das principais da cidade, hoje um sofrido cartão de visitas. O Cemitério Santa Cruz está tomado pelo mato há mais de três administrações. O busto do ex-presidente Getúlio Vargas (criador do Território Federal do Guaporé), que estava totalmente escurecido, finalmente aparecelimpo pelo excesso de chuvas.
A velha ostentação de “guardião da história” virou folha ao vento. A inércia espalha fluídos negativos e de desmazelo às pessoas. Em pelo Terceiro Milênio, a cidade estagnou, mesmo com todas as transformações provocadas pelas comunicações via internet.
Seus filhos mais jovens não conheceram o resfolegar da velha locomotiva maria-fumaça da lendária Madeira-Mamoré. Talvez por isso, eles tenham menos a se queixar. Quem sabe, possam fortalecer outras reivindicações culturais, históricas, fundiárias, ambientais, e também as de saúde, que são verdadeiras chagas na vida da população.
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