Sexta-feira, 4 de junho de 2010 - 12h24
Cuíca-de-coleira é um raro mamífero das Amazônias Ocidental Brasileira e Peruana /TERRA AMBIENTE |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
PORTO VELHO, Rondônia — Um animal e um anfíbio da lista de 36 espécies em risco de extinção no Brasil estão em Rondônia: o marsupial “Cuíca-de-colete” (Caluromysiops irrupta), parente do gambá, e uma perereca cujo nome científico é Physalaemus soaresi. Ambos habitam as matas do município de Governador Jorge Teixeira, a 309 quilômetros da capital.
Esse município com 5 mil Km2 de área originou-se do Núcleo Urbano de Apoio Rural Pedra Branca, que integrava o Projeto de Colonização Padre Adolfo Rohl, nos anos 1970. Esse projeto tinha sua sede em Jaru, que possui uma reserva biológica.
O raro marsupial – há cerca de cem tipos catalogados pelo Ministério da Agricultura – pertence à família Didelphiae (dos gambás), muito comum em Rondônia e nas regiões de Madre de Dios e Cuzco, no Peru. Existem mais de 60 espécies agrupadas em 15 gêneros, registram estudos científicos.
Já a perereca que resiste em Governador Jorge Teixeira pertence à família Leptodactylidae, que reúne anfíbios da ordem anura e subordem Neobatrachia. Traduzindo: são 50 gêneros. No total, a família é constituída por cerca de 1.100 espécies, a maioria distribuída pelas Américas Central e América do Sul.
Esta semana, a Aliança Brasileira para a Extinção Zero elegeu 32 pontos do País prioritários para a conservação da biodiversidade. Ela é formada por 40 instituições e tem ainda a participação do Ministério do Meio Ambiente.
Rondônia possui outros animais raros. No Parque Estadual de Corumbiara, por exemplo, há macacos ainda em fase de estudos. No início de suas atividades, no início dos anos 1980, a Universidade Federal de Rondônia recebeu o apoio da Universidade de São Paulo para pesquisar mimetismo em lagartos, no Alto Guaporé.
Clique aqui para conhecer a lista dos animais ameaçados de extinção
Perereca das matas de Governador Jorge Teixeira é a mesma que vive no Rio de Janeiro /MARCOS ARCOVERDE-AE |
O progresso mata espécies vivas. E daí?
PORTO VELHO – Na calorosa discussão dos estudos e relatórios de impacto ambiental das usinas hidrelétricas, o presidente Lula deixou o bom senso e chegou à arrogância ao analisar os “bagrinhos do Madeira”. Apesar da boa vontade de biólogos do próprio governo, instalados no Ibama e no Ministério do Meio Ambiente, o assunto fugiu da ciência para virar piada.
No ano passado, pererecas causaram a interrupção das obras do Arco Metropolitano, a maior obra pública do Rio de Janeiro, avaliado em R$ 1 bilhão. Com 77 quilômetros de pistas, ele vai ligar Itaboraí ao Porto de Itaguaí, no Grande Rio. Lá, a soaresi vive numa área de 4,9 milhões de metros quadrados da Floresta Nacional Mário Xavier (Flonamax), em Soropédica, entre a Rodovia Presidente Dutra e a antiga Rodovia Rio-São Paulo.
O destino de grande parte das florestas naturais rondonienses parece traçado desde o período da colonização e dos investimentos do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), entre o final dos anos 1970 e início dos anos 80. Há quem cruze os braços, esfrie os neurônios e tampe o sol com a peneira.
Casa alguma náusea, quando autoridades despreocupadas com o ritmo acelerado da devastação ambiental e mesmo de seres humanos olham, por exemplo, para esse tipo de informação e avaliam, equivocadamente: “Ah! uma pererequinha de 2 cm não pode ameaçar obras que trarão progresso ao interior de Rondônia” — sejam elas, simples pontes, rodovias, armazéns, ou pequenas centrais hidrelétricas.
Na verdade, esse tipo de pensamento é de uma prepotência e de uma ignorância impressionantes. Afinal, não se trata dos “2 cm da perereca, mas da preservação de uma espécie rara, não importa o tamanho.
Será que, a exemplo dos filhotes de tracajás e das tartarugas jogados nas águas dos rios Guaporé e Abunã (aqui, pelos acreanos), essas rãs se adaptariam a outro tipo de floresta. E de rios? Com a palavra, os futuros biólogos rondonienses. E aqui temos mais de uma dezena de instituições universitárias. (M.C.)
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