Empresas autuadas durante a Operação Arco de de Fogo criam nova razão social. Suspeita-se que lideranças incentivem a extração predatória. Faltam fiscais especializados nas gerências municipais da Sedam e no ICM-Bio.
XICO NERY
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CUJUBIM, Rondônia – Pelo menos 50 madeireiras, de um total de 82 fechadas durante a Operação Arco de Fogo, há dois anos, no Vale do Anari (região oeste de Rondônia), Vale do Jamari, Ponta do Abunã (noroeste de Porto Velho) e Cone Sul do Estado, voltaram a funcionar. Não há explicações convincentes a respeito.
As atividades ilegais envolvem, diretamente, reservas extrativistas sob controle das Associações e Cooperativas de Seringueiros e Indígenas dos municípios de Costa Marques, Machadinho do Oeste, Jaci-Paraná, Vista Alegre do Abunã, Guajará-Mirim, em Rondônia; Lábrea, Canutama (Clique veja vídeo) e Humaitá, no Sul do Amazonas.
Além de os madeireiros invadirem as reservas, as empresas credenciadas para operar com planos de manejo dentro das Resex, atrasam as compensações às associações, cooperativas de moradores e extrativistas.
A fiscalização é da competencia da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), cuja atuação deve ser compartilhada com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Fiscalização da Biodiversidade (ICMBio).
— Isso não ocorre, nem há pessoal técnico especializado — desabafa o presidente da Associação dos Seringueiros de Machadinho do Oeste, o técnico agroflorestal Antônio Flávio Barros Setúbal.
Toreiros extraem madeira de madrugada
Apesar da ação do novo titular da Sedam, Cleto Muniz Brito, 13 das 52 madeireiras de Cujubim (3,8 mil Km², a 350 km de Porto Velho) operam supostamente na clandestinidade.
— Elas já extraem mais madeiras dentro do município e agem, na cara dura, nas fundiárias da Reserva Extrativista Rio Preto Jacundá — denuncia o presidente da associação da área, José Pinheiro Borges, o Dé.
Temeroso, ele diz que toreiros a serviço dos madeireiros de Cujubim adentram os limites das reservas e, de madrugada, extraem madeira, serram ali mesmo e a transportam diretamente até o pátio das serrarias de Ariquemes, Jaru e Ji-Paraná.
Empresas rebatizadas
Madeireiros retornaram à região. Desta vez, deram às suas antigas empresas uma nova razão social. É o chamado “jeitinho rondoniense” de mascarar o negócio madeireiro feito clandestinamente, para fugir à fiscalização da Sedam e às ações da Polícia Federal.
Segundo um seringueiro que participou da criação da Cooperativa Extrativista do Vale do Anari (Coopex), recentemente, na Resex Aquariquara, ocorreu uma derrubada de cerca de 600 hectares de madeira, o suficiente para lotar 34 caminhões.
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Arceaga chegou a exigir do secretário de Meio Ambiente a suspensão dos planos de manejo no Estado de Rondônia /XICO NERY
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Comenta-se na cidade que lideranças das reservas estão incentivando as extrações camufladas em manejos legalizados. Em reservas extrativistas de Machadinho do Oeste, Costa Marques, Ponta do Abunã e Guajará-Mirim falta pessoal especializado nas gerências municipais da Sedam e do Instituto Chico Mendes.
A extração ilegal de madeira conta com o apoio da maioria dos deputados estaduais e de parte da bancada federal. Parlamentares fazem vistas grossas à exploração e comercialização dessa madeira extraída ilegalmente no Estado.
Retrocesso positivo
Além do comércio “formiguinha” de madeira e essências naturais feito por moradores das reservas, a realidade desses espaços confinados dentro das florestas estaduais e federais nos estados da Amazônia, no caso específico de Rondônia, é ainda mais cruel. Empresários legalizam os manejos, extraem e comercializam a madeira com os Estados Unidos, Japão e Europa.
Segundo denúncias apuradas pela Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR), eles recebem à vista, mas não estornam os valores das compensações às associações e cooperativas no prazo acordado entre os órgãos intervenientes (Sedam, seringueiros e Ministério do Meio Ambiente).
Isso levou, recentemente, o novo presidente da OSR, Adão Laya Arteaga, a exigir do secretário Cleto Brito, a suspensão imediata dos planos de manejos em todo o Estado, a fim de levar o caso à Justiça Federal.
Ritmo da devastação
surpreende delegado da PF
que atua na Amazônia
MONTEZUMA CRUZ
www.twitter.com/MontezumaCruz
BRASÍLIA – Em quatro anos, pelo menos dez mil metros cúbicos de madeira extraídas ilegalmente, apenas em reservas indígenas de Rondônia, foram parar nos pátios de empresas com atuação ilegal no Estado. A constatação dessa realidade surpreende policiais federais, policiais militares ambientais, agentes do Ibama e da Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Na semana passada, o delegado da PF Glauber Diehl, lotado em Rio Grande (RS), foi mais uma autoridade “de fora da Amazônia” a visitar o pátio de madeireiras irregulares denunciadas pela Operação Arco de Fogo.
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Em quatro anos, reservas indígenas rondonienses perderam cerca de 10 mil metros cúbicos de madeira /MONTEZUMA CRUZ
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Diehl, que participou voluntariamente da operação em três diferentes períodos, ficou surpreso com o que viu durante um ano e 10 dias nos estados de Rondônia, Pará e Mato Grosso.
— Um caminhão carrega, em média, 20 metros cúbicos de madeira— ele comentou.
Farra e fraude
Criada para o combate à extração e venda clandestina de madeira na Amazônia Legal, a Operação Arco de Fogo inicialmente demoraria um ano. Fraudes sucessivas obrigaram seus participantes a permanecer cerca de dois anos na floresta. Agora, é permanente.
Usa até mesmo a Força Nacional de Segurança, composta por policiais militares da maioria dos estados da Federação, e com o auxílio subsidiário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Polícia Rodoviária Federal. Esta última, vive combalida, sem efetivo suficiente nos principais estados amazônicos.
Até o final de janeiro deste ano, a operação apreendeu 107,6 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente nos estados de Rondônia, Pará, Mato Grosso e Maranhão.
No entanto, conforme observa o repórter Xico Nery, na matéria acima, o combate ao desmatamento e transporte de madeira ilegais e as fraudes relacionadas à extração e à comercialização de madeira prosseguem desafiando as autoridades. É praticamente um nó górdio para a propalada sustentabilidade do ambiente amazônico.
Trabalharam até agora na Arco de Fogo cerca de 60 homens em cada Estado, especialmente da PF, Ibama e Força Nacional de Segurança. Eles conseguiram apreender 343 caminhões, tratores e escavadeiras. Pelo ritmo da devastação, não vão parar. A polícia prendeu em flagrante 228 pessoas e autuou outras mi por infrações de menor potencial ofensivo. Apreendeu 78 motosserras em áreas de desmatamento ilegal e mais 55 armas.
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Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)