Quarta-feira, 12 de setembro de 2007 - 09h06
(Agenciaamazonia) - Preservação de árvore gigante é uma das maiores conquistas na estrada para o Distrito de São Carlos, em Porto Velho. Embora nascido na região ribeirinha Chico Lemos mostrou-se extasiado a cada avanço na estrada. Fotografou cenas raras, entre as quais, centenárias samaúmas (Ceiba pentandra), árvore da família Bombacaceae que podem alcançar 40 metros de altura.
Paramos numa delas para mostrar suas fantásticas dimensões. Ela já é uma das grandes atrações da Estrada da Integração, ligando Porto Velho, capital de Rondônia, ao bucólico Distrito de São Carlos.
A samaúma é árvore para sulista algum pôr defeito. É, com todas as honras, a rainha da floresta. De crescimento relativamente rápido, quando em terra firme se apresenta maior em volume e menor em altura, mas também se desenvolve nos terrenos de várzeas inundáveis.
Ela possui algumas propriedades medicinais já conhecidas. Sua seiva, por exemplo, é empregada contra a conjuntivite. É também conhecida por barriguda, samaumeira, mãe-da-floresta, paineira e Princesa da Floresta. Entre milhares de árvores, está entre as mais altas da Amazônia, junto com a castanheira. De tronco grosso, tem espinhos nas galhadas. Suas raízes tubulares, as sapopemas, permitem o crescimento nas florestas de várzea.
As samaúmas podem ser vistas ao longo do trecho da estrada que liga a Estrada da Colônia Penal, em Porto Velho, alcançando o Ramal 28 de Novembro, na Comunidade Aliança, numa extensão de 100 quilômetros. As árvores desta região vêm sendo preservadas pelo Governo de Rondônia.Os últimos 25 quilômetros da estrada de acesso à localidade já foram abertos pelas equipes do Departamento de Estradas de Rodagem e Transportes e serão encascalhados nos próximos dias.
A abertura da estrada da Linha Nova Aliança ao distrito de São Carlos, no Baixo Madeira, já ultrapassa os 50% de conclusão em um mês de trabalho ininterrupto. Foram abertos 13 dos 25 quilômetros que interligarão o povo ribeirinho, via terrestre, à população de Nova Aliança, Aliança, Cujubim, Cujubim Grande, Porto Chuelo, entre outras localidades ao longo da Rodovia 28 de Novembro (Estrada da Penal), em Porto Velho.
Encontro das águas do Jamari com o Madeira
O diretor-geral do DER, engenheiro Jacques Albagli, destacou que a abertura dessa estrada era a principal reivindicação da população do Baixo Madeira ao Governo do Estado. A exemplo de São Carlos, que precisava de quase oito horas de barco para chegar a Porto Velho, quando a estrada estiver concluída, precisará de, no máximo duas horas de carro ou ônibus, explicoul.
No feriadão, percorri todo o trecho da rodovia com Chico Lemos, do Gente de Opinião, e Leo Ladeia, da Rádio Vitória Régia. Fomos os primeiros jornalistas a apreciar o encanto do encontro das águas do Rio Jamari com as barrentas do Rio Madeira, cortando o recém-aberto estradão.
A população ribeirinha acredita que até o dia 12 de outubro, na festa de Nossa Senhora Aparecida, o governador Ivo Cassol inaugure a Rodovia da Integração. Ele já inspecionou as obras no trecho final. Chegou de helicóptero numa clareira e mandou toda equipe se espichar para agilizar a conclusão da estrada com encascalhamento.
Com ela em funcionamento, os ribeirinhos que demoram oito horas para chegar a capital em embarcações, farão o trecho rodoviário em apenas uma hora e meia.
A rodovia também beneficia diversas localidades da região, entre elas, Bom Será, que também terá ligação terrestre com a capital, por meio de um acesso de cerca de três quilômetros a serem abertos na mata.
Em São Carlos, o governador também determinou a recuperação da estrada que liga a sede do Distrito ao exuberante Lago do Cuniã: além de facilitar o escoamento da produção agrícola do Baixo Madeira o governo pretende implementar o turismo na região, mais uma opção econômica para as comunidades que vivem da plantação de frutas, verduras e da fabricação da ótima farinha de macaxeira, consumida em larga escala em Porto Velho.
No fim de semana, dezenas de rondonienses se aventuram a chegar de carro a São Carlos pela estrada ainda inacabada e, com o último trecho em areião. No final da estrada, para chegar à sede do Distrito, o visitante precisa tomar uma voadeira. Em menos de cinco minutos ultrapassa as águas límpidas do Rio Jamari e as barrentas do Madeirão enquanto se depara defronte a duas pequenas ilhas e longas praias de areia nas proximidades.
No rastro das onças
A viagem a São Carlos foi uma deliciosa aventura, mesmo com os solavancos e a poeira. A partir de Nova Aliança, tivemos a companhia do "estradeiro" mineiro João de Deus, um afável motorista de caminhão que trabalha na obra. Na abertura da mata ele se apavorou com uma onça brava e levou carreirão de queixadas. De nosso lado, vimos revoada de araras e Leo Ladeia, como bom mateiro que é, identificou rastros de onça num trecho recém-aberto, onde será construído um novo porto para servir aos ribeirinhos. “É época de acasalamento das onças e elas ficam perigosas nesta época”, revela João de Deus. Até o ano passado ele morava em Ji-Paraná (a 367 Km de Porto Velho).
Com a ligação rodoviária a São Carlos e a perspectiva da construção de um grande porto em Nova Aliança, os comerciantes começam a se instalar ou a ampliar seus estabelecimentos ao longo de toda sua extensão já bem movimentada no final de semana. A pesca impulsiona as visitas nos feriados prolongados e oxigena o comércio local.
Ao chegar em São Carlos, um fato me chamou a reflexão. Faltava tão pouco – já existiam picadas mato adentro há vários anos até a localidade ribeirinha – e ninguém (falo de governadores e prefeitos) teve essa visão de futuro para integrar o Baixo Madeira.
Os ex-governadores Oswaldo Piana, Valdir Raupp, e José de Abeu Bianco Bianco perderam a oportunidade da consagração entre os ribeirinhos. Por isso o atual governador Ivo Cassol está fazendo justiça ao título de "governador das estradas", um Washington Luiz do século 21.
Que na inauguração, o sr. governador — caso não tema os esturros das onças e a poeira — faça todo o trajeto rodoviário. Assim poderá contemplar melhor as samaúmas centenárias, as revoadas das araras e as extensas praias formadas nesta época no Rio Madeira.
Saiba mais
• A samaúma foi a espécie de planta mais citada nos trabalhos apresentados em Manaus, em março de 1998, durante o III Horshop SHIFT (Studies on Human Impact on Florest and Floodplains in the Tropic – Estudos sobre os Impactos Humanos na Floresta e Áreas Alagáveis Tropicais, do Programa de Pesquisas da Cooperação Brasil-Alemanha, em Ecologia Tropical Aplicada), promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Ministério de Ciência e Tecnologia, da Alemanha.
• Em áreas do Alto Candeias e do Rio Preto, no município de Porto Velho, associados do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV) têm carinho especial com a samaúma. Alguns exemplares são cuidados desde a década de 60.
• Um dos experimentos sobre o crescimento da samaúma mostrou que a produção de biomassa (matéria orgânica) é alta e que a baixa quantidade de fosfato e potássio no solo limita o seu desenvolvimento.
• A ciclagem dos nutrientes, ou seja, a velocidade com que os nutrientes circulam no sistema da planta-solo é rápida, devido suas folhas apresentarem um ciclo de vida curta e um processo de decomposição, num pequeno período de tempo, quando caídas no solo da floresta.
• Explica a jornalista Roseli Ferraz, no boletim nº 4 da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico, que os resultados dos estudos comparativos sobre o desenvolvimento da samaúma nativa e de plantio, observando as características da madeira, na várzea e na terra firme, são de causar preocupação para os que conhecem os valores medicinais e sagrados desta planta. Estes estudos mostram que os indivíduos da samaúma oriundos dos plantios apresentam valores de densidade de madeira superiores às nativas, indicando que estas são mais duras e, portanto, menos indicadas para a indústria madeireira. Estes resultados podem limitar o uso futuro das plantações de samaúma para a fabricação de compensado, o principal uso desta madeira leve.
• O estudo diz ainda que as características anatômicas da samaúma favorecem a sua manufatura a baixos custos. Esses resultados indicam um aumento da pressão do uso de plantas nativas de samaúma, o que torna urgente as reivindicações da campanha Samaúma Viva para Sempre. A campanha vem sendo conduzida pela Associação Novo Encanto, com o objetivo de que se decrete a árvore imune ao corte, objeto de requerimento de decreto, feito no Ibama. Mais informações, entre em contato com: encant@nutecnet.com.br
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