Seminário em Rio Branco prevê clima mais quente. Mato Grosso foi recordista em focos de calor no ano passado.
MONTEZUMA CRUZ (*)
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BRASÍLIA – O período de estiagem iniciado neste mês de junho terá dias bem mais secos que em anos anteriores nos estados de Acre, Rondônia, Mato Grosso e Tocantins. A previsão foi feita nesta quarta-feira na abertura da 2ª Oficina Pré-Seca, promovida pelo Sistema de Proteção da Amazônia Amazônia (Sipam), no Horto Florestal de Rio Branco (AC).
De acordo com a meteorologista do Sipam, Ranyére Nóbrega, o início do período de estiagem no sul da região amazônica ocorre com a entrada de ar frio no interior do continente. Assim, ela prevê que as temperaturas fiquem um pouco abaixo das médias no Acre, sudoeste e sul dos Estados de Rondônia e Mato Grosso, com entradas de friagens mais intensas nestas regiões.
Ranyére Nóbrega explicou que desde o início de 2008 as chuvas têm ficado abaixo da média, mesmo no período chuvoso. “Na época que deveria chover não choveu o suficiente. Agora que entramos na época seca, a situação pode ficar crítica, já que também agora as chuvas ficarão abaixo da média”, diz. Para a meteorologista, ainda não há parâmetros para afirmar que a seca deste ano vá ser igual ou pior que a de 2005, no entanto, ela recomenda o monitoramento das condições climáticas para que os órgãos ambientais façam ações preventivamente. Segundo ela, o clima mais seco será mais propício à propagação das queimadas e exigirá ações coordenadas do vários órgãos de combate e prevenção. “Por este motivo, esta Oficina Pré-Seca é fundamental para as ações sejam coordenadas e eficientes”, afirmou.
Relatório aponta onde o fogo ardeu mais
RIO BRANCO, AC – Em 2007, Mato Grosso teve 54,7% mais focos de calor em 2007 que os registrados em 2006. Já Rondônia e Acre tiveram reduções. No ano passado, Mato Grosso registrou 20,08 focos de calor a cada 10 quilômetros quadrados, Rondônia teve 11,84 e Acre, 2,24. Os focos de calor, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), são identificados por imagens de satélites orbitais de monitoramento e indicam onde ocorreram queimadas, bem como as áreas afetadas. Na análise feita pelo Sipam, usou-se o cruzamento de dados para gerar vários tipos de abordagem, detectando-se dados sobre os focos de calor por município, tipo de área afetada, localização com relação às estradas e correlação com as áreas desmatadas em anos anteriores.
Em Mato Grosso, Tapurah teve 1,5 mil focos
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Prevenção a queimadas está na ordem do dia, afirma meteorologista /SERGIO VALE |
Em Mato Grosso, os dados do relatório do Sipam apontam o aumento de 54,7% no número de focos de calor de 2007, em comparação com 2006. No ano passado ocorreram 181 mil focos de calor, aproximadamente. Em 2006 os números eram de 117 mil. Os municípios mato-grossenses que mais tiveram focos de calor em 2007 foram: Vale de São Domingos (6.530 focos de calor), Santo Afonso (5.716), Vila Rica (5.196), Nova Ubiratã (4.895) e União do Sul (4.892).
Na análise da densidade das queimadas por município, que leva em conta a quantidade de focos de calor registrados a cada 10 quilômetros quadrados, o ranking ficou na seguinte ordem: Santo Afonso, com 486 focos de calor; Ribeirãozinho, com 463 focos; Indiavaí, 373; São Pedro da Cipa, 367; e Vale de São Domingos, 340. No relatório de queimadas elaborado pelo Sipam também consta que os assentamentos de Reforma Agrária registraram 11% do total de focos de calor de 2007. Os assentamentos que mais tiveram queimadas foram:
■ Tapurah/Tanhangá, 1.514 focos
■ Confresa/Roncador (1.366)
■ Mercedes Benz I e II, 1.175)
■ Tibagi (987) e Macife (968)
■ TI Pimentel Barbosa, 1.829
■ TI Areões, 1.787
As terras indígenas (TI) totalizaram 9% dos focos de calor de Mato Grosso, sendo que a TI Maraiwatsede teve 2.020 focos. As Unidades de Conservação contribuíram com 4% dos focos de calor, sendo os destaques para a Área de Preservação Ambiental (APA) Meandro do Rio Araguaia (2.370 focos de calor) e o Parque Estadual Araguaia (1.594). No cruzamento do mapa de focos de calor de 2007 com o tipo de área afetada, constatou-se que 44% das queimadas ocorreram em áreas de manejo sustentável e 21% em áreas que deveriam ser recuperadas. Já na análise que utiliza os dados oficiais de desmatamento (Prodes), verificou-se que 29% dos focos de calor ocorreram em florestas, 12% em áreas já desmatadas até 2005 e 1% em áreas desmatadas em 2006.
Quanto à proximidade do fogo nas estradas, verificou-se o seguinte: 50.187 focos de calor estavam distantes até dois quilômetros das vias terrestres; 58.067 ocorreram entre dois e cinco quilômetros de distância das estradas; 31.461 focos de calor foram registrados entre cinco e dez quilômetros; 11.066 ocorreram 10 e 20 quilômetros, e 1.149 focos ficaram a mais de 20 quilômetros de distância.
Sena Madureira, o pior no Acre
No Acre, em 2007, ocorreram cerca de 3,4 mil focos de calor, número inferior ao registrado em 2006 (4.200 focos). Os municípios que mais tiveram queimadas foram:
Sena Madureira (507 focos de calor)
■ Rio Branco (332)
■ Feijó (323)
■ Acrelândia (281)
■ Brasiléia (231)
Na análise feita pelo Sipam que considera o número de focos de calor com relação ao tamanho do município, o ranking foi: Acrelândia (16,6 focos de calor a cada 10 quilômetros quadrados), Capixaba (8,3), Brasiléia (6,3), Porto Acre (5,8) e Plácido de Castro (5,7). Segundo o relatório apresentado pelo Sipam, os assentamentos da reforma agrária registraram 39% dos focos de calor do ano de 2007.
Os assentamentos Pedro Peixoto e Boa Esperança foram os que mais se destacaram, com 294 e 172 focos de calor, respectivamente. As unidades de conservação contribuíram com 11% das queimadas – a Resex Chico Mendes teve 131 focos de calor e a Floresta Estadual Antimary, 78 focos. As terras indígenas acreanas registraram apenas 1% das queimadas no período.
Com o cruzamento dos dados de focos de calor e o tipo de área queimada, constatou-se que 46% ocorreram em áreas de manejo florestal, 12% em áreas protegidas e 6% em regiões que deveriam ser recuperadas. Já a correlação dos focos de calor e os dados oficiais de desmatamento (Prodes) registrou-se que 62% das queimadas foram em florestas, 27% em áreas já desmatadas até 2005 e apenas 1% em áreas desmatadas recentemente, em 2006. Quanto à proximidade do fogo em relação às estradas acreanas, verificou-se o seguinte: 1.572 focos de calor ocorreram na faixa de terra distante até dois quilômetros das vias terrestres; 608 ocorreram entre dois e cinco quilômetros de distância das estradas; 302 focos de calor foram registrados entre cinco e dez quilômetros; 305 ocorreram 10 e 20 quilômetros, e 659 focos ficaram a mais de 20 quilômetros de distância.
Rondônia reduz focos
O Estado de Rondônia já havia recebido os dados do relatório do Sipam em abril deste ano. Os dados apontaram a redução de 47% no número de focos de calor em 2007, em comparação com 2006. Os satélites captaram 53 mil focos de calor. Em 2007 o número foi de aproximadamente 28 mil. Em números absolutos, os cinco municípios que mais tiveram focos de calor em 2007 foram:
■ Porto Velho, 5.352 focos
■ São Francisco do Guaporé, 2.255
■ Costa Marques, 2.122
■ Nova Mamoré, 1.857
■ Machadinho do Oeste, 1.432
Em termos proporcionais, considerando a relação entre o tamanho do município e a quantidade de focos de calor, os campeões foram: São Francisco do Guaporé, Costa Marques, Buritis, Cujubim e Alto Paraíso. Nesta relação proporcional, Porto Velho cai para a 12ª posição no ranking de municípios com mais queimadas. Já São Francisco do Guaporé registrou proporcionalmente um índice muito elevado, tendo quase dez vezes mais focos de calor que o segundo colocado, Costa Marques.
O relatório aponta que 19% das áreas com queimadas estão em projetos de assentamento. Destes, os cinco assentamentos que mais tiveram focos de calor são:
■ Conceição (em Costa Marques)
■ Pau D'Arco (Porto Velho)
■ Renascer (em Cujubim)
■ Gogó da Onça (São Francisco do Guaporé)
■ Igarapé Azul (Nova Mamoré)
Já as unidades de conservação federais e estaduais representaram 12% dos focos de calor registrados em 2007. A Floresta Nacional (Flona) do Bom Futuro, nos municípios de Porto Velho e Buritis, teve 1.208 focos de calor. A Reserva Extrativista (Resex) Rio Jaci-Paraná, localizada na divisa dos municípios de Porto Velho, Buritis e Nova Mamoré, teve 1.018 focos de calor. Estas unidades de conservação são fiscalizadas pelo Ibama e Sedam, respectivamente. As terras indígenas tiveram 2% dos focos de calor registrados no ano passado. As que mais tiveram queimadas foram:
■ Massako, 150 focos de calor
■ Uru-Eu-Wau-Wau, 133
■ Karipuna, 106
A soma das duas primeiras representou 58% dos focos de calor registrados em terras indígenas. O relatório de focos de calor também fez um cruzamento entre as áreas afetadas pelo fogo e o Zoneamento Sócio Econômico e Ecológico (ZEE). O resultado constatou que 68% dos focos de calor aconteceram em áreas de uso agrícola e 18% em áreas de conservação e de manejo florestal. Pela análise dos dados das queimadas, há uma relação direta entre fogo e estradas.
Segundo o relatório, quanto mais próxima da malha viária, maior a incidência de focos de calor.As queimadas com distância de até dois quilômetros das estradas contabilizaram 19.972 focos de calor, o que representa 67% do total analisado. Entre dois e cinco quilômetros de distância das estradas, foram 6.116 focos registrados, perfazendo 20,6%. De cinco a dez, 2.149 focos de calor. Já de dez a vinte quilômetros, foram registrados 832 focos e acima de 20 quilômetros de distância das estradas, 587 focos.
(*) Com informações da Assessoria de Comunicação do Sipam em Rondônia.
Brasil auxilia o Peru
PORTO VELHO, RO – De acordo com o gerente do Sipam em Rondônia, José Neumar Morais Silveira, o sistema também participa do fortalecimento de laços entre Brasil e Peru, preconizado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alan García. Lembrou que, em julho de 2007, missão brasileira liderada pelo diretor-geral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, Marcelo de Carvalho Lopes, esteve em Lima, promovendo reuniões e articulações de planos de trabalhos conjuntos com técnicos peruanos. A comitiva foi recebida pelo ministro da Defesa do Peru, embaixador Allan Wagner, que reafirmou a disposição de instalar em seu país um projeto semelhante ao Sivam-Sipam brasileiro.
Wagner havia visitado o Centro de Coordenação Geral do Sipam, em Brasília, em 1º de novembro de 2006. Brasil e Peru têm 2.995 quilômetros de fronteira. Do lado brasileiro, os estados do Acre e do Amazonas fazem fronteira com aquele país. Brasil e Peru têm intensa integração hidrológica. Destaca-se o fato de o rio Amazonas ter a sua nascente nos Andes do Sul. Ao todo, a Amazônia Peruana possui 778,5 mil quilômetros quadrados, área que corresponde a 61% do total do país.
Fonte: Montezuma Cruz - Agência Amazônia é parceira do Gentedeopinião.