Em Rio Branco, o Parque Ambiental Chico Mendes proporciona história e lendas ao visitante. Nos 52 hectares de floresta primária o visitante vê o memorial do líder seringueiro e diversos animais.
ANA MARIA MEJIA
Agência Amazônia
RIO BRANCO, AC – No centro do Parque Ambiental Chico Mendes, em Rio Branco, seres fantásticos e defensores da floresta se reúnem ao redor da réplica da Casa do Seringueiro. Mapinguari, o mais temido, se destaca não apenas por seu tamanho, mas por seu terceiro olho localizado ora, ‘no meio da testa’, ora ‘no lugar do umbigo’, e seu horrível mau-cheiro, capaz de provocar tonturas e desmaios.
Dizem ser uma lenda que atravessou fronteiras e barreiras do tempo, baseada nas lembrança das preguiças gigantes que habitaram a Amazônia Sul-Americana. O Mapinguari é personagem central descrito pela escritora chilena Isabel Allende no livro A cidade das feras, publicado pela editora Bertrand Brasil, prova de que também no Chile o Mapinguari defende matas e bichos de exploradores e caçadores. Foi também pesquisa recentemente pelo repórter Larry Rother, do jornal “The New York Times”.
É de defesa a função que desempenham os seres de encantamento que habitam florestas amazônicas. Pequena, magricela, quase invisível, a Mãe do Mato açoita o cachorro do caçador malvado, vigiando e castigando seringueiros que maltratam as árvores produtoras do látex.
Curupira, Caboclinho e Matintapererera
|
Pés virados para trás, pelo avermelhado, o curupira afasta caçadores "fominhas" /MONTEZUMA CRUZ
|
De pés virados para trás, pelo vermelho, parecido com macaco, o Curupira “dá azar”. Ai daquele caçador que vê o Curupira: não caça mais nada naquele dia. Tem o Caboclinho-da-mata com vasta cabeleira loira, sempre montado num animal à espreita de um cidadão desavisado. O Matintaperera é pássaro de encantamento porque deixa o ser atordoado, encantado.
Reproduzidas em tamanho natural dão o que pensar para quem visita o Parque. Ironicamente os personagens “vigiam” a “colocação” – vasta área de trabalho de coleta do látex, que inclui a moradia do seringueiro – bem caracterizada, aliás, com paredes feitas com madeira paxiúba, telhado de palha, fogão de lenha e um jirau (estrado a meia altura onde se lava louça) e ainda uma espécie de varanda com bancos em madeira.
Assim é o Parque Ambiental Chico Mendes em seus 52 hectares de terras, metade coberto por floresta primária. Logo após o belo portal de entrada, o visitante se depara com o Memorial Chico Mendes – herói da florestania acreana – vítima da cobiça pela terra. Nele, está resumidamente descrito em texto e imagens a trajetória do líder seringueiro Chico Mendes, morto há 20 anos em Xapuri, distante 140 quilômetros da capital.
Grilo verde gigante na folhagem
|
Acredite: o vento tombou esta castanheira, retirada do parque ainda no primeiro semestre de 2009 /MONTEZUMA CRUZ
|
Assim, aos poucos, os jovens de hoje conhecem os mitos e lendas de sua própria história. O Memorial foi construído ao redor da castanheira, também símbolo da resistência e do desafio do homem pela natureza – e segue parque adentro numa passarela construída como um tablado de madeira protegendo o visitante do curso de água – ora pequeno, ora largo, a depender da estação do ano.
Ouvidos e nariz aguçados logo se percebe que entramos numa área à parte da zona urbana de Rio Branco. É como um oásis no meio da correria e do barulho corriqueiro de nossas vidas. O cheiro úmido da terra ainda molhada e da folhagem que se decompõe no solo protegido pela sombra das árvores mais altas invade o corpo.
Um grilo insiste em acompanhar o visitante com seu incessante cri-cri, sem nenhuma chance de vislumbrá-lo. É um grilo verde gigante, informa displicentemente o guarda local, mas ele se esconde e se confunde com as folhagens.
Uma avifauna representativa
Em seguida nos deparamos com os recintos de animais silvestres, o zoológico, que atrai a criançada, mas, no calor da tarde, são poucos os que se aventuram a se exibir. Até mesmo os bichos querem é se aquietar ou se esbaldar na água como fazem a anta que mantém apenas o nariz fora d’água. Macacos – bigodeiro, sagüi-leão, barrigudo, amarelo; das aves se destaca o gavião real. Papagaios-estrela, mutum, tucano, araras., jaguatirica, onça-pintada, onça preta, capivara, tartarugas, porco do mato, queixada, veado vermelho, cutia, pacas de rabo. A avifauna se faz representar.
|
O macaco só pára quando acuado; na maior parte do tempo pula e brinca para alegrar crianças e adultos /MONTEZUMA CRUZ
|
Caminhando um pouco mais se alcança uma trilha interna onde são vistas espécies da flora regional. Há 92 espécies em sua flora e a fauna é diversa. Oito espécies de primatas, 12 de morcegos, 44 de répteis, 48 de anfíbios, além de aves e insetos, ainda a ser identificados. Ainda que a trilha esteja meio destruída, é deslumbrante ver a sintonia entre as árvores gigantes e as pequenas que se esgueiram para receber os raios de sol que se infiltram pela vegetação. E a surpreendente visão de uma castanheira arrancada pela raiz com a força do vento.
A média de visitantes é de 190 mil por ano, com destaque para os finais de semana, pois com sua área de zoológico, parque infantil, campos de futebol, quadras de vôlei e área para piquenique se transforma mesmo o domingo num dia de laser. É em síntese, uma amostra resumida da cultura acreana, amazônica e brasileira.
Dez agentes foram buscar jacaré em Rondônia
RIO BRANCO – Os guardas do parque se lembram que foi preciso juntar dez agentes do parque para uma viagem a Porto Velho (RO), a 640 quilômetros de Rio Branco, para a remoção de um jacaré-açu macho de 300 quilos e 5m de comprimento, doado pelo Ibama. O bicho foi colocado sobre um caminhão e levado para a nova morada.
Até 2000, o jacaré-açu estava na lista de animais ameaçados. No final desse mesmo ano ele deixou de ser considerado espécie em extinção. O aval veio de estudos elaborados pela IUCN, a União Mundial para a Conservação, sigla em inglês.
O animal chegou ao parque com outros 17 companheiros, entre primatas e roedores. “Ele é o maior dos que vivem na Amazônia e é classificado como o crocodilo brasileiro, uma vez que apresenta tamanho e agressividade iguais aos dos crocodilos da América do Norte”, explicou na ocasião a médica veterinária Laiz Macedo Zamora, do Parque Chico Mendes.
Vez ou outra chegam novos animais para o parque. A fauna também foi enriquecida com um filhote de gavião-real, considerado o maior predador dos céus da Amazônia. A ave foi capturada na região do Projeto de Assentamento Bonal, (km 72 da BR-364, sentido Rio Branco-Porto Velho. (A.M.M.)
|
Legado do líder seringueiro está neste Memorial, logo depois a entrada do parque / MONTEZUMA CRUZ
|
ONDE FICA
● Rodovia AC-040, Km 3, distante nove quilômetros do Centro de Rio Branco.
● Possui ciclovia, quadras de esporte, palco para shows, minizoológico com dezenas de espécies nativas, trilhas para caminhada.
● Entre as árvores preservadas estão a castanheira, seringueiras, cedro-rosa, açaí e paxiúba.
● O parque mostra um pequeno seringal com maloca e o Memorial de Chico Mendes, que abriga a história de vida do líder seringueiro.
MATÉRIAS DA SÉRIE:
Piloto de “voadeira” viaja por rios amazônicos até de olhos fechados
Mais 300 famílias ganharão o fogão que gera energiaSem juiz, promotor e delegado, Assis Brasil confia tudo à prefeita
Um estado cada vez mais movido pelo 'ouro branco'
Cazumbá-Iracema, um mundo à parte nos confins amazônicos
Uma universidade em busca do povo
Rio Branco espera aqüífero de 2,8 milhões de litros/dia