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Montezuma Cruz

Seringueiros conhecem os caminhos de Chico Mendes


 
Excursão revela experiência acreana com os planos de manejo, beneficiamento da castanha e produção do tecido da floresta. 


XICO NERY
contato@agenciaamazonia.com.br  

XAPURI, AC – Seringueiros rondonienses percorreram durante três dias os Caminhos de Chico Mendes, em trechos que abrangem os municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Rio Branco, Sena Madureira e Xapuri. "Foi uma verdadeira odisséia", afirmou à Agência Amazônia o presidente da Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR), Adão Laia Arteaga, 39 anos. 

A Reserva Extrativista Chico Mendes (970,5 mil hectares), criada pelo Decreto nº 99.144, de 12 de março de 1990, hoje atrai turistas e visitantes do mundo inteiro à região do Baixo Acre. Localiza-se a 153 quilômetros da capital acreana e a 30 km de Xapuri. Aqui vivem os parentes do líder amazônico assassinado em dezembro de 1988. 

– Viemos aqui para conhecer a experiência dos acreanos com os planos de manejo, beneficiamento da castanha, produção do tecido da floresta (subproduto do látex usado na confecção de adornos, utensílios e vestuário pela indústria) e o processo de comercialização de essências – explicou Arteaga. 

Conhecido internacionalmente por sua luta em defesa da Amazônia e de seus povos, assassinado por fazendeiros da região, Chico Mendes (1944-1988) é homenageado no turismo do Vale do Acre com um caminho que leva seu nome. Os turistas partem de Rio Branco, passam pelos municípios de Senador Guiomard e Capixaba e chegam a Xapuri, terra natal de Chico. Os caminhos têm como finalidade contar a história desse importante líder e de sua luta como ambientalista. 

Remédios da floresta e modo de vida 

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Arteaga e dona Cecília, tia do líder seringueiro Chico Mendes, morto em 1988 /XICO NERY

Os visitantes conheceram de perto a copaíba, a andiroba e outras espécies só encontradas na Amazônia Brasileira. Para o presidente da Cooperativa Vida Nova e representante do Conselho Nacional dos Seringueiros na Reserva Extrativista do Rio Pacaás Novos, em Guajará-Mirim, César Mercado Barzan, 31, os resultados são animadores: 

– O que pretendíamos, conseguimos: saber da vida que levou Chico Mendes e o modus vivendi e operandi que o fizeram lutar até a morte pelos povos da floresta acreana focado na manutenção da cidadania amazônica – ele disse. 

Outro aspecto dos estudos foi reunir em um só pacote as lições de vida e do empreendedorismo deixados por Chico Mendes, não só ao povo acreano, mas aos seringueiros, castanheiros e comunidades tradicionais. Ele, também, verificou a importância dos processos de desenvolvimento sustentável da madeira, das essências cobiçadas por norte-americanos, asiáticos, europeus e agora, com mais intensidade, pela indústria boliviana na era Evo Morales. 

Na Resex originada do Seringal Cachoeira ainda vivem parentes de Chico, entre os quais a tia Cecília Teixeira Mendes, 83, e os primos Antônio (Duda) e Luís Teixeira Mendes. A comitiva integrada por rondonienses foi monitorada pelo engenheiro florestal do Instituto Estadual de Floresta, Domingos Roberto. Ele mostrou o local onde foi extraída a primeira árvore da floresta da era pós-Chico Mendes, o breu. O breu branco é extraído por meio de planos de manejos dentro da floresta em que viveu o líder acreano. Uma placa indica o início dos manejos na Resex. 

– De lá pra cá, cerca de 2.200 famílias vivem de forma sustentável, ensinando como salvar a floresta e mantendo gente dentro dela – observou Duda. 

Riberalta ligada à Resex 

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Visitantes rondonienses e técnicos do Instituto do Meio Ambiente do Acre, ao lado do caminhão com madeira certificada / XICO NERY

A Resex originada do Seringal Cachoeira começou com a ocupação de nove famílias de seringueiros apelidados pelos nativos de "Chipanos". Atualmente, com o funcionamento dos planos de manejos somam 72 famílias entre seringueiros e pequenos agricultores mais à esquerda do projeto original que só previa a extração do látex e coleta de castanha e sua industrialização dentro do estado do Acre e o excedente da produção destinada à exportação. 

A Província de Riberalta, no Platô de Cochabamba (Departamento de Beni, Bolívia), continua alimentando-se dos produtos extraídos das florestas acreanas. 

Outra Resex de igual importância é a Equador, também cortada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ambas, no início do Projeto de Assentamento Extrativistas, só podiam desmatar 10% para o plantio de lavoura (arroz, milho, feijão etc) e pecuária de subsistência. 

Indiferentemente à chegada de novas tecnologias forjadas pelos manejos, ainda assim, os seringueiros e castanheiros mantêm como base da economia acreana a coleta da castanha e extração da borracha. Principalmente, nos municípios do entorno da capital, Rio Branco. 

Rondônia pretende copiar modelo acreano

XAPURI, AC – Para os seringueiros rondonienses, a convivência com os colegas acreanos, seus planos de manejo e o método empírico da coleta da castanha e da extração da borracha foi saudável. 

– Esta é a saída para nós, que sofremos com a pobreza ou extrema pobreza, que vivenciamos em Guajará-Mirim e no distrito de Jaci-Paraná. Lá os seringais devem ser extintos com a alagação das áreas pelas hidrelétricas; em Machadinho do Oeste e Costa Marques, a pecuária e a madeireiro forçaram mudanças de hábitos radicais aos costumes dos povos da floresta rondonienses – observou Arteaga. 

Ele informou que, em março de 2010, a OSR promoverá o 1º Fórum de Desenvolvimento Sustentável Agroextrativista, em Guajará-Mirim (oeste de Rondônia), com o objetivo de discutir uma saída para a crise nos seringais e castanhais da região. 

– Hoje essas áreas estão praticamente garroteadas pelo Instituto Chico Mendes, que impede as populações tradicionais de terem uma vida de melhor qualidade, como ocorria antes do advento das reservas – queixou-se. 

Segundo ele, após o fórum, a entidade pretende levar para as áreas sob controle da entidade que preside trabalhadores seringueiros e técnicos acreanos, a fim de que eles auxiliem os colegas rondonienses a instalar planos de manejo com a mesma metodologia adotada pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente acreano. Acredita que esses planos contribuam para tirar os seringueiros da miséria e da falta de oportunidades de uma vida melhor dentro das Resex criadas sem consulta prévia.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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