Terça-feira, 7 de outubro de 2008 - 22h49
Portaria garante direito dos últimos Piripikura
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
BRASÍLIA – Depois de mais de 20 anos de omissão a Fundação Nacional do Índio (Funai) publicou ontem, 6 de outubro, a portaria de restrição de uso da Terra Indígena Piripkura. Lá da área, o indigenista Leonardo Lênin Santos informa que nos dias 23 e 24 a equipe da frente de atração esteve com os remanecentes desse povo.
"Fisicamente eles estão bem, mas impossibilitados de percorrer suas trilhas tradicionais de coleta, pesca e caça, porque ao sair da região onde se encontram, escutam muito barulho. Estão confinados", relata emocionado.
A articulação de madeireiros e fazendeiros do município de Ji-Paraná para contestar a portaria já começou. "O clima pode ficar tenso", alerta Leonardo Lênin Santos. Ji-Paraná fica a 370 quilômetros de Porto Velho. O contato com dois remanescentes indígenas Piripikura na margem esquerda do Rio Roosevelt completou um ano no dia 7 de agosto, sem que eles fossem protegidos do cerco de grileiros de terras. A corrida à madeira de lei existente em suas terras prossegue.
Incidem sobre a região ocupada pelos Piripkura 11 Planos de Manejo Florestal, especulação fundiária e um complexo de 40 serrarias que se deslocaram da região do Aripuanã para Ji-Paraná na década de 1990. Índios Gavião/Ikolen tem reiteradamente denunciado a invasão das terras Piripkura e já fizeram três expedições ao local, junto com a Funai.
Empresas madeireiras que atuam na região nem sempre são identificadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), conforme o próprio órgão admitiu durante as apreensões de toras feitas nos municípios de Cacoal, Espigão do Oeste e Ji-Paraná, no primeiro semestre deste ano.
Caminhões saem de área indígena carregados com toras em Rondônia /GENTE DE OPINIÃO |
Entre eles: Celso Ferreira Penço (Fazendas Samaúma, Mudança, Paralelo 10, Mudança, Central, Madeirinha) e Fazenda Barradão, de propriedade de João Garcia. No referido documento, o então gerente do Ibama anotava: "Em cinco anos, Celso Ferreira Penço foi responsável pela extração ilegal de 180 mil a 200 mil metros cúbicos de madeira, sendo que o mesmo não possui (em seu nome) nenhuma serraia. Porém, exostem três serrarias em suas terras".
Em outro trecho do documento, o funcionário denunciava a aquisição ilegal de armas no Paraguai (seis de calibre 12, e 20 quilos de munição) por Penço. De 2005, época da denúncia de Walmir de Jesus, nada mudou.
Indigenistas conviveram com os Kawahiva
●Entre setembro e outubro de 1984, a pedido do então delegado da 8ª Delegacia da Funai em Porto Velho, Apoena Meirelles, e da equipe de avaliação do Programa de Desenvolvimento Integrado do Noroeste Brasileiro (Polonoroeste), a Equipe da Pastoral Indigenista da Diocese de Ji-Paraná fez um levantamento sobre a existência de índios arredios nos limites da Fazenda Mudança (em Rondolândia-MT).
Apoena Meireles deu início ao primeiro levantamento /ARQUIVO
● Os trabalhos dos indigenistas não só constataram a existência do grupo, provavelmente Kawahiva, como chegou a conviver com eles na Fazenda Mudança. Os índios mantinham visitas à sede da fazenda. "Durante o "levantamento surgiu a oportunidade de se manter contato permanente até o fim dos trabalhos, com dois membros desta comunidade", relatam.
● Em 20 de setembro de 1985, pela Portaria No 1938/E constitui-se Grupo de Trabalho sobre a delimitação de área indígena entre os rios Madeira e Branco. Participaram dos trabalhos a indígena Rita Kawahiva, membro do grupo isolado. No Relatório Sobre os índios Arredios Localizados Entre os Rio Branco e Madeirinha, Município de Aripuanã, concluía-se : "... que a área em questão é indígena, podemos já afirmar com absoluta certeza" .
●Tal afirmação era respaldada pelo número de informantes: Rita, membro do grupo indígena, o gerente da Fazenda Mudança, João Lobato, indigenista da Operação Amazônia Nativa (OPAN) que manteve contato durante os trabalhos do ano anterior com índio do grupo isolado, assim como os vestígios encontrados pelo GT que "reforçam a convicção de tratar-se de área habitada por grupo indígena".
Derrubadas desafiam o Ibama, a Funai e a Polícia Federal |
Risco de sobrevivência agravado
● Em 1988 a Funai criou oficialmente a Frente de Contato Madeirinha, para localização e contato com os índios da região Branco/Madeirinha. Em 1º de maio de 1989, a equipe teve o primeiro contato com dois indígenas, e até meados de 1992 a equipe deu continuidade aos trabalhos, com o intuito de levantar toda a área de ocupação dos Piripkura.
● Nesta expedição de maio, Rita estava presente e apontava a existência de mais índios. Os dois índios, então chamados de Tititi e Curumim, hoje Tikun e Mondei, respectivamente, contaram à índia que há tempo haviam se separado de grupo de dez a 15 pessoas, adultos e crianças. Tititi ou Tikun se dispôs a indicar o local aonde se encontravam seus parentes, o que foi feito, um mês depois. A expedição não encontrou o suposto grupo. Os dois Piripkura voltaram para a mata.
● Em 1992 a chefia do Departamento de índios Isolados da Funai desloca a equipe da FC Madeirinha da Referência do Igarapé dos Índios para o Pontal do Juruena, paralisando os trabalhos em tal referência.
● Em 1998 o índio Curumim, ou Monde'í, aparece doente na Fazenda Barradão. A FC Madeirinha retorna ao local para dar assistência aos índios. Monde'i fora deslocado até Porto Velho para tratamento de saúde. A equipe retorna à área, os índios retornam à floresta e a Frente vai para o Pontal em 2000.
● A essa altura o risco de sobrevivência dos 'Kawahib do Madeirinha' é potencialmente agravado pela chegada de frentes madeireiras na região das cabeceiras do rio Madeirinha.
● Em 2007 retomam-se os trabalhos da agora, Frente de Proteção Etno-Ambiental Madeirinha, com expedição feita em abril de 2007. O terceiro contato ocorreu em 7 de agosto.
Fonte: A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião
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