A ocorrência de cobre entre os metais existentes no subsolo rondoniense vem de longe. Não existe um estudo que possa garantir, mas há indícios de sua utilidade possivelmente secular entre a Zona da Mata e as terras de Corumbiara. No início dos anos 2000, o antigo Departamento Nacional de Produção [Agência Nacional de Mineração, desde Michel Temer] autorizava uma pesquisa feita em associação pela Companhia Vale do Rio Doce [CVRD], a norte-americana Phelps Dodge e a Mineração Maracá. O cobre está em alta no mundo.
A Maracá era, ou é ligada ao grupo Santa Elina, e ambas pesquisam reservas de minério de cobre no município de Alta Floresta do Oeste, que tem área de 7 mil Km² , a 541 quilômetros de Porto Velho. No final do século passado, anos 1990, essas empresas detinham requerimentos autorizados pelo extinto DNPM.“Parecem promissoras” - anotei em 2001, como única referência feita às reservas, em estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social [BNDES].
Nada é conhecido nesse segmento de metais. A própria Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) dedica-se no governo a explorar reservas de calcário. Em 2021, a direção da empresa estimou a este repórter que as jazidas estaduais seriam suficientes para exploração durante pelo menos 250 anos.
Em associação com as empresas TVX Participações Ltda e Copacel, a Mineração Santa Elina também participa, desde 1991, do desenvolvimento de um amplo programa de sondagem de depósitos de ouro na região do Alto Guaporé, informa o Instituto de Ciências Exatas da Terra, da Universidade Federal de Mato Grosso.
Exatamente há três governos, nada se fala a respeito do assunto. Pesquisa e mineração legalizadas são um túmulo, ao que parece.
SILÊNCIO POLÍTICO COMPROMETE
Debruçados sobre outros temas, à exceção do mineral, governo estadual, Assembleia Legislativa, deputados federais e senadores deixam passar ao largo de suas apreciações que, quatro décadas atrás a mineração movia a economia territorial.
Se quiser, o governo estadual pode oficiar à Agência Nacional de Mineração para saber onde ficam e como estão as pesquisas de cobre existentes desde o século passado.
Com raríssimas exceções, nos corredores palacianos e em gabinetes de políticos mais dedicados ao Waths App e outras redes sociais, ignora-se que a empresa Paranapanema já foi a maior produtora de cassiterita [minério de estanho] e quebrou, mesmo explorando minas no Amazonas e em Rondônia, mas quebrou.
Susto maior, Suas Excelências podem se preparar para conhecê-lo: agora, a Paranapanema [que fora adquirida por peruanos] agora faliu no negócio do cobre. Conforme sublinha o jornalista Lúcio Flávio Pinto, de Belém (PA): "Paradoxalmente, quando esse metal está em grande ascensão no mercado internacional. Os dados divulgados até agora não deixam dúvida: o grupo vem sendo mal administrado há pelo menos quatro anos."
Segundo apurou Lúcio Flávio, a causa principal da insolvência é a dívida de longo prazo, que se tornou impagável. "O capital de giro pode voltar a ser financiado, mas não com a mesma empresa. A situação só chegou a esse nível por má gestão. A quebra demorou ainda a acontecer porque o fundo Previ, do Banco do Brasil, e a Caixa, injetaram dinheiro no negócio – já apodrecido. A missão mais nobre do nosso capitalismo de muletas."
Mais informações "de bandeja" dadas pelo jornalista Lúcio Flávio: "O negócio continua a ser atraente. A Buritirama, que produz cobre no Pará, tem 10,8% do capital. A Cargill Finance, braço da multinacional americana de alimentos, instalada no Pará, em Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Amapá, tem 8,75%. Já o banco chinês CCB não tem ações, mas tem dinheiro aplicado e muito interesse em investir mais."
"O Pará deveria acompanhar com atenção essa história até o seu desfecho. O Estado é o maior produtor de concentrado de cobre do País, mas não produz um quilo sequer do metal", ele conta.
A única metalúrgica de cobre do Brasil é a Caraíba, na Bahia, no entanto, a fábrica não tem minério suficiente para se manter e voltar à plena produção. A propriedade da Caraíba, que é da Paranapanema, pode mudar. "Mas parece que o Pará continuará apenas a produzir concentrado", acrescenta Lúcio Flávio.
Se no Pará, gigante em minérios, foi preciso o alerta dado pelo jornalista, em Rondônia esse alerta aconteceu em 2010: naquele ano, a líder indígena Walda Ajuru informava que peças de cobre foram roubadas com o aval de prefeito e vereadores em Alta Floresta d'Oeste.
SAIBA MAIS
∎ O cobre é utilizado principalmente nas indústrias de fios e cabos elétricos, que absorvem mais de 50% do metal, um dos mais valiosos do mundo. É excelente condutor de eletricidade e calor e tem vasta aplicação em diversos setores industriais, especialmente a construção civil, telecomunicações, eletroeletrônica, transmissão e distribuição de energia.
∎ Suas reservas mundiais são estimadas em 650 milhões de toneladas. Concentra-se mais no Chile (24,6%) e nos Estados Unidos (13,9%), enquanto no Brasil somam 11,9 milhões de t de metal contido, representando 1,8% do total mundial.
∎ Maior produtor, o Chile responde por 35% da produção de cobre contido em concentrado. Além desse país, na derradeira década destacam-se na produção o Peru, a Indonésia e a Austrália. Juntamente com os Estados Unidos, eles se tornaram líderes na produção de concentrado de cobre.
∎ Alta Floresta d'Oeste, que hoje poderá atrair minerações nacionais e estrangeiras, é também produtor de café em Rondônia. Surgiu em conseqüência do avanço da frente migratória rumo ao oeste, no Vale do Guaporé, na fronteira com a Bolívia. Pequeno núcleo populacional em 1986 o município evoluiu rapidamente e se transformou em importante pólo agrícola e comercial.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)