MONTEZUMA CRUZ (*)
Com perspectiva de investir R$ 12 bilhões, a empresa Suez Energy South América Participações quer disputar a construção da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia. Mais que a reação boliviana ao anúncio feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que o País pretende construir uma nova usina em Guajará Mirim, na fronteira com o Departamento (Estado) do Beni, o mercado energético se agitou nas últimas 48 horas. Era de se esperar.
O governo federal projeta a construção de Jirau e Santo Antônio para a produção de 6.450 megawatts de energia elétrica. A direção da Suez, que não pretende vez a Furnas Centrais Elétricas concorrendo à construção do empreendimento rondoniense, anunciou a sua vontade de encontrar um parceiro estratégico e definir o volume de ações que serão vendidas no mercado. O governo não abre mão da entrada de uma estatal no consórcio que vencer o leilão.
Segundo o presidente da Sociedade de Propósito Específico, Victor Paranhos, após o leilão a Suez irá lançar ações no mercado, mas deve reduzir o preço de equipamentos e da construção para poder oferecer melhores tarifas. O que o preocupa, no entanto, são as 33 condicionantes impostas pelo Ibama na licença prévia, que obriga o isolamento de 500 metros no entorno do projeto."Normalmente, essa área é de 100 metros. Com esse tamanho, teremos que comprar muitas fazendas, o que teria um grande impacto social e aumentaria o custo", disse. De acordo com Paranhos, apesar de a licença prévia já ter discutido vários pontos que indicam a viabilidade do projeto, a estimativa é que as obras da primeira usina do complexo do rio Madeira, que irá gerar 3.150 megawatts, só seja iniciada em maio de 2009, o que atrasaria em um ano o início do fornecimento de energia.
Desinformação e conflito
Num clima de entusiasmo, após almoçar no Palácio Itaramaty (sede do Ministério das Relações Exteriores) com a governadora-geral do Canadá, Michaella Jean, quarta-feira, o presidente Lula disse à BBC que o Brasil vai construir uma terceira hidrelétrica, no Rio Mamoré, na fronteira com a Bolívia, em conjunto com o governo daquele País.
À tarde veio o constrangimento. A aprovação da licença prévia para o complexo do Rio Madeira desagradara os bolivianos. O assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, se dirigiu à imprensa sem ter sido informado da carta que o chanceler Celso Amorim havia recebido das autoridades bolivianas.
Em entrevista à BBC, Garcia foi enfático ao negar qualquer manifestação boliviana sobre o tema. Disse que tal manifestação não seria sequer cogitável: "Trata-se um tema nacional que diz respeito somente ao Brasil". Desconhecia a carta na qual o chanceler da Bolívia David Choquehuanca manifestara ao ministro Celso Amorim, a sua opinião sobre o licenciamento ambiental para Jirau e Santo Antônio.
O MInistério das Relações Exteriores deverá agora dialogar com a Bolívia em busca de uma solução satisfatória. "Como manifestamos em reiteradas oportunidades, a Bolívia considera que, antes de promover uma licitação de projetos hidrelétricos tão próximos ao território da Bolívia, são necessários estudos de impacto ambiental integrais que abarquem toda a extensão da Bacia do Madeira, incluindo, obviamente, a área compreendida em território boliviano", manifestou o chanceler.
(*) O autor é nosso colaborador e editor da
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