Quarta-feira, 12 de outubro de 2016 - 20h11
Themonthier primeiro ganhou um prato de comida e na sequência começou a trabalhar, ainda menino,
numa fábrica de pão pulman em São Bernardo do Campo /Fotos Rosinaldo Machado
Montezuma Cruz e Carlos Araújo
Em Porto Velho
Dono da Padaria Nordeste em Porto Velho, Francisco Themontier protagonizou a saga dos retirantes nordestinos rumo a São Paulo. Saiu da Fazenda Olho d’Água na divisa de Brejo do Cruz (PB) com Jardim do Piranhas (RN), e a partir daí escreveu os capítulos iniciais de sua vida profissional.
Na fazenda, a família cultivava algodão, arroz, batata, melão, melancia e milho. Em 1958, o francês Themonthier, vizinho da família, conversou com o sertanejo Francisco Borges Sobrinho, oferecendo-lhe o sobrenome para o filho dele. O cartorário assim o fez chamar-se Francisco Themonthier Borges da Silva Brasil.
Francisco Borges e Patrocina Maria da Conceição criaram 18 filhos. O casal morreu 30 anos atrás. O tronco foi bem maior, pois Borges tivera 44 irmãos, em três famílias diferentes formadas pelo avô Manoel Antônio Borges. Francisco diz que se sentiu desafiado a cuidar da maioria dos irmãos. “Imagine, meu pai teve mais de trezentos homens trabalhando na fazenda, mas era rude em relação aos filhos; naquele tempo, sair de casa para estudar na cidade grande era um luxo, assim interpretavam na época”, conta.
Irmãos tocam 12 padarias
Panificadora Nordeste deu origem ao futuro restaurante que o empresário está projetando para funcionar em 2017
Enquanto ele saiu de casa para estudar, os demais ficaram lá, trabalhando. Não foi em vão a ajuda aos irmãos. Hoje eles tocam 12 padarias “Eu cheguei menino na Capital paulista, engraxei sapatos nas ruas quando tinha 11 anos, em 1967”. As agruras da vida não tardaram a chegar, mas vieram acompanhadas a bonança. “Eu pedi sobra de comida no Pullman Rocambole, em São Bernardo do Campo e o dono, seu Manoel Português, me ofereceu um prato e mais o emprego”, lembra.
Francisco passou cinco anos assim. Fazia bolos, pães, e se alimentava regularmente. “Em compensação, aquele homem me garantiu o estudo, fiz o antigo curso primário”. Mais tarde, cursou até o sétimo período de direito. Aos 16 anos despediu-se do comerciante, mudando-se para Brasília, cidade inaugurada em 21 de abril de 1960, porém, cheia de canteiros de obras ainda em 1974. “Voltei depois para rever o patrão, fiquei amigo dos filhos dele, e a empresa foi comprada pela Bunge [agronegócios e alimentos”, conta.
Em Taguatinga
Foi morar em Taguatinga, ainda no tempo das “cidades-satélites”, e ali conheceu dona Irene, uma confeiteira de bolos que lhe ensinou um pouco mais, trabalhando também à noite. Faziam bolos com sabores abacaxi, chocolate, laranja e maracujá. “Ganhamos muito dinheiro. Dona Irene ainda vive lá”, diz o panificador com igual gesto de gratidão demonstrado a Manoel Português. “A gente abastecia os prédios da Construtora Venâncio, visitava os canteiros de obras e toda sexta-feira recebia as contas dos peões.
Sucesso do empresário que ajudou a criar a maioria dos irmãos quando
o pai morreu se deve à sua presença permanente na administração da rede
Entre suas reminiscências, ele cita um engenheiro civil que chegava aos canteiros com um saco de náilon abarrotado de dinheiro em cédulas. Ele descontava o fiado e pagava o pessoal, num clima de alegria. Dois anos depois, em 1976, na conclusão dos conjuntos Venâncio IV e V, no Setor Comercial Sul do Plano Piloto de Brasília, Francisco juntou o lucro da atividade e foi para Caicó, principal cidade da região do Seridó, no Rio Grande do Norte. “Montei a Panificadora Seridó, que é nossa [dele e de alguns irmãos] e depois uma filial em Santa Cruz no ano de 1979, onde fomos aperfeiçoando os bolos.
Um calote de R$ 20 milhões
Da Paraíba a Rondônia, Themontier moderniza panificadoras, agregando-lhes lanchonetes e abrindo mais empregos
A essa altura, as profissões de panificador e confeiteiro já corriam nas veias de Francisco. Em 1986, irmãos do sogro dele, Jeová Rozendo de Souto, já haviam montado a rede Panificadora Paraibana em Porto Velho.
Um dos irmãos de Jeová morrera em acidente em São João do Sabugi. Três anos depois, em 89, outro irmão do sogro o chamava para comprar uma das lojas que reformariam na Avenida Farquhar, no Bairro Pedrinhas. “Eu vimpra cá em 1º de março de 89. Deixei lá o meu sogro e dois cunhados – Marco Aurélio Pereira de Souto e Mucio Alexandre”.
Em 1990, quando o ex-presidente Fernando Collor de Mello fechou a Companhia Brasileira de Alimentos (Cobal), Francisco levou calote de R$ 20 milhões [valor atualizado, pois o real veio depois], ao deixar de receber pelo fornecimento de setecentas toneladas de biscoitos, correspondentes à lotação de dez carretas. Ação judicial contra o governo corre na Justiça Federal, para a restituição desse dinheiro.
Para não perder tudo, Francisco se desfez de alguns caminhões e foi embora. Dois cunhados ficaram tomando conta da loja da Farquhar e, em 1998 a viúva de Francisco Brilhante, irmão de Jeová, ofereceram a Francisco Themonthier a loja da Avenida Amazonas, sub-esquina com Rua Manoel Laurentino.
Pão sírio e pão de beterraba
“Aos pães e bolos tradicionais com venda no varejo, eu acrescentei o pão australiano, pão sírio, pão de beterraba, pão integral e pão preto. A lista de itens de fabricação própria passou de dois mil desde 2005”, explica.
“Sou cozinheiro, padeiro, confeiteiro e tenho centenas de receitas próprias”, orgulha-se. No turno de 24 horas trabalham 140 funcionários. Francisco trouxe confeiteiros da Paraíba, mas empregou muita gente de Rondônia.
A grande reforma deve ser concluída até 2017. Surgirá na Avenida Amazonas, nos 800 m² de área, um prédio com três pavimentos e com o dobro de funcionários na fábrica e no atendimento.
Para atender a essa ampliação será preciso contratar pelo menos mais cem funcionários. As três lojas têm 280. “Só de energia elétrica pago R$ 400 mil por ano”, revela.
O restaurante funcionará no segundo piso e no terceiro ficará o setor de produção. Lanchonete e panificadora atenderão às novas exigências de mercado, dentro da ótica de ocupar espaços. “E assim a gente vai servir rodízio de pizzas, massas e sorvetes”, anuncia. Sorte de Porto Velho ter empresários assim.
(*) Texto originalmente publicado no livro Fiero 30 anos – eles ajudaram a construir a história da indústria rondoniense (setembro de 2015).
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