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Montezuma Cruz

TURISMO: Pimenta Bueno espera recursos para mostrar riqueza no ecoturismo


Paraíso em Rondônia privilegia águas, fósseis e sítios naturais

MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
 
Saltos, vales, rios, canyons, cachoeiras, sítios fossilíferos e muitas paisagens naturais garantem espaço para o Estado de Rondônia no roteiro do ecoturismo. Contudo, esse inexplorado paraíso em Pimenta Bueno, o maior município pesqueiro da Região Norte, a 500 quilômetros de Porto Velho, espera recursos para se abrir aos visitantes. O Serviço Geológico Brasileiro-CPRM (sigla da antiga Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais) identificou essas atrações num município com imensas riquezas de atrativos, mas nem sequer mencionado em programas governamentais.
Inédita, a descoberta do SGB é hoje apresentada pela Agência Amazônia. Isso foi possível graças ao Programa Geoecoturismo do Brasil, que abrange a descrição de monumentos, feições e parques geológicos, afloramentos, cachoeiras, cavernas, sítios fossilíferos, patrimônio mineiro (minas desativadas), fontes termais, paisagens, trilhas e outras curiosidades ecoturísticas.
O Programa de Desenvolvimento do Turismo Regional (Prodetur) prevê o aproveitamento do potencial ecológico de forma conservacionista, procurando conciliar a exploração turística com o meio ambiente. No papel é uma beleza. Mas o “contato íntimo” do visitante com os recursos naturais da região ainda depende da verba oficial estadual e federal.
Enquanto não obtém recursos para se estruturar e receber turistas, Pimenta Bueno proporciona aos visitantes a sua Exposição Agropecuária e Industrial, em setembro próximo, promovida pela Associação Rural, com atrações regionais, shows artísticos e comidas típicas.
 
Desde as origens
Situado no Jardim das Oliveiras, a quatro quilômetros da cidade o Pontal é um dos maiores atrativos do município. Ali estão as ruínas do antigo posto telegráfico instalado em 1912 pelo marechal Cândido Rondon. ? um lugar histórico, porque nele se originou a Vila de Pimenta Bueno. No Pontal se encontram as águas dos rios Pimenta Bueno e Comemoração (ou Barão de Melgaço), dando origem ao Rio Machado, um dos mais importantes do estado.
O Vale do Apertado é outro local intensamente favorecido pela natureza, perceberam os técnicos do SGB. Cenários belíssimos e variados são vistos numa extensão de 3 a 4 quilômetros ao longo do Rio Comemoração. Ali se destacam os canyons, em trechos estreitados que chegam a alcançar até 1 metro em alguns lugares. As rochas formadoras do canyon originam uma passarela natural que permite percorrer boa parte desses trechos, aumentando a imponência do local. Alguns canyons têm até 60m de altura no leito do Rio Comemoração.
 
Cachoeiras, nascentes e cavernas
Tudo pode ser acessado por rodovia. As cachoeiras são formadas por quedas naturais do Rio Comemoração ao seccionar paredões de rocha arenítica de idade paleozóica (cerca de 250 milhões de anos atrás). Para os pesquisadores, uma delas, com uma queda escalonada superior a 20 metros merece referência.
A 70 quilômetros da cidade, a maior parte pela BR-364 (Rodovia Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco), as cavernas naturais originando abóbadas de até 20m de altura são favorecidas pela existência de fraturas seccionando camadas de arenito. No interior delas drenam pequenos igarapés ou nascentes, que fluem para o Rio Comemoração, ali próximo, a jusante.
Grutas na bacia do Igarapé Fleury existem há tempos, mas só agora são anunciadas pelo SGB e a Prefeitura Municipal de Pimenta Bueno. Ficam próximas à Usina de Calcário da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR)e possuem estalactites, estalagmites e formações pitorescas. Alguns igarapés permeiam essas cavidades. Sob a floresta foi construída uma pequena área de lazer para servir de apoio aos visitantes. Os técnicos aconselham a conservação e a introdução de melhorias que possam proporcionar um aspecto visual mais agradável. A colaboração de concessionários da lavra é bem-vinda.
 
Patrimônio cultural
A proteção das cavidades naturais subterrâneas, entre as quais as de Pimenta Bueno, estão asseguradas pelo Decreto Federal no 99.556 de 1o de outubro de 1990. O art. 1o estabelece: “As cavidades naturais subterrâneas existentes no Território Nacional constituem patrimônio cultural brasileiro e, como tal, serão preservadas e conservadas de modo a permitir estudos e pesquisas, de ordem técnico-científica, bem como atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo”. As cavernas são acessadas pela Rodovia Estadual RO-387 e pela Estrada do Calcário, ambas com boa condição de tráfego.
O Salto de Navaité é um conjunto de cachoeiras e corredeiras no Rio Roosevelt, sobre arenitos pertencentes à Formação Fazenda Casa Branca. Fica a 40 Km da mina de calcário da CMR. Suas cachoeiras têm até 10m de altura, tornando impraticável a navegação. O acesso é feito por vicinais na seca. São trafegáveis apenas nesse período.
A bacia do Rio Chico Bueno representa uma área de baixo índice de impacto ambiental, repleto de drenagens de águas cristalinas, recortadas por acidentes naturais que emolduram a região. A origem está associada a incidência de processos neotectônicos, rejuvenescendo a topografia e a própria rede hidrográfica.
 
Canyons e sumidouro
Os canyons são freqüentes trechos retilíneos e comprimidos do Rio Chico Bueno pelo entalhamento da drenagem em fraturas reativadas, reduzindo a largura do rio em até 2 ou 3m. Com acesso a partir do Vale do Apertado, a 70 Km de Pimenta Bueno, as quedas-d’água, de altura variável, alcançam até 15 metros e se assentam sobre rochas areníticas. Uma das cachoeiras visitadas pelos pesquisadores do SGB exibe um sumidouro natural, desaparecendo por uma extensão de 30 metros e novamente aflorando sob uma laje vertical de pedra. Dela se origina uma esplêndida piscina natural.
No Rio Pimenta Bueno se destacam as cachoeiras da Pedra Redonda, Rebojo e São Paulo. Quem quiser chegar lá tem que usar barcos de pequeno porte, a partir da cidade. No Rio Roosevelt despontam Quebra Canoa e do Simplício. Ainda no Roosevelt, mas a 2 Km, no município de Vilhena, vê-se a Cachoeira das Inscrições Indígenas. ? assim conhecida por causa das figuras esculpidas em suas rochas graníticas, representada por figuras espiraladas, em diferentes formatos e dimensões. Chega-se lá a partir das linhas vicinais, desde a Mina de Calcário da CMR, ou pela Aldeia Indígena dos Cinta-Larga, próximo ao Assentamento Canãa, a 40 Km da mesma mina.
As corredeiras estão associadas comumente aos trechos encachoeirados, acarretando alguma dificuldade na navegação, entretanto, a paisagem observada compensa plenamente essas atribulações, observam os pesquisadores do SGB. Vêem-se: cachoeiras, corredeiras, bancos de areia e moradias típicas. Parte da vegetação primitiva está intacta em suas margens, principalmente no Rio Roosevelt.
 
Praias e pesca
No período de estiagem, os rios amazônicos reduzem seu volume d'água, rebaixando sensivelmente seu nível fluviométrico. Com isso, provocam o aparecimento de trechos dos rios margeados por praias arenosas, propícias a atividades de lazer. Nas proximidades do encontro das águas dos rios Pimenta Bueno e Comemoração afloram diversas praias a 2 ou 3 Km da cidade, freqüentadas por moradores locais e visitantes, dada a facilidade de acesso, qualidade das águas e atrativos do local.
A montante desses rios existem outras praias igualmente atraentes. Para alcançá-las necessita-se de embarcações. Ao mesmo tempo, a pesca amadora
recebe muitos visitantes nos principais rios do município, notadamente na estiagem. Os rios Machado, Pimenta Bueno, Comemoração e Roosevelt são os mais freqüentados. São criados em cativeiro o tambaqui, pacu, curimatá, associados com espécies exóticas, principalmente carpa e tilápia. O empreendimento melhor sucedido é a Piscigranja Boa Esperança, a 4 Km da cidade, na RO-010. Possui um centro de reprodução de peixes com a venda de póslarvas e alevinos; diversos tanques servem de depositário de peixes com algum crescimento, suprindo posteriormente os mercados local e vizinho.
Constitui-se em uma alternativa de entretenimento aos visitantes por se constituir de uma área preservada parcialmente em sua vegetação nativa, com tanques repletos de peixes, amazônicos ou não, e a possibilidade de observar as várias fases de seu desenvolvimento,
 
Parque Natural
A 33 Km da cidade, pela RO-010, pavimentada, o visitante poderá conhecer o Parque Natural, mantido pela administração municipal. Com área de 6 Km2, ele conserva a vegetação original, a flora e a fauna locais. Igarapés permeiam o seu interior. Possui 8 km de trilhas abertas na mata, que devem ser percorridos com o auxílio de um guia local. Diferentes tipos de árvores foram identificados. A infra-estrutura local ainda carece de melhorias.
No início do século passado a região era ocupada por um número expressivo de índios pertencentes à Nação Nhambiquara. Foram eles que mantiveram os primeiros contatos com a expedição do marechal Rondon. Com a colonização crescente, acelerada pela abertura da BR-364 (que já se chamou BR-29), os índios se afastaram em direção ao Rio Roosevelt, constituindo nos dias atuais a Reserva Indígena dos Cintas Largas, à direita desse rio. A aglomeração Cinta-Larga mais importante é a aldeia localizada a montante da confluência dos rios Roosevelt e Kermit, próxima da Cachoeira do Simplício. Cerca de cem índios ainda preservam os costumes dos ancestrais. Eles já desfrutam de energia elétrica.
No Igarapé Cipó existe um afloramento rochoso perto da ponte que divide os municípios de Pimenta Bueno e Cacoal. Ali também existem cavidades de forma cilíndrica, retrabalhadas possivelmente por antigos habitantes e que poderia servir como objeto para moer alimentos. Chega-se ao local pela RO-383, que une a cidade de Cacoal à vila de Jaboti.
O levantamento do SGB propõe, com a anuência da Fundação Nacional do ?ndio, um programa de visita à aldeia, para apreciação de sua cultura e forma de viver. Isso, conforme os pesquisadores representaria uma “alternativa esplêndida de turismo”. O acesso pode ser feito por estradas vicinais, a 45 Km da mina da CMR, no sentido nordeste.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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