Quarta-feira, 24 de setembro de 2014 - 15h33
MONTEZUMA CRUZ
A miopia opcional e os interesses patronais impedem a prática do jornalismo esclarecedor, para vergar-se ao “ibope a todo custo”.
Mais de 30 escolas de Porto Velho são atacadas por ladrões –mostra a TV Globo. Escolas assediadas por gangues não são exclusividade de Porto Velho. No entanto, elegeram esta cidade como exemplo dessa tragédia social.
Em Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT), ambas com mais de 800 mil habitantes, houve ocasiões em que ladrões não apenas roubaram o botijão de gás, porém, sequestraram merendeiras. Paralelamente ao tráfico de drogas nos portões e intramuros.
Porto Velho, capital de Rondônia: no Bairro Jardim Santana, a escola Ulisses Guimarães é a plataforma do voluntariado de soldados da PM que ensinam canto, desenho, defesa pessoal e civismo. Alunos do curso noturno ouvem sucessivas palestras antidrogas e também sobre sexo, solidariedade e cidadania.
Nunca mais ninguém entrou ali armado de faca e revólver, situação anteriormente ocorrida nessa Porto Velho (480 mil habitantes) pós-usinas do Rio Madeira. Poucos sabem disso.
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lucas, 10, 1-9). É preciso fortalecer o voluntariado, tido e comprovado como uma das mais autênticas bandeiras da sociedade brasileira.
Lamentavelmente, existem pais que “depositam filhos nas escolas”, transformando o educador em psicólogo, farmacêutico, enfermeiro, mães e pais em crecheiros, babás etc. Se querem moldar caráter do filho, devem promovê-lo em casa. Parem de confundir o papel da família e o papel da escola!
Não existe uma guarda nacional para estabelecimentos escolares no cronograma de trabalho do Ministério da Educação. Pais deveriam participar permanentemente das atividades escolares. Infelizmente, eles abrem a boca com enorme facilidade para denunciar a violência da qual nem as escolas públicas escapam. O fardo pesa.
Precisamos prestigiar a PM, reconhecendo o seu valor, melhorando o seu orçamento para que ela possa sustentar o voluntariado em outras escolas.
Em 2012 cobri uma reunião do Conselho Comunitário da Região do Lagoa (15 bairros), em Campo Grande. O que as mães pediam? – Guardas municipais para impedir a entrada de traficantes.
Em 2010, a taxa de homicídios em Porto Velho alcançava 49,7% por 100 mil habitantes. Muitos jovens dependentes químicos morreram. A capital ocupava então o nono lugar na classificação das “mais violentas do país”. No primeiro ano do governo atual, a taxa caiu para 29% por 100 mil habitantes, saindo do nono lugar para a 20ª posição nesse ranking. Atualmente está na 18ª posição. (Dados do Instituto Sangari, com o qual trabalham a Secretaria Nacional de Segurança Pública e a Secretaria de Segurança, Defesa e Cidadania).
Em debate televisivo na atual campanha, o candidato ao governo Padre Ton (PT) denunciou que ultrapassavam R$ 50 milhões por ano os contratos firmados com empresas familiares de vigilância ligadas ao senador cassado por compra de votos, atualmente candidato ao governo, Expedito Júnior (PSDB).
Durante oito anos do governo do atual senador Ivo Cassol (PP), Expedito manteve alegre e produtiva parceria com o erário. Hipocritamente, ele critica “a ausência de segurança em escolas”. Desconhece a população que suas empresas constam na relação das maiores devedoras do Fisco Estadual.
Desde 1998, ex-governadores mantiveram inescrupulosos privilégios com detentores de grandes negócios. É uma terra onde já superfaturaram atémarmitex para detentos.
Estão expostas essas fedorentas mazelas, tais quais vísceras humanas e de animais. Empresários do setor enriqueceram-se com contratos milionários, superfaturados.
O governador Confúcio Moura, candidato à reeleição, rompeu-os, mandou instalar câmeras de segurança em escolas e estabeleceu o pregão eletrônico pela Superintendência de Compras e Licitações.
Atualmente, empresas de vigilância responsáveis por prédios públicos e privados em Rondônia recebem rigorosamente em dia do governo. Com desenfreada ganância, seus donos há cinco meses não pagam empregados. Desesperados, esses infortunados vendem telefones celulares, pulseiras, relógios e cordões de ouro, a fim de comprar alimentos, pagar contas mensais de água e energia elétrica, e manter suas famílias com a mínima dignidade possível.
Vigilantes viviam e ainda vivem miseravelmente. O valor do ponto onde fica o trabalhador custa R$ 17 mil mensais para o Estado, enquanto ele recebe apenas R$ 900 mensais.
Prosperidade não é pecado algum para o ser humano. Descaramento e assalto ao cofre pagador do Estado, sim.
Vi histórias semelhantes em Brasília, quando assessorei o então senador Amir Lando: empresas de limpeza e asseio pertencentes a “laranjas” de um ex-diretor do Senado Federal faturavam mais de R$ 3,5 mil por pessoa, pagando-lhes apenas R$ 800.
Basta de cinismo. Revogam-se as disposições em contrário.
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