Sexta-feira, 27 de janeiro de 2023 - 09h38
Onças e índios que se cuidem, a motoserra chegou. Com esse mote, quase 40 anos atrás o saudoso jornalista José Roberto Alencar, o Zé Grandão, espantava-se com o alto índice de derrubadas no município de Ariquemes, a 200 quilômetros de Porto Velho, algo que seria depois confirmado pelo Google Earth. Hoje, o Parque Botânico de Ariquemes é fonte de alimentos, sementes e mudas para reflorestamento, e remédios da natureza. Ele nasceu do antigo zoológico, cuja rotina de abandono não mais permitiu criar adequadamente animais de diversas espécies.
No final de 2022 a gerência florestal do parque computou a doação de 20 mil mudas e sementes de árvores frutíferas e de reflorestamento.
Olhar o interior do parque a todos redime dos anos 1970 e 1980, quando Ariquemes e região apareciam em imagens de satélite como recordistas em desmatamento.
Em quatro horas de serviço, Aurino dos Santos, 67 anos, produziu 560 mudas. Em dezembro, até o Natal foram mil.
A academia de ginástica ao ar livre recebe as pessoas e nos fins de semanas eles podem fazer piqueniques. O melhoramento foi instalado com R$ 55,5 mil de investimentos durante o governo do médico Confúcio Moura.
O lago de águas verdejantes claras tem quelônios, patos e peixes. O visitante presta atenção nas águas e se tiver sorte assiste a voos de araras, papagaios e tucanos. Também circulam nos arredores outros animais, entre os quais pacas e pequenos macacos. As derrubadas foram cruéis no passado, mas ainda há sobreviventes.
Lixeiras, pontes, passarelas, trilhas mesas e bancos construídos de madeira ilegal apreendida estão espalhados pelo parque. Caprichosamente manuseada pela mão de obra apenada, ela é um dos itens de remição de pena do programa “Construindo a liberdade.”
A cidade ganhou mais de oitocentas novas lixeiras graças ao projeto concebido no período em que Confúcio Moura foi prefeito e mais tarde remodelado na Secretaria Estadual de Justiça durante o governo dele.
SAI O ZOO, VEM O PARQUE
Anteriormente ao parque, a área sediava o zoológico municipal onde a maioria dos animais morria de doenças e de fome. O então prefeito Confúcio Moura fora muito criticado pela extinção do zoo em junho de 2, mas a continuidade era mesmo inviável, conforma constava o Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais e Renováveis ao flagrar animais maltratados e famintos.
Reunido com os companheiros de trabalho, Aurino dos Santos, baiano nascido em Camacã, exprime o sentimento de trabalho ali: “A gente gosta, e quando pode sempre faz mais, porque vem gente de longe buscar.” Ele chegou a Ariquemes em 1978, com quatro meses de casado, tendo hoje cinco filhos e “mais ou menos”, 20 netos e bisnetos.
Um grupo de apenados autorizados pela Vara de Execuções Penais e pela Secretaria Estadual de Justiça trabalha diariamente na fabricação de peças de madeira, dedicando-se ainda à transformação de pneus usados em bonitos objetos e enfeites.
Sob a vistosa samaúma (Ceiba pentandra), uma das maiores árvores do Brasil, a pequena equipe de seu Aurino atende às pessoas que vêm pedir mudas para o replantio.
TUDO DE GRAÇA
Um dos integrantes da equipe é outro veterano nesse serviço: o amazonense de Humaitá, Francisco Chagas Soares, 63, identifica plantas e árvores com facilidade. Escalador, coletando sementes e folhas lá no alto, Chico trabalha desde a administração municipal de Confúcio Moura.
Os produtos do parque são gratuitos, informa o secretário municipal de meio ambiente Vilmar Ferreira.
“Aqui tudo funciona olho no olho”, resume Ferreira, mineiro de Cataguazes formado pela Universidade Federal de Viçosa (MG). “Se percebemos boas intenções de quem pede, entregamos cinco mudas por CPF e de 20 a 30 para moradores em zona rural”, ele assegura.
Áreas de Preservação Permanente são atualmente assistidas pelo projeto “Renascer Nascentes”. De 150 nascentes cadastradas, cerca de 40 estão em fase de recuperação. Para esse trabalho, a Sema faz a mecanização das áreas, desobstruindo o que for preciso.
Todas as ações são financiadas com recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente. Esse segundo estágio foi alcançado após a criação da secretaria, que anteriormente não passada de um apêndice administrativo.
O valor arrecadado pela cobrança de taxas e multas por crimes ambientais é somado aos repasses do Poder Judiciário. “Só no passado foram R$ 200 mil”, informa o secretário.
“A prefeita Carla Redano teve ousadia e enxergou a necessidade de impulsionar esta equipe que já vinha trabalhando bem engrenada e com resultados bons”, ele comenta.
Com a gestão de Carla, a Sema obteve então orçamento próprio. E chamou a atenção do governo estadual, pois conseguiu desenvolver um projeto em parceria com a Secretaria de Agricultura e com apoio da Comissão Executivo do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
“Fomos conhecer viveiros pelo estado em 2022 para aprovar possíveis e prováveis fornecedores de mudas. Viajamos a Ouro Preto do Oeste, Santa Luzia d’Oeste e Seringueiras, conhecemos todos eles, são particulares”, relata
Em Ariquemes, o oiti (Licania tomentosa) é replantado em avenidas. Uma das árvores nativas mais adaptáveis aos diferentes climas tropicais do Brasil, ela pode chegar a 15 metros de altura.
RIQUEZA DA FLORA BRASILEIRA
A uvaia (Eugenia pyriformis Cambess), também conhecida como ubaia, uvalha, uvaieira ou uaieira), tem quatro vezes mais vitamina C que a laranja, é muito comum em pomares das regiões sul e sudeste, e pode ser utilizada em projetos de reflorestamento e paisagismo.
Por ordem alfabética, estas são as mudas de plantas arbóreas e frutíferas e medicinais cultivadas no viveiro: açaí, ata, buriti, cacau, coqueiro Fênix, cacau de macaco, castanha, cajá, cedro, coqueiro carnaúba, ingazinha, ingá-chinelo, ingá de metro, ipê amarelo, ipê branco, ipê rosa, ipê roxo, jaca, jacarandá bico de pato, jambo, jatobá, mogno, oiti, palmeira rabo de raposa, palmeira imperial, patuá, pinho cuiabano, sama e uvaia.
O jacarandá bico de pato (Machaerium nyctitans), melífera que alcança 18 m de altura e 6o cm de tronco, é reto ou levemente inclinado, alcança 2,5 m aos dois anos, servindo para varais, cabos de ferramenta e para a própria arborização. Antigamente foi usado na fabricação de cangas de bois.
Do mogno (Swietenia macrophylla), espécie madeireira mais valiosa e explorada do País, e agora uma das mudas distribuídas pelo parque, há novidades. Quatro anos atrás, pesquisadores de Minas Gerais desenvolveram uma espécie asiática geneticamente modificada e apropriada à região central de Rondônia.
Largamente explorado entre as décadas de 1960 e 1980 por madeireiros nas regiões noroeste de Mato Grosso (Juína, o centro) e sul de Rondônia, o mogno serve para a criação de móveis pela qualidade da madeira que a árvore produz. É resistente a ataques de cupins e ao apodrecimento.
Seu ciclo final chega a demorar décadas para estar apta ao corte e por ser um investimento muito demorado, há poucas adesões. Estima-se para cada hectare plantado o investimento inicial de R$ 50 mil nos primeiros quatro anos. A poda pode ser feita aos sete anos, quando é possível aos sete anos, e a nova poda aos dez anos.
Segundo o secretário Vilmar Ferreira, a virada ecológica do município começou no final da década de 1980 com aulas, palestras e farta distribuição de panfletos em escolas estaduais e municipais.
APOIO ROTARIANO
“Eu participei do Rotary Clube nas primeiras ações de arborização”, lembra-se o secretário.
Segundo ele, marcava-se com as escolas datas, hora e número de covas a serem abertas. “Mobilizados e até pressionados pelos filhos, pais de alunos começavam a cavar às 7h”. "Não tinha jeito e ficar mais tempo na cama, eles puxavam os pais pelo pijama", brinca.
Ferreira iniciou sua participação nos projetos ambientais no mandato do ex-prefeito e hoje deputado federal Thiago Flores (2016-2020). “Algumas vezes fui obrigado a tomar atitudes que o incomodavam, a exemplo da erradicação de uma castanheira antiga que causava iminente risco a quem transitava debaixo dela, mas ele deixou-me à vontade para agir”, conta.
Outra polêmica decisão sugerida pelo secretário se deveu, segundo a ele, ao equilíbrio climático: a Avenida Tancredo Neves tinha um canteiro de concreto totalmente substituído por grama. “Arrancamos tudo, e fui questionado por vereadores, aí tive que explicar em detalhes a importância da grama que veio possibilitar a drenagem da água da chuva, o que que não existia.”
A paisagem da avenida está modificada em aproximadamente 7 km, do Instituto Médico-Legal até a Avenida Capitão Sílvio Gonçalves Farias.
SERVIÇO
O Parque Botânico de Ariquemes funciona diariamente, das 7h30 às 17h30, inclusive nos feriados.
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