Sábado, 22 de janeiro de 2011 - 09h22
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
A PF apreenderia 21 tambores de benzina num caminhão Mercedes Benz, na Vila Carrão, Zona Leste de São Paulo, em 27 de fevereiro de 1985. Essa substância substitui o éter e a acetona no refino da cocaína. O responsável pela carga era o motorista Afonso Pedro da Silva, empregado do colombiano Camilo Rivera Gonzales, o Dr. Zé Luiz, dono da Agropecuária Guaporé, o QG da máfia em Vilhena.
Era esse motorista ousado que trazia de São Paulo para Rondônia os produtos vendidos pela Shell Química ao peruano Wilfredo Ruiz e usados pelo cartel colombiano em laboratórios escondidos na floresta da fronteira Brasil-Bolívia. Recebia três milhões de cruzeiros por viagem. A PF apurava que ele havia feito pelo menos dez, em oito meses.
Afonso “caía” na capital paulista, na mesma ocasião em que a PF localizava mais 23 tambores de éter na casa da amante do advogado da máfia, Nelson Secaf Filho, no município de Embu. Outros 21 tambores estavam camuflados na residência dele, no Bairro Jabaquara.
Por aí se vê que a organização distribuía as tarefas a pessoas-chave, desde os serviços advocatícios de Secaf às viagens com as cargas de produtos químicos que rumavam clandestinamente para a sede da Agropecuária Guaporé. Em menos de uma hora de viagem, eles eram desembarcados na floresta boliviana por hábeis pilotos de taxi-aéreo. Em depoimentos à PF, dois deles contaram como faziam as manobras.
Além das compras em indústrias do setor, o advogado também adquiria éter do Centro Médico Faria Lima. Sobrava, então, para o sócio-proprietário, o médico Antônio Elias Faissal, que seria detido e apontado como fornecedor, juntamente com o cunhado dele, Oscar Corvo. Julião Garcia Galache, dono de uma concessionária de automóveis; Rubens dos Santos, comerciante de armas em Miami (Flórida, EUA); e Nância Alves Gomes, funcionária de uma empresa de vidros, iam presos por conta dos negócios com os mafiosos.
Em 1982, três anos antes do “estouro” provocado pela Operação Eccentric, só em instituições bancárias do Panamá os investimentos dos grandes traficantes alcançavam cerca de um milhão de dólares por dia. A repressão à máfia custaria a vida do ministro da Justiça colombiano, Rodrigo Lara Onilla, em abril de 1984.
Naquela ocasião, dois grupos mafiosos dividiam as suas atividades: um enviaria a droga aos EUA, utilizando uma base na Espanha; outro atuaria no Brasil, escolhendo cidades fronteiriças, incluindo as de Rondônia.
Os mafiosos reinvestiam os fantásticos lucros do tráfico nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro e no Panamá. Quando ocorria a 50ª prisão, a PF e a Drug norte-americana esclareciam que a máfia colombiana se diferenciava da italiana por custear a aquisição de folhas de coca, a produção e a venda de cocaína.
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