Embora já tenha aparecido com as volumosas Memórias da Segunda Guerra, do líder inglês Wiston Churchill, parece que o único livro que Jair Bolsonaro leu (ou é o seu livro de cabeceira) foi A Verdade Sufocada, do coronel Brilhante Ustra, que foi chefe do DOI-Codi, o principal órgão de tortura de preso político durante a ditadura militar.
A incultura do atual presidente da república (de resto, a regra entre os ocupantes do cargo, com as devidas exceções), inclusive sobre a história do Exército Brasileiro, ao qual ele pertenceu até renunciar à carreira, ainda no posto de capitão, talvez explique o mal que ele está fazendo aos índios do Brasil.
Foram militares positivistas, à frente dos quais estava a figura exponencial do marechal Cândido Mariano Rondon, que levaram à criação de um órgão estatal, o SPI, para iniciar a tutela dos índios do país, ameaçados de extinção.
"Morrer se preciso for; matar, nunca", foi o lema que ele impôs ao Serviço de Proteção aos Índios. Ao ser extinto, o SPI estava minado por corrupção, incompetência e leviandade, mas não foi por culpa de Rondon. A Funai, que o substituiu, apesar de tantos erros, se saiu melhor, mas isso não agrada a Bolsonaro.
Obsessivo no combate lesivo aos índios, ele não quer que as terras indígenas se ampliem. Se possível, que sejam reduzidas. Como regra, que sejam incorporadas ao processo produtivo nacional, fundias às frentes econômicas que lambem seus limites territoriais e devastam as suas reservas.
Não tendo conseguido tirar a Funai da jurisdição do ministério da Justiça, Bolsonaro deu um golpe ainda maior: ontem, através de inconstitucional medida provisória, tirou a demarcação das terras indígenas do alcance da Funai. A fundação continua com o ministério da Justiça, mas aleijada, como seus tutelados.
Espera-se que o Senado, em gesto de grandeza e dignidade, devolva a MP ao executivo e a anule, impedindo que o apedeuta – mesmo em matéria militar – continue a tentar executar seus propósitos malignos.
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